Ciências: A água vai acabar?
Para responder essa pergunta, convocamos um dos maiores intelectuais brasileiros: Antonio Marmo de Oliveira, engenheiro, matemático, físico, astrônomo e tantas outras qualificações que não cabem nesse espaço. Além de um vasto currículo, Marmo é também autor de livros e correspondente de publicações científicas do mundo inteiro. Em sua estreia no Almanaque Urupês, o mestre faz um alerta: de hoje até 2050, segundo adverte a ONU, 2,3 bilhões de pessoas viverão em zonas de severo stress hídrico, sendo que, de um modo geral, a humanidade precisará de um fornecimento de água 55% maior que o atual para satisfazer suas necessidades. Conheça as razões lendo o texto completo.
Círculo vicioso da perda de eletricidade e água
por Antonio Marmo de Oliveira
Tornar a água potável e acessível implica tratá-la, bombeá-la, transportá-la e distribuí-la: tudo isto requer energia elétrica. Mas, a produção de eletricidade necessita de muita água, tanto no caso das hidroelétricas quanto no dastermoelétricas. Assim, os dois recursos estão intrinsecamente interligados. Tradicionalmente, as Nações Unidas têm abordado a questão da água pelo prisma da desigualdade de acesso entre as populações mais pobres e as mais ricas.
Todavia, em seu Relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2014, a ONU decidiu focar a interdependência da produção de eletricidade e fornecimento de água limpa, da qual dependem tanto o desenvolvimento econômico quanto o próprio bem-estar dos seres humanos.
Panorama difícil
Para procedimentos simples na produção de várias fontes de energia, como por exemplo, irrigar o milho ou a colza que depois se transformarão em biocombustíveis, ou resfriar as centrais nucleares e termoelétricas, que produzem 80% da eletricidade do mundo, a indústria conta com um recurso que cada vez mais escasseia, a saber, a água. De fato, em muitas regiões do mundo os lençóis freáticos atingiram seus níveis mais baixos e suas águas se salinizaram.
Atualmente, um a cada cinco aquíferos já está sobre-explorado e sem renovação das reservas. De hoje até 2050, segundo adverte a ONU, 2,3 bilhões de pessoas viverão em zonas de severo stress hídrico, sendo que, de um modo geral, a humanidade precisará de um fornecimento de água 55% maior que o atual para satisfazer suas necessidades. Por outro lado, o consumo mundial de eletricidade aumentou 186% nos últimos 40 anos, enquanto se supõe que somente na China e na Índia, os dois grandes gigantes populacionais do mundo, a demanda por energia deva crescer em 70% até 2035.
Produção elétrica e industrial
De longe, a agricultura é a atividade que mais consome água no mundo, captando 70% dos recursos hídricos em comparação a somente 10% para uso doméstico.
No entender dos especialistas, tal proporção poderia diminuir se se limitassem os desperdícios com irrigação. Mas, por outro lado, com o crescimento demográfico e econômico do mundo, a parte que cabe ao consumo mundial tende a crescer. Isto quer dizer que menos de 20% da água está disponível para produção de eletricidade, ou melhor, que a produção de eletricidade cada vez mais dependerá de como podemos reutilizar a água para mais de uma finalidade.
Entretanto, os EUA e alguns países norte-europeus já usam uma quantidade de água para as suas termoelétricas 50% maior que a destinada à agricultura.
Conforme lembra o jornal francês Le Monde, outros fatos recentes mostram a complexidade cada vez maior que o problema toma: na França, ondas de calor implicaram também um aquecimento das águas do rio Ródano, em cujas margens se encontram centrais nucleares.
Estas tiveram de diminuir suas atividades porque as águas mais quentes dificultavam o resfriamento dos reatores. Outro exemplo: na Califórnia, os planos de instalar 17 usinas de dessalinização da água encontram dificuldades agora face aos custos crescentes da eletricidade.
Mais pessimismo
Segundo a Agência Internacional de Energia, principal organização por de trás do relatório da ONU, são os modos de produção de energia mais hidro-intensos que devem prevalecer no futuro próximo.
Veja-se o exemplo do gás de xisto que é apontado como uma nova fonte alternativa: a sua extração comumente se faz por uma técnica chamada de fratura hidráulica que usa de líquido em alta pressão para microfissurar rochas e que, portanto, pode demandar grande quantidade de água. Estudos independentes publicados em 2014 mostraram que a seca de dois anos nos
EUA ameaça essa técnica e que essa técnica também pode esgotar os recursos hídricos para outras finalidades numa mesma região. Retornaremos a este assunto brevemente.
[colored_box color=” yellow”]Antônio Marmo de Oliveira possui doutorado em Engenharia Aeronáutica e Mecânica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1977). Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Mecânica das Estruturas, atuando principalmente nos seguintes temas: educação matematica, tensor, componentes físicas, variacional e computer. Tem feito trabalhos na area de Materias Compostos para diversas firmas como a Tigre , SeaOil, Vale, Petrofisa, Noma, Rival etc. Assumiu a reitoria da da Unitau entre 2002 e 2004.
antonio_m@uol.com.br[/colored_box]
1 Comment
<> Excelente! … sugiro que abordem também questões sobre os pesticidas/herbicidas que, no tipo do Glifosato, são lançados sobre as monoculturas …, e precipitando-se nos corpos hídrico e aos nossos vitais mananciais, tais com os nossos rios Paraíba do Sul e Una, a nos servirem às duras penas … Parabéns, abraços afirmativos, CM
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