E o capital inicial? Campanha para a aquisição de um prédio próprio!!!!
Coluna sim, coluna não publico uma das partes da minha pesquisa sobre o Colégio Taubateano. Sempre por etapas com o intuito de aproveitar cada postagem e ter mais tempo para nos lembrarmos do quão era delicioso os anos 50.
Os Anos 50 do Rock ‘n roll e das lambretas na então Capital do Vale, também nos mostraram o conflito entre o rural e o urbano, que podemos verificar com mais detalhes no cenário acionário que compunha o Ginásio Taubateano.
E o capital inicial? Campanha para a aquisição de um prédio próprio!!!!
Aos acionistas do Taubateano cabiam somente a compra do prédio[1], não a atuação na prática pedagógica da instituição. Mas sem dúvida, não havia a possibilidade da compra do prédio sem a campanha feita pelo diretor junto aos pais dos alunos, que forneceram o capital acionário para a aquisição e com o apoio da Igreja.
Além dos acionistas podemos destacar que a relação da sociedade com o empreendimento por meio da imprensa católica, da Diocese, profissionais liberais e da radiodifusão, que em particular atuavam em outros setores não somente educacionais, mas participavam ativamente de projetos sociais na cidade através de Oswaldo Barbosa Guisard, o Dr. Urbano Alves de Souza Pereira, o Emilio Amadei Beringhs, e Licurgo Barbosa Querido e o jornal católico O Lábaro.
[…] Com essa fundação criada, através de um grupo de cidadãos taubateanos, eu destaco deste grupo Urbano Pereira e […] o Oswaldo Barbosa Guisard, deve ter outros, mas esses dois eu tenho certeza que participaram da… do núcleo inicial da criação do Ginásio Taubateano.
[…] o diretor do Ginásio foi um só sempre o Theodoro Correa Cintra do começo ao fim, os outros fizeram parte de um grupo fundadores, eles eram os fundadores do Ginásio Taubateano. E entre eles havia uma harmonia perfeita entre eles, um entrosamento muito grande (Dr. Paulo Pereira).
Entre todos os acionistas, a escolha de somente onze para representarem os demais, se pauta na representação dos acionistas por segmento social, no qual abrange seus projetos particulares e ao mesmo tempo sociabilizados. Pressupondo que, a pesar de apresentar extensas listas durante seu funcionamento, houve a escolha e prevalece somente o estudo e a análise após a escolha dos acionistas que compreendem o início do projeto educacional, representado pelo surgimento do Ginásio Taubateano. Por isso, destaque aos acionistas representando segmentos sociais diversos, para poder demonstrar que havia diferentes propósitos econômicos, mas compondo juntos a formação de um ginásio em Taubaté, sem contar com o grau de importância e atuação na cidade.
A análise conta com a junção de acionistas oriundos de um mesmo segmento social e pertencentes à composição da classe média urbana, rural e industrial da cidade. Apesar de encontrar nos acionistas objetivos sociais e atividades econômicas diversificadas, ambos tiveram um objetivo comum, o de promover a criação de uma sociedade anônima para a compra de um prédio próprio para as instalações do Taubateano.
A compra ocorreu através de uma campanha com a aquisição de ações no valor de Cr$ 500,00, no qual cada um comprava o quanto “quisesse investir” – utilizando-se das palavras nas propagandas do jornal Cadinho e A Tribuna –, que justificavam a compra como um “investimento educacional” que poderia ser comprado em nome dos filhos menores.
Ao destacar os onze acionistas selecionados para a análise, verificamos que eram correspondentes aos segmentos urbanos, industriais e rurais. Através dos filhos que estudavam no colégio, houve maior interesse na manutenção deste projeto educacional na cidade. Lembrando que nem todos os acionistas tinham filhos estudando no ginásio, mas queriam contribuir com a promoção deste empreendimento educacional, dirigido por Theodoro Corrêa Cintra, que também obtinha ações no colégio em seu nome e no nome de sua esposa Aracy Fonseca Corrêa que nunca atuou na direção do Taubateano, mas auxiliava o professor no cuidado com os onze filhos do casal, representando o modelo típico da mulher da década de 1950, voltada para os serviços domésticos e cuidados com a família.
A articulação dos acionistas do Taubateano S.A., representava os interesses da classe média urbana, de promoção social e prestígio na atuação de um modelo educacional privado não confessional, mas adepto ao catolicismo, como é possível verificar por suas práticas educacionais religiosas e cívicas.
