PARAFRASEANDO – Por Renato Teixeira
Algumas frases precisam ser contextualizadas para que possamos compreendê-las com mais clareza. Começo por uma frase de um samba lançado com grande sucesso pelo Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu…”
Concordo que se estivermos no auge da balada, depois daquele momento em que a gente não está mais aí nem para a própria compostura, é até compreensível e perdoável que possamos, realmente, nos deixar levar, uma ou outra vez, por esse conceito. Mas depois voltamos pra casa, tomamos um bom banho, dormimos, nos alimentamos e retornamos pra vida em si.
Se por um acidente do destino, entretanto, o camarada acredita que a “…vida leva eu” possa ser uma filosofia, um caminho a se seguir, então, aí o sujeito delega o seu destino às circunstâncias, e acabou pra ele.
Um homem precisa saber quem é para poder reivindicar e deliberar com mais lógica e cabimento. Nada mais incômodo do que um despropósito, seja qual for.
O próprio planeta Terra, num determinado momento, percebeu que um Dinossauro enorme como aqueles que tínhamos, era um despropósito contundente demais para continuar existindo.
Providenciaram-se uns raios, uns tremores de terra, erupções daquelas e, pronto, foi tudo parar nas mãos dos arqueólogos. Houve, sim, uma nítida deliberação salvadora por parte da natureza; caso contrário, até hoje estaríamos por aí, sujeitos a uma pisão mortal de um daqueles bichões interessantes, porém, grotescos e impróprios.
Um grande frasista carioca, morto num acidente de mobilete no aterro do Flamengo nos anos sessenta e que atendia pelo codinome de Don José Cavaca, escreveu, inspirado num raciocínio anterior de Rui Barbosa, a seguinte frase: “De tanto ver triunfar as nulidades, resolvi fazer uma tentativa”.
Essa frase fez muito sucesso e com certeza deveu isso à própria condição humana que produz pessoas absolutamente diferentes uma das outras. Evidencia-se que essas diferenças, tão radicais, criaram várias “alternativas” de gente. Umas mais fortes que as outras, outras mais inteligentes que umas e assim por diante.
A competência, como sabemos, surge nas altas esferas da vocação, somadas ao vondicionamento correto. Os que lá chegaram o foram porque se habilitaram, se esforçaram e se dedicaram na direção desse propósito de eficiência.
Os que se prepararam, conseqüentemente, são bem remunerados e vivem comodamente numa área de conforto social de causar inveja naqueles que, por alguma razão, não se habilitaram convenientemente.
Lá nos Estados Unidos tem um tal de Romney querendo ser presidente, que é de arrepiar de medo os pelos da nuca. Basta olhar suas expressões e constatar que se trata de um incompetente oportunista tratando de seus próprios interesses e dos negócios de seus correligionários. O que um homem daqueles tem a oferecer à sua sociedade? Se vencer vai continuar investindo nas guerras e terá ainda a espinhosa missão de administrar a sensação muito estranha, e com certeza bastante incômoda que os americanos estão sentindo depois de constatarem que não são mais tão senhores da terra como antes. Esse candidato republicano só está aí porque com certeza se espelhou nos Bush’s e resolveu fazer também sua tentativa.
Aqui mesmo no Brasil temos casos gritantes de incompetentes que “tentaram” e se deram bem. Para não ferir suscetibilidades, cito apenas o caso do Collor, pois esse (quase) todo mundo odeia. Diziam que ele era um grande comunicador e um puxador das massas montado no discurso sem nenhuma qualidade literária de que iria acabar com os tais de marajás. Muitos ficaram admirados com a força desse homúnculo, mas eu não me deixei enganar em nenhum momento.
Quer dizer então que o sujeito fala que vai acabar com um dos maiores males da humanidade, e todo mundo acredita que ele seja mesmo capaz? Nem Cristo, Alá ou Maomé, se resolvessem juntar suas forças, conseguiriam realizar essa proeza com a facilidade que o tal do Collor dizia ser possível.
E como acontece com todos os outros incapazes que brotam como chuchu na cerca, hoje ele vive por aí como um zumbi, sendo humilhado por onde passa. O povo adora eleger nulidades, assim como adora tripudiar sobre elas depois, em todos os rincões do planeta terra.
Em nome de todas as diferenças que caracterizam a diversidade humana fico com a frase que Caetano Veloso cunhou:
“-Se você não disser quem você é, ninguém irá fazê-lo”.
Agora, se eu tivesse que escolher uma frase para tatuar no braço, por exemplo, eu escolheria aquela que a meu ver é a mais significativa quando se trata de definir uma condição digna para todos. Lá vai..
– “Quem sabe de mim, sou eu”!
“…e tenho o dito”, como se diz.
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Texto publicado originalmente na edição 572 do Jornal Contato