“A persistência da História” ou Pra que serve a História?
Relendo esta semana Que é História de E.H.Carr me deparei com uma frase, sobre a função da História que, segundo o autor, é promover a compreensão do passado à luz do presente e do presente à luz do passado, o que me deixou bastante pensativa.
Quando perguntamos a alguém que não tenha intimidade com a História sobre o que se trata esta ciência, uma das respostas clássicas é a que define a História como o estudo do passado ou como a famosa decoreba de datas e nomes. Diferente do posicionamento que possamos ter diante da História ela não serve apenas para descobrir algumas curiosidades, ou para atormentar estudantes em períodos de avaliação. Como dito por Carr, a História serve para nos levar a compreensão tanto do passado quanto do presente. Será que temos feito isso? Será que temos ao menos consciência das consequências em se levar ou não a História a sério?
Uma afirmação muito corrente em nosso país é a de que o brasileiro tem memória curta, o que, em geral, se explica pela desvalorização da nossa própria História. Desvalorizamos o que classificamos como velho e queremos abraçar o futuro, para isso queremos transplantar em nossa região valores, tecnologias e projetos vindos de fora. Se vem de fora consideramos moderno, caro, entendemos que causa desenvolvimento, porém, se é nacional é arcaico, de má qualidade e só causa atraso. Não estou dizendo que tudo o que é nacional é maravilhoso, mas sim, que não conhecemos o que é daqui e na maioria das vezes preferimos permanecer na ignorância.
Não entendemos o que se passou, achamos incompreensível o que se passa e do futuro só temos uma incógnita, isso porque não planejamos só observamos – parcialmente – o que acontece. Sobre a História nos contentamos com frases que são repetidas. Estamos presentes, apenas presentes. Não opinamos porque não sabemos sugerir, não questionamos porque não sabemos argumentar. Vemos a vida passar e o máximo que fazemos é reclamar: dizemos que a cidade é uma porcaria, que a saúde não presta, que a educação é fraca e que a política é chata. Por repetir tantas vezes essas reclamações acabamos, em muitos casos, por desistir.
Normalmente, desprezamos aquilo que não entendemos. Devemos entender a política não porque gostamos, mas sim porque precisamos. O mesmo acontece com a História, não é uma simples questão de querer ou de gostar, mas sim, de necessitar. Como podemos saber das necessidades da sociedade na qual vivemos se não a conhecemos? E se considerarmos que também somos frutos sociais, podemos concluir que não conhecemos nem a nós mesmos. Uma questão mais pertinente seria saber em como poderíamos propor soluções para os problemas que enfrentamos diariamente se não sabemos se no passado algo já foi pensado a respeito. Podemos dizer que se desprezarmos o passado vamos viver “inventando a roda” achando que são grandes novidades moderníssimas.
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Fabiana Cabral Pazzine é professora de história. Pesquisadora de História Cultural e Social.
4 Comments
Maravilhoso o texto…grandes lembranças the aula de historiografia não? Que venham mais textos reflexivos…
Fabiana, seu texto ficou muito bom. Parabéns. De fato, a relação presente-passado é, há muito tempo, uma questão importante e de dificil equação para os historiadores. Braudel também discute a questão de modo muito interessante. Gostei particularmente da parte final do seu texto.
Obrigada Rachel, nada como repensar e relembrar as aulas de Teoria.
Obrigada Rachel, nada como repensar e relembrar as aulas de Teoria.
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