Maria Morgado de Abreu, a primeira dama da historiografia taubateana

 Maria Morgado de Abreu, a primeira dama da historiografia taubateana

Maria Morgado presenteou alguns milhares de Taubateanos com um tesouro pessoal e intransferível: a sua própria identidade taubateana. E fez isso da maneira certa. Popularizou um tema praticamente restrito a rodas intelectualizadas. Escreveu uma série de artigos e livros em que transpira sua paixão pela cidade e principalmente por sua gente. Todos que depois dela se lançaram no estudo de nossa história, tem em sua obra uma referência obrigatória (Muitos não admitem essa condição e até torcem o nariz para tais obras. Pura bobagem).
Também pesquisou o folclore local, recolheu receitas de pratos típicos, mergulhando no universo cultural do Vale do Paraíba, permitindo a todos saborear os seus significados mais íntimos, desvendar os segredos escondidos em seus pratos, aspirar o aroma suspenso em seus temperos. Pura arte.
Reverenciar Maria Morgado e sua obra é acrescentar um poderoso ingrediente na construção da verdadeira cidadania do taubateano, do valeparaibano, do brasileiro.
No último dia 10, o prof. Ocílio Ferraz prestou, dentro da Semana Gastronômica do Senac, uma belíssima homenagem a Maria Morgado baseando-se nas receitas do livro “A culinária tradicional do Vale do Paraíba”(editado pelo próprio Ocílio). Também escreveu um belo apontamento biográfico que tomo a liberdade de transcrever um pequeno, mas significativo trecho:
Maria Morgado de Abreu, em respeito aos seus infindáveis trabalhos em prol do patrimônio Taubateano e do Vale, recebeu no Centro do Patrimônio Mundial da Unesco, o título de “Defensora do Patrimônio da Cultura do muito glorioso Vale do Rio Paraíba do Sul”, título esse que foi oferecido pela primeira vez na história dessa instituição, em Paris, em 25/09/1998.

 

Farofa de Içá Torrado
(“…. A içá torrada venceu todas as resistências , urbanizando—se mesmo, quase tão completamente como a mandioca, o feijão, o milho e a pimenta da terra. Pretendeu-se que os jesuítas, no intuito de livrarem as lavouras da praga das saúvas, tivessem contribuído para disseminar entre os paulistas o gosto por essa iguaria. Nada há de inacreditável em tal suposição, uma vez que já os primeiros escritos de missionários inacianos em terra brasileira, mencionam a içá como prato saboroso e saudável. Nos meses de setembro e outubro, em que saem aos bandos essas formigas aladas, buscava-as com sofreguidão, nos seus quintais, a gente de São Paulo, e ainda em pleno século XIX, com grande escândalo, para os estudantes forasteiros, eram apregoadas elas no centro da cidade pelas pretas de quitanda, ao lado das comidas tradicionais: biscoito de polvilho, pés-de-moleque, furrundum de cidra, cuscuz de bagre ou camarão, pinhão quente, batata assada ao forno, cará cozido …“)
Sérgio Buarque de Holanda — “Caminhos e Fronteiras” — pg. 64.

Modo de fazer:
Limpam-se as içás das perninhas e cabeças. Em seguida, põe-se de molho em água e sal por cerca de 1/2 hora. Escorre-se bem e leva-se ao fogo, em frigideira com gordura mexendo-se sempre para não queimar. Quando estiverem bem torradas, acrescenta-se farinha de mandioca, mexendo-se sempre, resultando a farofa, já pronta para ser comida acompanhada de café. Se quiser, coloca-se em pequeno pilão, juntando-se farinha a gosto, daí resultando uma paçoca de içás.

Fonte: “A culinária tradicional do Vale do Paraíba” Maria Morgado de Abreu e Paulo Camilher Florençano

almanaqueurupes

1 Comment

  • muito bom esse tipo de historiadora, vou continuar lendo.

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