Espaço: a fronteira final
Nos próximos dias reencontraremos um ícone da ficção científica. O capitão Jean-Luc Picard retorna à franquia em uma história que se passa duas décadas depois de fim de Jornada nas Estrelas: Nova Geração. Entenderemos, finalmente, qual o destino do carismático capitão que [olha o Spoiller] volta ao espaço fora da Frota Estelar.
Desde que fomos apresentados à velocidade de dobra, conhecemos diferentes raças humanoides encontradas nos mais distantes lugares do universo, “audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”, conforme a frase de abertura da série clássica. Nesse universo imaginário, viajar na velocidade da luz é tarefa relativamente simples para esses exploradores espaciais. Jornada nas Estrelas se passa em uma realidade imaginada para o século XXIII.
O interesse pelo espaço faz parte da história do homem. Desde os primeiros cálculos que revelavam a distância das estrelas em relação à Terra já se pensa em como atingir esses lugares no céu. Mas foi a partir do século XIX, com o avanço das ciências modernas e a popularização do empirismo que a discussão sobre a saída do homem do chão ficaram realmente sérias.
Um extraordinário avanço na tecnologia de máquinas mecânicas fez o homem levar mais a sério a idéia de voar. Em 1865, o francês Julio Verne povoou a imaginação de multidões com as idéias contidas no livro “Da Terra à Lua” (Disponível para leitura no Projeto Gutemberg).
A trama se inicia com toda uma discussão sobre o potencial das armas de fogo e o poder da pólvora, uma exaltação às armas. Na fala do Major Elphiston, um interessante personagem da trama “a bala é a mais esplendida manifestação do poder do homem; na bala resume-se este poder todo inteiro, e foi quando a inventou que o homem mais se approximou do Creador!” (p. 59)
Tudo começou com uma pergunta do protagonista da história, o presidente do clube de tiro Barbicane: “Seria possível enviar uma bala até a lua?”
Para resolver a questão, enviam a pergunta ao Observatório de Cambridge, que respondeu positivamente. Entusiasmados, os membros do clube trataram de construir um canhão que dispararia um projétil a uma velocidade de 12.000 jardas por segundo, e que seria de tamanho suficiente para levar cinco tripulantes.
O lançamento aconteceu conforme orientado pelos astrônomos, na noite de 1 de dezembro, às dez horas, quarenta e seis minutos e quarenta segundos, o canhão disparou, tendo como alvo o centro visível da lua. Algo imprevisto: um asteróide passou pela trajetória do foguete e o fez desviar do alvo. O projétil dirigiu-se para o pólo norte da lua, fazendo-o orbitar o astro sem conseguir realizar o tão esperado pouso.
Usando os propulsores laterais do foguete, os tripulantes conseguiram manobrar e se desprender da órbita lunar e se dirigir à Terra, onde caíram no mar e foram encontrados, pouco tempo depois, por um barco de pescadores.
O jornal O Taubateano, de 21 de abril de 1901 apresentou uma história muito parecida com a de Julio Verne. Um ricaço alemão, chamado Herman Ganswindt, teria projetado uma nave que o levaria rapidamente para o planeta marte. A invenção é de dez anos antes da reportagem d’O Taubateano. O alemão foi chamado de louco pelos taubateanos.
O próprio jornal explica o projeto:
“O apparelho Ganswindt consiste em um tubo de aço tão comprido e tão largo quanto baste para conter um homem e numero de cartuchos sufficientes para a viagem, porque o tubo avançará como um foguete. Calcula o inventor que em 27 horas de viagem pelo espaço, terá chegado a sua desejada meta, e como o trajecto não é tão longo, levará apenas comsigo algumas latas de alimentos solidos e agua”.
Oscar Bisarro, que assina a matéria d’O taubateano imagina o desfecho da história no caso o inventor seja bem sucedido:
“Que bello será o estranho viajante aereo aportar a plagas ‘nunca d’antes visitadas’ e sem poder se comprehender pelos seus habitantes, a custo embora, conseguir estudar, admirar e lá das alturas enviar-nos pelo telegrapho sem fio o seguinte recado: ‘Planeta Marte, epoca differente, seculo XX.
Irmãos da Terra
Haverá maior glória?!
De lá, o impossível (pois não encontro outro qualificativo) Ganswindt seguirá com auxilio do seu aerostato em direcção a varios outros planetas[…]
E de regresso será recebido com apupos, pedradas e… não sei mais que, pois o povo discrente e beocio chamal-o-á de energumeno”.
O final dessa história é conhecido. Apesar da patente registrada pelo alemão, o projeto não vingou e, mais tarde, foi rejeitado pelas autoridades científicas. Como reconhecimento ao seu trabalho (mesmo que seja um reconhecimento póstumo) uma cratera lunar recebeu o seu nome e posição de destaque no “International Space Hall of Fame” (lista dos mais importantes inventores de máquinas espaciais), como o inventor do primeiro projeto de um foguete a propulsão da história.
Há mais de cem anos, os jornais de Taubaté já estavam antenados sobre os acontecimentos científicos.
Baixe o livro “Da Terra à Lua”, de Julio Verne no site The Project Gutemberg
Angelo Rubim