A paisagem cultural em Taubaté

 A paisagem cultural em Taubaté

Por Rachel Abdala

Essa é a 14ª. edição da Semana de Museus e em outra oportunidade já escrevi aqui das minhas participações desde o período de minha graduação em História que coincidiu justamente com a primeira Semana de Museus no Brasil.

Assim como todos os anos, para 2016 foi definida uma temática central de discussão. Para esse ano foi proposto pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) o tema: Museu e paisagens culturais. De acordo com o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus) “esse tema reforça o papel sociocultural das instituições museais. Quando chamados a abrirem suas portas para seus contextos externos, enfatiza-se a necessidade da valorização das culturas e da diversidade paisagística do país, que possui um mosaico de bens culturais”. Desde sua criação, em 2009, o IBRAM organiza a Semana dos Museus que tem atrações em diversas cidades brasileiras que possuem museus.

ibram

Taubaté é uma das cidades que mais tem museus proporcionalmente à sua população. E como poderíamos pensar sobre a relação dos museus taubateanos com essa temática?

Para começar essa reflexão precisamos discutir o que seja paisagem cultural ou antes ainda o que é paisagem. Então, “desfolhando a cebola” as definições de paisagem geralmente são provenientes da Geografia e englobam a ideia de ponto de vista. Para a Geografia a paisagem é o conjunto de componentes naturais ou não de um espaço externo que pode ser apreendido pelo olhar. Nesse sentido a expressão “até onde a vista alcança”, ganha expressão na ideia de paisagem. Etimologicamente, pois, assim como Alfredo Bosi em seu genial “Dialética da colonização”, também acredito que começar pelas palavras nunca é coisa vã, assim paisagem significa: extensão de território que o olhar alcança num lance; vista, panorama.

As Paisagens culturais também são chamadas de paisagens antrópicas, pois, diferentemente das paisagens naturais, são expressões das atividades humanas e, portanto, construídas a partir da utilização e transformação dos elementos da natureza pelas ações realizadas pelo homem. Desse modo, Portanto, todas as edificações construídas, bem como as intervenções não naturais sobre o espaço constituem paisagens culturais, como por exemplo, uma cidade ou mesmo um campo de produção agrícola.

As paisagens foram ao longo do tempo registradas pela memória em pinturas, em fotografias e em filmes. O olhar do homem mediado pelos limites do quadro, pela técnica e pelas câmeras fotográfica e de filmagem.

Em Taubaté, a várzea de plantação de arroz em Quiririm é tombada como patrimônio municipal. Já foi pintada por artistas de Taubaté e por visitantes. E considerando a definição que foi acima apresentada, há muitas outras paisagens em Taubaté.

Pátio do Museu da Imigração Italiana do Quiririm
Pátio do Museu da Imigração Italiana do Quiririm

O artista francês Jean-Baptiste Debret registrou numa aquarela no século XIX uma da mais belas, do meu ponto de vista. Aliás, questiona-se qual era o seu ponto de vista, onde ele estava para perceber aquela composição de elementos.

Para mim a Serra da Mantiqueira emoldura as paisagens taubateanas. Que bom! Que lindo! Me sinto em casa quando vejo a Serra. Da janela da minha casa tenho um vislumbre da serra que, apesar dos prédios recém construídos, ainda pode ser vista. E todo dia tenho uma paisagem diferente no pôr do sol. Assim como os pintores impressionistas que procuravam fixar não as linhas, mas as incidências da luz eu e tantos outros taubateanos vemos as incidências dos raios do sol nos prédios e na serra formando paisagens diferentes todos os dias.

Taubaté vista dos contrafortes da Mantiqueira. Ao fundo, as serras da Quebra Cangalha e do Mar
Taubaté vista dos contrafortes da Mantiqueira. Ao fundo, as serras da Quebra Cangalha e do Mar

Como um caleidoscópio as paisagens vão sendo construídas dinamicamente a partir das mudanças promovidas pelo homem. Assim, agora nos resta olhar as paisagens configuradas hoje e esperar pelas próximas numa expectativa não só artística mas também de experiência histórica. Devemos, portanto, abrir os olhos para ver os quadros que nos rodeiam no sentido de percebê-los.

E os museus? Bem os museus, assim como outras edificações construídas pelo homem, porque ainda que a definição de museu seja mais abrangente que o de prédio no qual são acondicionados e expostos objetos culturais (há hoje o conceito de museu aberto, por exemplo) falando especificamente dos museus de Taubaté, eles também fazem parte da paisagem. Um exemplo pertinente a essa discussão é o do Museu da Imigração de Quiririm sediado no casarão da família Indiani. Ele próprio é elemento componente da paisagem de Quiririm. Além disso, foi no seu interior que eu pude ver pela primeira vez um belíssimo quadro da várzea, ou seja, ele é lugar no qual se guardam enquadramentos de paisagens num jogo de escalas e de imagens caleidoscópicas.

 

[box style=’info’] Rachel Duarte Abdala
rachel_thumbÉ professora de Teoria da História na Universidade de Taubaté, doutoranda em História na Universidade de São Paulo.

[/box]

Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook, no twitter e no Youtube.

almanaqueurupes