FRANCISCANOS EM TAUBATÉ
Por Amanda Oliveira Monteiro
Taubaté foi elevada a categoria de vila em 05 de dezembro de 1645, com o nome de Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté. Algumas décadas depois, os moradores de Taubaté solicitaram a presença de religiosos franciscanos para que construíssem um convento. O motivo não se sabe ao certo, talvez quisessem dificultar a vinda dos jesuítas, que interferiam na administração temporal dos sítios e se opunham a escravização dos gentios, ou porque como o padroeiro da então vila era São Francisco, devessem ter na região, franciscanos para participar da vida religiosa do povo. Segundo frei Basíio Rower, foram feitos pedidos da Câmara e do povo para a vinda dos frades franciscanos e os mesmos aceitaram pois, “tendo os Franciscanos já antes freqüentado a localidade pela amizade que os ligava a Jacques Felix, fundador da povoação, ereta em vila no ano 1645”. O certo foi que em 1674 foi passada a escritura em que os oficiais da Câmara se comprometiam a construir o prédio que iria abrigar os religiosos de São Francisco, Menores Observantes da Província da Imaculada Conceição, residentes no Rio de Janeiro no Convento de Santo Antonio. O edifício levaria o nome de Santa Clara.
Seu primeiro guardião foi frei Jerônimo de São Brás e aos frades foi dado direito de escolherem o terreno que lhes conviesse. Escolheram em uma colina um pouco distante do centro da cidade para que fosse edificado o Convento. Os religiosos ficaram responsáveis de catequizar dos índios, e depois de concluído a obra do convento muitos religiosos se dirigiram à vila. Os religiosos recebiam inúmeros escravos que eram doados pelos moradores, muitas vezes velhos e rebeldes. Recebiam também terras que aumentavam seu território, para que pudessem ter madeira suficiente para suas necessidades.
No Testamento de João Delgado de Escobar de 1676, ocorre a primeira referência sobre o convento e dos franciscanos, no qual ele pede para ser enterrado dentro da Igreja do Convento de Santa Clara com o hábito de São Francisco, costume esse muito comum no período colonial. Percebe-se com esta data que em 1676 o convento já era freqüentado pelos moradores da vila e era local que manifestavam sua religiosidade.
Muitos moradores da vila optaram pela vida religiosa franciscana. Entre eles ,Antônio de Melo Freitas, filho de Timóteo Correa de Toledo e de Úrsula Isabel de Melo. Em 1761, contando mais ou menos 17 anos, Antonio foi aceito na ordem dos Franciscanos que moravam no Convento de Santa Clara de Taubaté e logo depois enviado para o convento de São Paulo para o noviciado. Ao professar seus votos, em 1762, passou a levar o nome de Frei Antonio de Santa Úrsula Rodovalho. Entre várias nomeações em sua vida religiosa, em 1810 foi nomeado bispo de Angola. Morou muitos anos no Rio de Janeiro, e há relatos de que foi confessor de D. Maria I. Era um grande pregador e no Acervo do Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, contém um exemplar de sua pregação de 1790.
Na mesma época, em 1760, sabemos que Antonio de Sant’anna Galvão, optando também pela vida franciscana, veio até a vila de Taubaté para pedir aos frades para entrar na Ordem, indo fazer noviciado no Rio de Janeiro.
Desde as leis proibitivas de Marquês de Pombal à lei de 1855 que proibia a aceitação de noviços, as ordens sofreram uma grande crise que atingiu os Menores Observantes do Rio de Janeiro e conseqüentemente os franciscanos do Convento Santa Clara. Segundo Beozzo, houve diversas tentativas de salvar as ordens religiosas brasileiras, mas até o fim do império essas ordens iam perdendo seu vigor. Uma das conseqüências desse enfraquecimento foi a “desnacionalização” dos religiosos, substituídos por ordens européias. Frei João do Amor Divino Costa foi um dos religiosos que lutou para conseguir meios para que a ordem não acabasse, pedindo para “os franciscanos brasileiros o direito de trabalhar na catequese dos índios, para o que se precisavam reabrir os noviciados. Foi-lhes negado tal direito quando o Governo imperial incentivava sempre mais a vinda de religiosos da França e da Itália.”
Em 1832 havia somente dois frades morando no convento Santa Clara e o último guardião foi frei Joaquim das Dores que morreu em 1868. Antes de morrer, porém doou o terreno do chamado largo da Palmeira, atual Praça Coronel Vitoriano, feita por meio de uma carta dirigida à Câmara taubateana. Depois de seu falecimento o convento ficou vazio e não tendo mais nenhum frade, o Convento ficou sob a responsabilidade de um Sindicato, nomeado pelo provincial, frei João do Amor Divino. Segundo o Auto de Exame, Vistoria e Indagação, encontrado no Arquivo Histórico Municipal de Taubaté, o edifício sofreu um incêndio no dia dezessete de setembro de 1843 e não 1842 como afirmou o Doutor Félix Guisard Filho (1938, p.67), que o deixou praticamente em ruínas. Não se importando com as condições do prédio, no ano de 1847 o Convento abrigou um Liceu Público, que funcionou até 1852, com freqüência de mais de 80 alunos.
Frei Caetano de Messina, franciscano capuchinho, foi um desses religiosos estrangeiros que faziam missões por todo o Brasil. Em 1876 esteve em Taubaté onde ministrou os sacramentos, fez sermões, mudou o dia da feira que era aos domingos para os sábados, ergueu cinco cruzeiros em cinco pontos da cidade, incentivou a idéia de se fazer um colégio para meninas (O Colégio Bom Conselho) entre outras ações. Graças ao trabalho desenvolvido por este frade, foram intensificadas as obras de restauração do Convento de Santa Clara, que permaneceu fechado até 1887, quando foi instalado o Instituto de Artes e Ofícios, fechado logo depois devido à crise econômica pelo qual passou o país nos primeiros anos da República.
No ano de 1890, Dom José Pereira da Silva Barros, vigário Antônio Nascimento Castro e Dom Lino Deodato começaram a se mobilizar para trazerem os frades capuchinhos trentinos que faziam missões pelo oeste paulista, com residência em Piracicaba. Bom, essa história já contamos aqui.
Taubaté sempre contou com a presença de franciscanos desde o período colonial e essa presença, muitas vezes até imperceptível, influenciou na cultura, na religião e nos costumes dos taubateanos.
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Amanda Valéria de Oliveira Monteiro é formada em História pela Universidade de Taubaté. Mestranda em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Trabalha no Arquivo Histórico Municipal Felix Guisard Filho com documentos datados a partir do Século XVII.
1 Comment
BOA TARDE!
QUEREMOS SER FRANCISCANOS DE TERCEIRA ORDEM !
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