No Morro da Imaculada, tem…
Texto de Renato Teixeira publicado no Jornal Contato edição 703
O Morro da Imaculada é uma espécie de atalaia de onde o caipirismo profundo, representado pelo povo vindo de Redenção, Lagoinha, São Luiz, e adjacências se posicionou discretamente com seus modos e costumes festeiros.
Há um certo pensamento tribal, que interage através dos artesãos e suas obras se misturando com danças e artes plásticas, criando um universo mágico e divertido.
Há também uma história delicada e bela contada pela simplicidade das coisas e a expressão das cores que partem do azul real para outras nuances.
A Imaculada não é mais como eu a conheci; não são mais as mesmas pessoas e são poucos os fornos residenciais para assar as figuras.
Essas coisas são assim mesmo: o tempo é profundamente transformador e dinâmico.
As boas tradições, aquelas que agregam e nos representam verdadeiramente, permanecem e vão se renovando com certa delicadeza.
No último domingo (23), lá estava eu novamente. Agora não era mais o garoto curioso que andava pelo morro em busca de alguma Congada, uma Folia, um Moçambique.
Não era mais um autor começando a carreira e querendo ouvir os ritmos e levadas, em busca de novas ideias.
Não era mais o menino que ficava conversando com dona Edwiges, enquanto ela ia pintando suas congadas.
A profissão para mim foi mais longe do que eu poderia imaginar; quis a sorte que eu conseguisse dizer algo de interesse do grande público.
Não me acho merecedor de qualquer gentileza por parte dos amigos da Imaculada, pois me sinto uma espécie de figureiro de canções. Fizeram-me uma linda homenagem, organizada por pessoas que amam Taubaté e veem na Imaculada um grande espaço para lazer, cultura e indústria criativa. Me surpreendi com a qualidade e a quantidade de novos artistas da terra de Celly. No sábado, a rapaziada subiu e cantou minhas músicas.
São artistas talentosíssimos e que amam música. Me senti um deles porque sei como é esse momento, quando a flor das melodias acaba de brotar numa manhã de luz.
No dia seguinte, domingo, antes da minha apresentação, aconteceu algo que para mim significou uma retribuição amorosa rosa a todos os meus amigos; a volta de Luiz e Theodoro, os Dois Turunas, ao palco depois de quarenta e cinco anos de ausência. Essa dupla é uma das mais importantes da cultura musical caipira.
O repertório que os Turunas cantam é absolutamente lindo. A maioria das canções é de autoria de Anacleto Rosas Jr, um mestre compositor de poesia emocionante e canções que são verdadeiras joias da alma cabocla. Era um sonho que eu tinha.
Não dá para escrever muito porque meu espaço na página não permite. Não faz mal; o importante é que eu possa agradecer emocionado ao carinho de todos. Que bom ver a Imaculada pulsando novamente com suas tradições. Que ela renasça mais forte, mais robusta, mais feliz. Lá de cima, Taubaté é mais bonita.
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