1886: o último espetáculo do Imperador desprezado em Pindamonhangaba
Capítulo 15 sobre a passagem de D. Pedro II pelo Vale do Paraíba
Texto de Glauco Santos
No dia 19 de outubro de 1886, antes de partirem de Lorena, “S. M. o Imperador acompanhado dos srs. ministro da agricultura, Barão de Parnahyba, Viscondes de Paranaguá e de Moreira Lima, visitou as 5 horas da manhã o mercado e o hospital de Santa Casa de Misericórdia” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). No hospital, que foi fundado graças aos recursos financeiros do Visconde de Moreira Lima, o Imperador deixou sua assinatura do livro de visitantes. Também deixou em Lorena, aos cuidados do Visconde, a quantia de 200 mil réis destinado ao auxílio dos pobres.
Pode-se dizer que esta primeira parada da viagem que a monarquia fazia ao Vale do Paraíba foi um sucesso; alcançado graças ao esforço evidente dos homens da Câmara Municipal e principalmente do Visconde de Moreira Lima. “(…) os Imperadores foram acolhidos e felicitados com entusiasmo em Lorena, devido à iniciativa particular que não poupou esforço para isso ser conseguido” (CESAR, 2000, p. 93).
Assim, às 5h55 o trem especial saiu de Lorena, deixando entre outros os ministros da Bolívia e da Argentina. Em Guaratinguetá, a estação estava toda enfeitada com arcos, folhagens e bandeiras. “O povo aglomerava-se na plataforma” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Ao descer do vagão, o Imperador foi recebido por autoridades políticas, pelo juiz e pelo vigário, que deu vivas à família Imperial, tudo ao som do Hino Nacional. Desta vez, o pedido da Imperatriz foi atendido e a comitiva seguiu de trem até à capela de Nossa Senhora Aparecida. (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Infelizmente não chegou até nós os relatos desse ilustre encontro com a imagem da santa.
A primeira notícia da visita da família Imperial publicada em Pindamonhangaba foi no jornal Tribuna do Norte, de 12 de setembro de 1886 (p. 3) que relatava um pouco das intensões do monarca: “diz-se que Sua Majestade pretende demorar-se na província cerca de um mês, percorrendo todas as linhas férreas até os pontos terminais”.
Chegaram em Pindamonhangaba no dia 19 de outubro. O povo reuniu-se na plataforma para tentar avistar o Imperador, que ao som de “duas bandas de música – Santa Cruz e João Gomes, SS. MM. foram cumprimentados pelo juiz de direito” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). A mesma estranheza ao ler que somente o juiz foi receber o monarca teve o jornal Tribuna do Norte (24 de outubro de 1886, p. 3), relatando que “se não fôra (sic) o Dr. Leão Velloso, nosso digno Juiz de Direito, não se encontrariam SS. MM. senão com os empregados da Estação”.
Pela segunda vez, os titulares da cidade não fizeram questão de recepcionar um membro da família Imperial, mesmo que este membro fosse Sua Majestade Imperial. O teatro da monarquia parecia não mais contar com seus personagens de sustentação.
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Referências bibliográficas
CESAR, F. Resenha Histórica de Lorena. Lorena: Stiliano, 2000.
Correio Paulistano, São Paulo, 20 de outubro de 1886.
Tribuna do Norte, Pindamonhangaba, 12 de setembro de 1886.
Tribuna do Norte, Pindamonhangaba, 24 de outubro de 1886.
[box style=’info’] Glauco de Souza Santos
É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.
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