Na China é assim…
Quando eu era menino de escola primária, muita vez ouvi meu velho professor afirmar, referindo-se à China:
“País misterioso, cheio de lendas e de coisas originais.
Seu povo é muito sossegado. Sem pressa. E pouco se lhe dá que outros o deixem na rabeira do progresso. Tudo lhe é indiferente. E serve-lhe de característica princípua uma apatia milenária. Propalam até que a justiça, ali, tolera o crime, o roubo faz parte dos hábitos sociais…”
Isto ele dizia no primeiro quartel deste século, cometendo talvez uma grave injustiça. De qualquer forma, porém, se ainda hoje vivesse o simpático velhinho de quem, aliás, guardo comovidas recordações, talvez modificasse seu juízo sobre o país das muralhas tradicionais.
Prova de que a China acompanha a evolução social dos povos mais civilizados do mundo, temos neste simples telegrama há pouco divulgado:
“Notícias de Chanchung, capital do norte da Manchúria, dizem que três comerciantes de arroz foram fuzilados por terem elevado o preço da mercadoria.”
Fez como na França, onde se guilhotina o ladrão; como na Inglaterra, onde se fuzila; como nos Estados Unidos, onde se lhe dá uma cadeira elétrica…
E no Brasil?- indagará o leitor curioso.
No Brasil? Ora! No Brasil não há ladrões.
A Voz do Vale. Sábado 18/09/1948
[box style=’info’] Cesídio Ambrogi (1893-1974)
Nasceu em Natividade da Serra-S.P. Em 1904 muda-se com a família para Taubaté. Jornalista militante, colaborou, por meio século, em periódicos de São Paulo. Tomou parte ativa na vida artística e literária valeparaibana.
Em 1923 tem seu livro de “As Moreninhas” editado pela Monteiro Lobato Editores. A partir daí nasce uma amizade que, em parte, é registrada nas dezenas de cartas, ainda inéditas, que Lobato enviou ao escritor.
Em 1947 lança o livro “Poemas Vermelhos” prefaciado por Monteiro Lobato. A obra tem grande repercussão na crítica literária da época.
Fez parte do grupo de intelectuais que instituíram a “Semana Monteiro Lobato”.
Permeada pela poesia e pelo amor as tradições populares, a obra de Cesídio Ambrogi apresenta o dom poético e a arte de versejar que o fizeram um dos mais importantes poetas paulistas. [/box]