Geny Marcondes

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Geny Marcondes por ela mesma

“Minha mãe falava para as visitas que eu era precoce. Achava aquilo horrível porque não sabia o que significava a palavra precoce. Tinha a impressão que era doença, alguma coceira.”

“Eu passava o dia todo sentada no chão, em frente a uma quina de parede, com a perna aberta e um livro apoiado nela. Minha mãe me mandava comprar armarinhos e eu levava tudo errado. Ia como uma sonambula, com o livro na cabeça e doida para voltar e terminar a leitura.”

“Todos os sábados, a lavadeira ia buscar roupas para lavar.  Então, a mamãe fazia uma enorme trouxa. (Dali) eu tirava os figurinos. É lógico que eu era a estrela do teatro. Subia em um caixote e as outras meninas sentavam no chão, enquanto me abanava com um galho de  sabugueiro ou jabuticaba, andava de um lado para outro e fazia a minha performance.”

“Uma grande figura que eu jamais esquecerei é o Fêgo Camargo. Ele era um grande artista. Uma pessoa adorável, que me levou a tocar piano profissionalmente.”

“Resolvi escrever da minha cabeça, um método de piano para meus alunos, porque achava que os que existiam até então eram muito antiquados.”

“Eu não queria ser apenas pianista, porque isso não me satisfazia. Eu queria criar, queria ser compositora.”

“Naquela época casar com um homem desquitado era considerado algo escandaloso.”

“Eu telefonei para o meu pai, que foi ao Rio acompanhado da minha mãe, da minha irmã e do noivo dela. Foram ler os papéis e viram que es estava casada pelas leis do México.”

“Eu me adaptei perfeitamente à TV. Foi ótimo, porque nós recebíamos muitas crianças das escolas públicas na rádio e dávamos festas  temáticas no auditório, com roupas típicas, teatrinho com bonecos, e tudo isso era transmitido pela emissora, mas ninguém via, só podia escutar através do rádio. Na TV  era a mesma coisa, mas os espetáculos podiam acompanhar o que eu passava no auditório.”

“Os meus contos sempre se baseiam na realidade, em coisas que aconteceram na minha vida.”

“Sempre gostei de música, teatro, cinema, artes plásticas e literatura. Uma coisa puxa outra.”

Trechos retirados do livro “Uma vida em sol maior: lembranças, histórias e peripécias de Geny Marcondes” do jornalista Francisco de Assis.

Geny em 1945 (primeira foto) e em 1947. Imagem: Livro Uma vida em sol maior
Geny em 1945 (primeira foto) e em 1947. Imagem: Livro Uma vida em sol maior

 

 

Geny com ex-alunas Imagem: http://arquiartista.blogspot.com.br/
Geny com ex-alunas Imagem: http://arquiartista.blogspot.com.br/

Com a compositora Beta Sá Imagem: betesa3.blogspot.com
Com a compositora Beta Sá Imagem: betesa3.blogspot.com

Geny Marcondes, prefessor Luiz Gonzaga e Paulo de Tarso Imagem: Jornal Contato
Geny Marcondes,  Luiz Gonzaga e Paulo de Tarso Imagem: Jornal Contato
Geny Marcondes entre Duda Mattos, gerente de Cultura da prefeitura, e Ana Lícia Vianna Imagem: Jornal Contato
Com Duda Mattos e Ana Lícia Vianna Imagem: Jornal Contato

Geny Marcondes

Por Almanaque Urupês

Nascida em 05 de maio de 1916,  Geny foi uma artista completa, multimídia, muito antes de inventarem esse termo. Transitou com desenvoltura por várias plataformas de comunicação. Atuando como compositora, arranjadora, escritora, poetiza, jornalista, ou artista plástica, nunca se intimidou diante das novas tecnologias.
Em 1927, ainda vivendo em Taubaté, acompanhou a orquestra de Fego Camargo musicando filmes mudos. Os filmes sonoros acabaram com a festa.Mudou o foco adaptando o Sítio do Picapau Amarelo em forma de opereta. O resultado, elogiado pelo próprio Monteiro Lobato, abriu os horizontes profissionais de Geny.

O bilhete enviado por Lobato é bastante esclarecedor:

“D. Geni: Quer minha opinião sobre os números musicais que compôs para a minúscula opereta NARIZINHO? Não sou músico, vou logo avisando, mas também não sou nenhum paralelepípedo. Achei ótima essa música porque ela é uma leve estilização de velhas musiquinhas populares que tanto ouvi em menino (…). Pareceu-me tão bom o arranjo, tudo se casou tão bem com o espírito daqueles personagensinhos (..).Adeus, dona Geni. Desejo-lhe um merecido triunfo.
Do admirador atento,
Monteiro Lobato”

Geny sempre repetia que devia sua aposentadoria ao autor de “Reinações de Narizinho”.Mudou-se para o Rio de Janeiro e foi contratada pela Rádio MEC para consolidar a programação infantil da emissora. Criou programas campeões de audiência, que se serviram de modelo para gerações de produtores.
Lançou e influenciou artistas do primeiro time. Chico Anysio estreou profissionalmente sob a direção de Geny.
Nos anos 50, migrou para a recém-inaugurada televisão. Foi premiada como melhor produtora de rádio e televisão. Com o advento da fita magnética, provocou a imaginação das gerações que ouviram a coleção de discos infantis Carroussel.
Nos anos 60, tornou-se a primeira mulher arranjadora musical no Brasil. Seus êxitos estão devidamente registrados pelos estudiosos do tema. Na década de 70, emprestou seu talento para o cinema. Destaque para o premiado “Marcelo Zona Sul” (1970), musicando em parceria com Denoy de Oliveira.
Também foi roteirista de histórias em quadrinhos. As aventuras do Coelho Ronaldo, uma HQ que vinha acompanhada de um disquinho, foi um fenômeno de vendas. Unindo música e imagem criou o curso multimídia Ver/ Ouvir, um precursor.

Nos anos 80, mudou-se para Petrópolis, destacando-se como artista plástica e coordenou a criação do centro cultural. Em 1988, a cidade viveu uma tragédia só superada pela calamidade de 2011. Geny feriu-se, perdeu a casa e pertences. Abalada, voltou para Taubaté.
Nos últimos 20 anos, dedicou-se a literatura e à pintura. “Leda e o pavão de Fellini: contos de amor e desamor”, de 2003, demonstra o vigor e o lirismo da artista.
No último domingo, Geny Marcondes morreu. Muitos só souberam da notícia pela imprensa. Uma pena. O consolo é que na internet, Geny está ganhando nova vida. Na rede é possível encontrar livros, filmes, reportagens e fotos que comprovam a gigantesca estatura cultural de Geny. E nesse quesito, Taubaté não está fazendo feio.

 

Veja também:

– Transcendência, cor e fantasia nas telas musicais de Geny Marcondes

– Lembranças de Geny Marcondes

Geny Marcondes (Itaú Cultural)

 

Escute alguns dos trabalhos de Geny aqui 

 

[colored_box color=”yellow”]Bibliografia

Livro “A vida em sol maior: lembranças, histórias e peripécias de Geny Marcondes, Francisco de Assis

Acervo Almanaque Urupês

Dicionário Itaú Cultural  [/colored_box]

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