Eu e Ney

 Eu e Ney

Texto de Renato Teixeira

Publicado originalmente no jornal Contato 676

Não me lembro onde, nem quando, eu e Ney nos conhecemos. Desconfio que tenha sido num pequeno campinho de futebol que havia ao lado de nossas casas. Éramos vizinhos e viramos amigos para sempre. Temos temperamentos parecidos, estamos sempre dispostos e de bem com a vida, na medida do possível. Mas não vou fazer uma retrospectiva afetiva da nossa amizade porque ela não foge do padrão clássico das relações confiáveis. O que realmente me fascina é a imprevisibilidade dos encontros e seu poder sobre nossos destinos.
Numa certa idade, quando a vida é nossa melhor amiga, saímos pelas ruas da cidade como se fôssemos os donos dela. Naquele momento, nossos interesses, os meus e os do Ney, eram os mesmos; oscilávamos entre a timidez e a ousadia. Um sorvete de limão coberto com groselha na sorveteria do Dico ou a excitação diante das possibilidades juvenis de uma conquista, tudo sob a ótica da dignidade dos adolescentes masculinos. Os meninos não gostam de pagar mico. Rapazes gostam de estar cheirosos, gostam de ser reconhecidos como promissores nos esportes, gostam da prática ingênua da rebeldia utópica e, principalmente, gostam dos olhares fugidios das garotas. É nesse momento que elaboramos nosso caráter social. Mas, para que possamos agir em segurança, a casa materna/paterna representa um refúgio protegido pelos argumentos familiares e seus valores estabelecidos. Cada casa tem suas particularidades e suas regras. Quase não pensamos sobre o significado de se possuir um amigo verdadeiro; eles apenas são e pronto. Se raciocinarmos sobre esse evento afetivo, veremos nele uma característica humana capaz de suavizar a travessia existencial. Dentro de nós mesmos “visualizamos” nossa capacidade de doação com sinceridade.
Os primeiros amigos de um homem são referências pro resto da vida. Com o Ney, aprendi a sonhar. Sonhávamos com a Vespa do Robertinho Dias, sonhávamos com uma carteirinha de sócio do TCC, com a Mercedes vermelha do Roman Jr, com o Chevrolet azul e bege do Téio, sonhávamos em estar ao lado do Celinho e do Marta “comendo  a bola” no futebol de salão, sonhávamos também com o olhar meigo da Eliana Bolachinha, a morenice brejeira da Liginha e a loirice alemã de Lilian Orlof. E sonhávamos sim, com um futuro
promissor para nós mesmos. Uma vez eu e Ney ficamos de mau. Entretanto, continuamos a nos ver e a sair juntos; meio distantes, mas um do lado do outro. O detalhe que deixava claro que estávamos de relações cortadas era o fato de não nos chamarmos mais pelos nossos nomes; eu chamava ele de Zé e ele me chamava de Zé. Essa margem Não me lembro onde, nem quando, eu e Ney nos conhecemos. Desconfio que tenha sido num pequeno campinho de futebol que havia ao lado de nossas casas. Éramos vizinhos e viramos amigos para sempre. Temos temperamentos parecidos, estamos sempre dispostos e de bem com a vida, na medida do possível. Mas não vou fazer uma retrospectiva afetiva da nossa amizade porque ela não foge do padrão clássico das relações confiáveis. O que realmente me fascina é a imprevisibilidade dos encontros e seu poder sobre nossos destinos. Numa certa idade, quando a vida é nossa melhor amiga, saímos pelas ruas da cidade como se fôssemos os donos dela. Naquele momento, nossos interesses, os meus e os do Ney, eram os mesmos; oscilávamos entre a timidez e a ousadia. Um sorvete de limão coberto com groselha na sorveteria do Dico ou a excitação diante das possibilidades juvenis de uma conquista, tudo sob a ótica da dignidade dos adolescentes masculinos. Os meninos não gostam de pagar mico. Rapazes gostam de estar cheirosos, gostam de ser reconhecidos como promissores nos esportes, gostam da prática ingênua da rebeldia utópica e, principalmente, gostam dos olhares fugidios das garotas. É nesse momento que elaboramos nosso caráter social. Mas, para que possamos agir em segurança, a casa materna/ paterna representa um refúgio protegido pelos argumentos familiares e seus valores estabelecidos. Cada casa tem suas particularidades e suas regras. Quase não pensamos sobre o significado de se possuir um amigo verdadeiro; eles apenas são e pronto. Se raciocinarmos sobre esse evento  afetivo, veremos nele uma característica humana capaz de suavizar a travessia existencial. Dentro de nós mesmos “visualizamos” nossa de boa vontade muitas vezes me ajudou, vida afora. Às vezes é preferível chamarmos o outro de Zé do que rompermos  definitivamente uma amizade. Ficaria aqui horas e horas exemplificando o quanto foi substancial na minha vida a amizade com Ney. Éramos dois meninos que se achavam conquistadores, belos e craques em qualquer modalidade. As coisas podem não ter saído como planejamos; saíram melhores ainda. Agora, todas as poucas vezes que eu me encontro com Sidney Ragazzini, a impressão que temos é a de um tempo encarcerado num ambiente de sonhos que nem eu nem ele desejamos que acabe. Depois de anos a gente se reencontra e conversamos como se tivéssemos nos visto ainda ontem. Pense nisso, reavalie certas coisas em sua própria biografia e procure  entender o quanto nós dependemos uns dos outros para sermos felizes.

 

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