Quanto à caracterização dos sujeitos há uma divisão com relação aos ramos de atividades econômicas e suas ocupações na cidade. O primeiro classificar-se-á pela composição dos profissionais liberais com o professor Theodoro Corrêa Cintra, o jornalista Oswaldo Barbosa Guisard, o engenheiro Dr. Urbano Alves de Souza Pereira, o empresário da radiodifusão Emílio Amadei Beringhs, o advogado Licurgo Barbosa Querido e o contador Victor Guisard. Participando de um setor social cuja atuação atingia a população da cidade, seja através da imprensa, ou da rádio e mesmo em atividades que atendam em suma os setores da classe média, possuíam objetivos de manutenção da posição social e o alcance de maiores privilégios. Sem contar que seus nomes eram vinculados constantemente no jornal A Tribuna na lista dos acionistas, vista que, em uma sociedade de classes mal definidas, essa era a forma encontrada para ocupar prestígio na sociedade local, em uma cidade que se modernizara, havia a busca por seu lugar nela.
O segundo setor compreende a imprensa, que através do jornal O Lábaro, criado pelo bispo Dom Epaminondas junto com o Colégio Diocesano e a Diocese de Taubaté, era o veículo de expressão católica na cidade. Nesse caso, há dois fatores específicos de análise, o primeiro contando com a representação de uma imprensa católica[2], que divulga em suas páginas e apoia as iniciativas em prol da educação na cidade, principalmente se ela tiver a benção do bispo, como nesse caso o Ginásio Taubateano.
O segundo fator é que, uma vez apoiado o empreendimento escolar de ideologia católica, o jornal, como veículo diocesano, demonstra apoio imparcial da Igreja à instituição privada, levando à conclusão que esse apoio fazia parte dos projetos católicos da manutenção da ordem social com a “modernização conservadora”, atuando no campo educacional.
O terceiro setor não compõe a junção de um grupo característico de sujeitos, composto somente por um membro, mas foi assim dividido para melhor análise. Representada pela esposa do professor Corrêa Cintra, Aracy Fonseca Corrêa, que obtinha maior número de ações num total de 120, mas não atuava na administração do ginásio, apenas atuava como representante legal das ações, que ficavam sob a coordenação do professor.
[…] Então eles compraram aquele prédio, então o prédio ficou, o Ginásio Taubateano S.A., quer dizer, a metade era do […] dos sócios, e a outra metade mais um meu pai com minha mãe, entrou como sócios também (Maria da Glória Cintra).
Essa ação deixa claro também que, mesmo com a participação acionária de vários segmentos sociais era necessário o controle do número de ações para que a coordenação escolar fosse dirigida restritamente pelo Theodoro Corrêa, pois seu modelo educacional ia de acordo com os objetivos propostos pela Igreja Católica.
Quanto ao setor composto pelo empresariado industrial e rural através da Fábrica de Botões Corozita e dos fazendeiros Kionoski Kanegae e Oswaldo Junqueira, nota-se a característica fundamental do período, ou seja, o rural e o urbano se contrapondo, como demonstrado no capítulo anterior, cuja cidade havia sofrido uma mudança em números à composição da população urbana e rural. A década de 1950 foi marcada pela urbanização da cidade promovendo um crescimento habitacional em função dos abairramentos. A união de dois modelos econômicos cujos objetivos educacionais perpassam a perda do poder da economia rural e o crescimento urbano-industrial, utilizando, a partir da educação, a busca pela hegemonia local com o avanço da modernização seja no aspecto da urbanização ou da busca por mercados.
Ao mesmo tempo em que se contrapõem, os segmentos rurais e urbanos, em transição na composição da sociedade anônima se unem para a obtenção do prédio através da adesão ao projeto educacional proposto à sociedade pelo Ginásio Taubateano, tornando-se um objetivo em comum, de promover a educação secundária na cidade, afirmando as características de expansão do ensino na década de 1950. Mas, o que caracteriza o relativo sucesso da adesão à proposta educacional do Taubateano é a composição de setores sociais diversos, com objetivos particulares, que em uma escala de valores, posição social e controle religioso e cultural, foi visto como manutenção do poder local através da junção destes segmentos.
Bibliografia:
NUNES, Giovanna Louise. Escola e Cidade: as origens do Ginásio Taubateano na década de 1950. Taubaté/SP, Monografia de conclusão de Curso, 2011.
[1] O prédio locado para a instalação do Ginásio Taubateano havia sido construído no final do século XIX, denominado Solar da Viscondessa do Tremembé. No início do século XX, tornou-se residência da família Paula de Oliveira e posteriormente o museu municipal.
[2] A Campanha da Boa Imprensa realizada pelo jornal O Lábaro, era por determinações internacionais vindas do Vaticano. Para maiores esclarecimentos ver O Lábaro de 13 de Agosto de 1950, p. 4 e GONÇALVES, 2003.
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Giovanna Louise Nunes é graduada pela Universidade de Taubaté, Mestranda em História Social pela Universidade de São Paulo. E professora na Rede Estadual em Taubaté.
1 Comment
Essa história enobrece o passado dos ex alunos do Profº Comendador Theodoro Corrêa Cintra aumentando o lastro do carater adquirido.
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