Georgina por ela mesma
“Sinto que nasci pintora e que para essa minha paixão estética muito concorreram as impressões da paisagem brasileira.” em depoimento no Livro A inquietação das Abelhas
““Freqüentei museus e procurei pintar, pintar muito, a todas as horas e a todos os instantes do dia. Nem mesmo quando meus dois filhos, Dante e Flamingo, eram pequenos, deixei um só dia de trabalhar. É o que faço sempre, constantemente, a todos os momentos.” lembrou em depoimento no Livro A inquietação das Abelhas
“Conheci Lucilio (…) Casamo-nos. Partimos pobremente, apenas com a bagagem de dois estudantes, para a Europa, onde vivi cinco anos. Em Paris os meus principais mestres foram Gervais, na École des Beaux-Arts, e Royer, no Curso Julien. Depois trabalhei por conta própria.” contou em depoimento no Livro A inquietação das Abelhas
“O homem procurará eternamente as expressões da beleza, pela forma, pela cor e pelo som, isto é, pela escultura, pela pintura e pela música. A preocupação da arte, que nos foi transmitida desde o homem primitivo, através de objetos e de pinturas, irá conosco e com os porvindouros, inevitavelmente, pelos séculos em fora”, disse Georgina, respondendo ao “O Malho” sobre o futuro das artes frente ao consumismo do homem, em março de 1934.
“Criar. Só o criador é artista! Os pintores ou escultores que copiam a natureza como uma objetiva fotográfica, não tem ideal ou não sabem o que seja ideal em Arte”, cutucando as escolas de arte que formavam “copiadores certificados”.
“Quando a mulher decide fazer alguma coisa nas artes ou nas letras, geralmente, faz muito bem”, sobre o papel das mulheres na cultura brasileira.
“A artista é, antes de tudo, mulher amorosa do seu lar e da família. Além disso, a artista sabe, mais do que qualquer outra mulher, encontrar tempo para tudo”, falando sobre a crescente participação da mulher nos movimentos artísticos brasileiros na década de 1950.
“Tendo casado com um artista pintor, o entendimento foi mútuo. Sempre respeitamos as tendências estéticas de cada um. O nosso nível de educação e cultura era o mesmo. Os trabalhos que o casamento acarreta à toda mulher, em nada prejudicou a minha carreira”, sobre o casamento com o pintor Lucilio Albuquerque para Revista Vida Doméstica, março de 1958.
Georgina de Albuquerque: a primeira impressionista
Por Almanaque Urupês
A taubateana Georgina de Albuquerque foi uma mulher à frente de seu tempo.
Considerada a introdutora do impressionismo no Brasil, Georgina nasceu em Taubaté, em 4 de fevereiro de 1885, e viveu em uma época em que a mulher não tinha o mesmo direito que o homem. Foi uma “mulher de República. Era sufragista e lutava pelo direito do voto da mulher”, descreveu seu neto João Lucilio de Albuquerque.
E como tal enfrentou muitas dificuldades ao longo de sua vida.
A primeira delas foi aos 17 anos quando teve que “confrontar” o diretor da Escola de Belas Artes, onde queria estudar.
“Ela tinha 17 anos quando pediu para um tio levar o primeiro quadro para ver se ela ia ser aceita na escola de Belas Artes. E o tio volta um mês depois dizendo, olha o seu quadro não foi aceito porque eles acharam que era bom demais para uma principiante e que isso deveria ser uma cópia. Ela volta para o Rio de Janeiro com o tio e consegue uma audiência com Henrique Bernadelli (diretor da instituição) e fala olha eu não sou copista, para provar isso eu vou pintar o seu retrato porque eu mereço entrar na escola de Belas Artes. E ela pintou o retrato dele e entrou na escola de Belas Artes”, conta Maria Beatriz de Albuquerque neta de Georgina.
Na Escola conheceu o artista Lucilio de Albuquerque, com quem viria a se casar e por quem abandonou o primeiro ano do Curso na instituição para se mudar para Europa, onde viveu por cinco anos.
No Velho Continente recebeu uma “segunda formação” e especializou-se no impressionismo, movimento artístico que preocupava-se com a luz e seus efeitos.
“Georgina entregou-se de corpo e alma à visualidade impressionista, que parecia atender nitidamente à sua sensibilidade como pintora e sua seleção de temas, que permitiam à ela trabalhar os efeitos de luz ao ar livre”, explica o livro Vozes Femininas.
Com dois filhos pequenos no período, nunca deixou de trabalhar.
“Freqüentei museus e procurei pintar, pintar muito, a todas as horas e a todos os instantes do dia. Nem mesmo quando meus dois filhos, Dante e Flamingo, eram pequenos, deixei um só dia de trabalhar. É o que faço sempre, constantemente, a todos os momentos”, contou a artista.
Georgina foi “uma artista que soube negociar com as expectativas sociais que se tinha em cima da mulher artista. Que é ser competente, mas jamais negligenciar as funções maternais e as funções de esposa. Isso era uma estratégia importante de sobrevivência, de afirmação, da mulher no espaço público daquele momento” ressalta Ana Paula Simonete, do Instituto de Estudos Brasileiros.
Em 1922, já no Brasil, fez a primeira pintura histórica realizada por uma mulher no país: o quadro “Sessão do Conselho do Estado que decidiu a Independência” que hoje está no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro.
Trinta anos depois quebrou outra regra e tornou-se a primeira mulher a ser diretora da Escola de Belas Artes.
“Ela modernizou a escola. Foi a primeira mulher que contratou artistas modernos para dar aula na Escola”, ressalta João Lucílio.
O sucesso da artista, segundo o livro Vozes femininas, é resultado “da liberdade ao pintar, aliada a personalidade frágil, decidida e opinática, que fez com que Georgina de Albuquerque fugisse à condição usual de amadora imposta às mulheres as atividades artísticas no Brasil e ocupasse muitos cargos importantes ao longo de sua carreira, prefigurando um outro destino institucional para a mulher no terreno das artes plásticas brasileira.”
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Bibliografia:
Livro Vozes Femininas, Flora Süssekind,
Documentário Mulheres Luminosas
Site Almanaque Urupês [/colored_box]