Conflito Armado Paulista: a Revolução de 32
Texto de Rebecca Machado
O dia 9 de Julho tem importante significação não só para a História do Estado de São Paulo, mas também para o Brasil. A Guerra Paulista, mais conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932 é considerada pelos paulistas como o maior movimento cívico de sua História e o último conflito armado ocorrido no país. Ocorrida durante o primeiro período da Era Vargas, a revolta teve sua eclosão em 9 de Julho de 1932, mas pode-se constatar que ela foi prevista a partir da Revolução de 1930.
A denominação de guerra paulista para a Revolução de 1932 (9 de Julho), corrente na época, dá bem a ideia da intensidade do confronto armado, inédito na História brasileira, entre o maior Estado da Federação e o poder central. (FAUSTO, 2005, p. 137)
O ano de 1930 marcou o fim da Primeira República brasileira, quando os Estados de Minas Gerais e São Paulo cortaram suas relações políticas, conhecida como Política do café-com-leite. Essa política consistia no “revezamento” de políticos mineiros e paulistas na Presidência da República – no período em questão, Minas Gerais e São Paulo eram os Estados mais ricos da União. O fim da política foi marcada quando, no início de 1929, o então Presidente paulista Washington Luís nomeou Júlio Prestes – também paulista – como seu sucessor para as eleições presidenciais que ocorreriam em 1 de Março de 1930. Neste momento, rompeu-se o “revezamento”, já que a próxima indicação deveria ser de um político mineiro.
Em Setembro de 1929 é formada a Aliança Liberal, aliança entre Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, lançando a candidatura à presidência do gaúcho Getúlio Vargas e como vice, o paraibano João Pessoa, contra a candidatura do paulista Júlio Prestes. Em meio a crise econômica causada pela Grande Depressão de 1929, Júlio Prestes vence as eleições de 1 de Março, porém não chega a ocupar o cargo. Esse fato ocorreu quando a ala mais radical da Aliança Liberal decide pegar em armas e usa o assassinato de João Pessoa como crime político. Nesse momento foram iniciados os preparativos para o golpe contra a presidência, dos quais os rebelados partiram em direção a capital federal, no período em questão, o Rio de Janeiro. Em 24 de Outubro de 1930, o então presidente Washington Luís é deposto através de um golpe militar e em 3 de Novembro de 1930, Getúlio Vargas assume o poder do país.
Com o poder centralizado nas mãos do poder executivo,a Constituição de 1891 foi suprimida, no qual Getúlio Vargas assume a chefia do Governo Provisório. Foram nomeados interventores do governo em cada Estado da União, fato que desagradou ainda mais os paulistas, pois esse cargo era ocupado por tenentes e políticos de outros Estados. Mesmo após terem sido nomeados interventores paulistas, a população do Estado não estava satisfeita com a política de seus representantes perante a União. As interferências do Governo Getulista em São Paulo eram constantes, do qual seus interventores não conseguiam autonomia suficiente para formarem seu secretariado. A partir desse momento foram feitos comícios, sendo o primeiro no aniversário de São Paulo, do dia 25 de Janeiro de 1932, na Praça da Sé.
O Partido Republicano Paulista (P.R.P.) e o Partido Democrático (P.D.) de São Paulo uniram-se em Fevereiro de 1932, na Frente Única para exigir o fim do Governo Provisório e uma nova Constituição. O estopim da revolta foi a morte de jovens no centro da cidade de São Paulo assassinados a tiros por partidários getulistas. A morte dos jovens deu origem ao movimento de oposição que ficou conhecido como MMDC, que é a inicial do nome de cada jovem assassinado.
No dia 23 de Maio de 1932 (Dia do Soldado Constitucionalista) o interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, formou seu secretariado livremente rompendo então com o Governo Provisório. A partir de então, os paulistas começaram a tramar um movimento armado tendo como objetivo derrotar o Governo de Getúlio Vargas, para promulgar uma nova Constituição.
Em 9 de Julho de 1932 inicia a revolta armada do movimento revolucionário paulista, aparentemente com o apoio dos Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e de Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, a revolução contou com um grande número de voluntários civis e militares. Tropas paulistas foram enviadas ao front em todo o Estado, principalmente nas divisas e no Vale do Paraíba. Porém as tropas federais contavam com maior contingente de homens e eram mais bem equipadas belicamente. A estratégia paulista previa uma rápida manobra pelo Vale do Paraíba em direção ao Rio de Janeiro, que previa em sua retaguarda os Estados aliados. Essa estratégia não foi possível, já que os Estados que deveriam ser aliados juntaram-se as tropas federais, tendo os paulistas somente o apoio de algumas tropas mato-grossenses. Em Setembro, o interior de São Paulo foi invadido paulatinamente pelas tropas de Getúlio, que ameaçavam a invasão da capital do Estado. Prevendo a derrota do Estado e sua ocupação, a Força Pública Militar paulista rendeu-se, o que culminou a rendição de São Paulo em 2 de Outubro de 1932.
A Revolução Constitucionalista de 1932 marcou o início do processo democrático no Brasil após a tomada de poder representada pela Revolução de 30. No início de 1933 foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte e em 1934 é promulgada a nova Constituição. Para os paulistas, a Revolução de 32 foi uma derrota bélica, porém uma vitória política.
Referências Bibliográficas
FAUSTO, Boris. Memória e História. São Paulo: Graal, 2005
MCCANN, Frank D. Soldados da Pátria. Rio de Janeiro: BIBLEX, 2009
_____
Rebecca Machado é formada em História pela Universidade de Taubaté
Veja também:
– Guerra Paulista. Notas sobre o conflito de 1932
– A Revolução de 32: Somando Tristezas
Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook e twitter
1 Comment
[…] http://www.almanaqueurupes.com.br/testedomau/wordpress//?p=2948 […]
Comments are closed.