Jornalismo na veia

 Jornalismo na veia

Texto de José Diniz Junior

Minha avó Guilhermina Dupin Santos morreu em Taubaté em setembro de 1972 e está sepultada no Cemitério Municipal de Passa Quatro. Guilhermina casou-se com Sabino Ferreira dos Santos, em 1912, sendo a cerimônia civil na residência do coronel Arthur Tibúrcio, que foi a testemunha de Sabino, que era um construtor nascido em Lorena. A cerimônia religiosa foi na Igreja da Santa Casa da Misericórdia em Passa Quatro, construída por Sabino.  O casal teve os filhos: Jorge, Homero, Conceição, Celeste, Jupyra, Vicentina e Jacyra. Guilhermina era uma das filhas do francês George Charles Dupin, nascido em Montargis em 6 de agosto de 1841 que deixou Paris em julho de 1857, chegando ao Brasil em setembro do mesmo ano, com 16 anos. Foi trabalhar na Livraria Garnier, Rio de Janeiro.

Em 1873, acompanhou uma companhia teatral até Juiz de Fora, onde fincou raízes, casando-se com Guilhermina de Miranda Peixoto, filha de um fazendeiro. Foi grão mestre da maçonaria, professor de francês, e jornalista. Colaborou no jornal O Pharol, que combatia os fazendeiros escravocratas, conseguindo com isso fazer inúmeros inimigos. Quando o sogro morreu, George Charles Dupin alforriou os escravos, dizendo que “deixou a França fugindo da opressão, não permitindo oprimidos em seu teto. Nesse desideratum  grangeou afetos e ódios, ódios sem dúvida em maior número e decorrentes de interesses contrariados.

A Revolução Francesa provocou a derrota da Monarquia e a instalação de um governo Republicano, inspirando revoltas por toda a Europa.

•             Relata o jornalista Dormevilly Nóbrega no jornal Hoje em Dia, de Juiz de Fora:

“Quando a companhia teatral dirigida por Francisco Escudero chegou a Juiz de Fora por volta de 1873, trazia como secretário o senhor George Charles Dupin. Ao ser levada a cena o drama O Anjo da Meia Noite, a falta de um artista Dupin foi chamado a desempenhar o papel de certo boêmio e o fez com tamanha facilidade que conquistou gerais aplausos e simpatias”. Tomás Cameron, grande admirador do teatro, convidou Dupin a colaborar no jornal O Pharol onde passou a assinar a coluna Curvas e Zigue Zagues. Em setembro de 1873 Tomás Cameron transferiu a Leopoldo Augusto de Miranda, cunhado de Dupin, o termo de responsabilidade pela publicação do Pharol, que em 1875 passou a propriedade de George Charles Dupin que conseguiu dar-lhe feição liberal. Sob seu comando, a partir de 1882, foi distribuído três vezes por semana, mantendo a tradição de ser um dos jornais mais respeitados do Estado. Com problemas cardíacos, Dupin mudou-se para Lambari (que chamava-se Águas Virtuosas) onde fundou o semanário A Peleja, francamente devotado a defesa do partido que apoiava o governo de Prudente de Morais. Em 27 de janeiro de 1904 o jornal A Peleja registra em sua primeira página:

“Colhido por síncope cardíaca em meio aos labores a que a sorte ingrata ainda o impelia, baixou para sempre às sombras eternas, o velho amigo e companheiro, Charles Dupin, neto do conde de Pressé, de quem ainda conservava as armas”. Sua esposa, Guilhermina de Miranda, pelo resto de sua vida só se referia a ele como “o meu Charles”, como se ainda vivesse. Como intelectual, não foi feliz nas suas empreitadas comerciais. Costumava dizer aos filhos: “Se eu me dispusesse a fabricar toucas, certamente as crianças começariam a nascer sem cabeças”. Uma das anotações no “livro caixa” que mantinha, refere-se as despesas com a fazenda que sua mulher herdou do pai. Dizendo: “Mudamos da fatal fazenda, graças a Deus”.

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Em fevereiro de 1991 a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage – responsável pelo Museu Mariano Procópio me enviou a seguinte carta:

“Recebemos sua carta de dezembro passado sobre o jornal O Pharol. Informamos que o museu não possui a sua coleção e após pesquisas podemos informar que a Biblioteca Municipal Murilo Mendes possui a coleção do jornal de 1876 a 1832, sendo que os exemplares de 1876 a 1890 estão na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, para serem microfilmados, e os restantes estão em Juiz de Fora. Além dessa coleção existe outra do jornalista Domervilly Nóbrega, residente em Juiz de Fora. Charles Dupin foi proprietário do Pharol de 1875 a 1885. Essas informações foram fornecidas pela senhorita Eliane Cazarin, funcionária da Biblioteca Municipal. Atenciosamente – Arthur Arcuri. Diretor do Museu Mariano Procópio.

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* Jornal Hoje em Dia – Juiz de Fora – 16/7/1990

No dia 16 de maio de 1886 todo o Brasil ficou sabendo que Juiz de Fora tinha sido assolada por um violento temporal de granizo que deixou sobre a região uma camada de três centímetros de gelo. O fenômeno se tornou objeto de curiosidade nacional porque o jornal O Pharol fez ampla reportagem, reproduzida pelo Jornal do Comércio. O Pharol, seguramente a mais importante publicação da cidade no século 19 vai agora escapar da destruição total graças a decisão da Biblioteca Nacional  de preservar através da microfilmagem algumas coleções do jornal. Para esse trabalho, além do fundador Tomás Cameron, destacaram-se dois outros nomes que são presenças indispensáveis na história de nossa Imprensa: Charles Dupin e Leopoldo Augusto de Miranda.

Do século 19, além de alguns números desse jornal, que foi o mais famoso e o de mais longa duração, não só em Juiz de Fora, pouco ficou da Imprensa. Conta-se que as enchentes de 1906 e a de 1940 contribuíram para destruir o pouco que havia, o que aumenta a importância da microfilmagem.

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Das netas de George Charles Dupin e Guilhermina de Miranda, apenas Jacyra e Vicentina Dupin estão vivas. Minha mãe Jupyra, meus tios Homero, Jorge, Celeste (Cecé) e Conceição, já são falecidos. Vicentina aposentou-se no Detran do Rio, formou-se em jornalismo e mora atualmente em Passa Quatro, na rua do Rosário, na Feira, tendo colaborado no texto sobre nosso antepassado. Tia Jacyra mora com as filhas em Itanhandu.

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Se o caríssimo leitor tiver acesso ao meu primeiro livro – Diário da Tranca, saberá meus dissabores fazendo jornal em Taubaté há tantos anos, como um Don Quixote nascido nas Minas Gerais, pelejando sozinho contra moinhos de vento, com meu cavalo Rocinante, sem um Sancho Pança do lado. Ainda estou escrevendo minha história. Bisavô George Charles Dupin ficaria orgulhoso, com certeza.

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José Diniz Jr, 69, é editor do jornal Matéria Prima e autor do livro “Diário da Tranca”

 

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– Fiquei Invisível!

 

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