Arte no jornal taubateano
Em um tempo em que produzir um jornal depende de cada vez menos pessoas, tipografia virou termo cult para artistas gráficos. Preocupa-se, hoje, com resolução de tela, padronização de fontes, formatos de arquivos e, evidentemente, público alvo. A produção de informação é direcionada. O jornalista contemporâneo se preocupa em agilidade, volume e simplicidade dos textos. Há uma constante corrida entre os veículos de informação. Um sempre quer dar a notícia antes do outro. Há pouca preocupação com a tecnologia, já que hoje é possível comprar um website pronto, um layout de jornal impresso ou digital. A tipografia se resolve da mesma forma, com um clique a pessoa troca a fonte, a cor, o espaçamento, o alinhamento do texto. O gráfico vê em tempo real o resultado do jornal finalizado.
Em um tempo nem tão distante, as preocupações com a tecnologia e a dependência daqueles que operavam as máquinas eram uma constante. Não se trocava a fonte com um clique, assim como não se escrevia uma linha de texto em poucos segundos.
A edição dos jornais demandava muito tempo, pois as palavras eram construídas, letra por letra, nas caixas tipográficas, onde eram posicionados os tipos para impressão. Detalhe: muitas vezes faltava uma ou outra letra e o tipográfico (aquele profissional que montava as palavras) tinha que se virar com o que tinha. Como a maioria dos jornais usavam tipos com serifa (aquelas letras com acabamento arredondado, como a Times New Roman), era comum a letra “u” minúscula virar “n”, “0” (zero) virar “O”, “p” virar “d”, “q” vira “b” e “l” (ele) é “1” (um). Em casos extremos, o tipográfico simplesmente suprimia a letra ou escrevia a palavra errada
Outro elemento de dificuldade, era que os que escreviam para os jornais enviavam seus textos manuscritos, às vezes ilegíveis, fosse por borrões, fosse por grafia ruim. Para piorar, muitos daqueles técnicos que montavam os tipos mal sabiam ler e ainda tinham que montar o texto espelhado. Tarefa nada fácil. E mais, o tamanho do prelo definia o espaço disponível no papel. Um prelo grande, resultava em um jornal maior, um prelo pequeno, um jornal menor.
Por volta de 1817, um artista francês, contratado pela coroa portuguesa, formou uma das primeiras escolas de gráficos no Brasil. Arnaud Julien Pallière (o autor da mais famosa planta de Taubaté) trouxe a técnica da litogravura para impressão em etiquetas e jornais. Foi a partir de então que os jornais passaram a se sofisticar, especialmente os anúncios. Ainda assim, a qualidade visual dos jornais avançou timidamente ao longo do tempo.
Meio século separa Pallière da imprensa taubateana. Quando começou em Taubaté, O Taubateense (baixe o primeiro número aqui), criado por Francisco Xavier de Assis e editado por Antonio Gomes do Araujo, dispunha de poucos recursos gráficos. Foram os seus sucessores que fizeram do jornal uma plataforma de múltiplas artes. Mas eram artes estritamente utilitárias, como as imagens abaixo do jornal O Paulista, de novembro de 1863:
Foi o espaço publicitário o responsável pela modernização dos jornais. E, muito provavelmente, foram os anúncios da Emulsão Scott que trouxeram mais novidades e apuro artístico.
Em Taubaté, o jornal que mais fez uso das artes gráficas foi o Caixeiro. Em 1903, o jornalzinho, que começou com um primeiro número manuscrito (tem um exemplar no CDPH), usou gravuras de todos os tipos e até fotografias em suas páginas. Em seu cabeçalho o aviso: “humoristico, crítico e illustrado. Dedicado à Associação dos Empregados no Comércio”.
A partir dos anos 1910 o uso de imagens em forma de gravura ou fotografias tornou-se um caminho sem volta. Hoje, fazer notícia sem esse recurso é um feito raríssimo. No entanto, aquela indústria de gravadores e tipográficos que surgiu em função do jornal impresso foi suplantada pela indústria dos jornalistas e designer gráficos digitais. Hoje, nem tudo está a um clique, mas o trabalho está longe de ser penoso como foi alguns anos atrás.
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