1886: o último espetáculo do Imperador e o Visconde

 1886: o último espetáculo do Imperador e o Visconde
Capítulo 13sobre a passagem de D. Pedro II pelo Vale do Paraíba

Texto de Glauco Santos 

Os esforços do Visconde de Moreira Lima e da Câmara Municipal estavam concluídos e a cidade pronta para receber a família Imperial e toda sua comitiva. Às 13h05 entrou o trem especial na estação da cidade, que estava repleta de população desde cedo. A chegada do comboio foi saudada com vivas, aclamações, bandas de músicas e foguetório, sendo o Imperador recebido os comprimentos de diversas autoridades locais e da elite lorenense (Correio Paulistano, 19 de outubro de 1886, p. 2).

Na estação, o Visconde de Moreira Lima e sua esposa encontraram com a família Imperial e os levaram de bondes até a Igreja de São Benedito, onde o monarca pode fazer sua oração. Dali saíram rapidamente para outra obra com a marca dos Moreira Lima, o Engenho Central, que era na época a menina dos olhos do Visconde.

Ele mesmo, no empenho de mostrar à família Imperial o estado de progresso daquela fábrica e da cidade, tentou por via da Câmara aprovar a utilização dos bondes à tração animal ou a vapor, que levariam a comitiva da estação até à usina. Na ata da Câmara de 5 de outubro daquele ano consta a recepção por parte da casa de um requerimento do Engenho Central para a construção de “uma linha de bondes com tração animada, ou à vapor, a que partindo do seu Engenho e, desenvolvendo-se por diversas ruas, praças e travessas desta Cidade vá ter a Estação da Estrada de Ferro” (Ata da Câmara de Lorena, 5 de outubro de 1886). O projeto levou a um embate entre os vereadores, onde alguns eram contrários à ideia, pois acreditavam “ser inconveniente e desastroso bonde por tração à vapor dentro da Cidade” (Ata da Câmara de Lorena, 5 de outubro de 1886). Ficou decidido então que se votaria o projeto em separado: uma votação para a instalação da linha de bondes e outra para a definição do modelo, animada ou à vapor. Por fim, venceu o projeto da instalação dos bondes à tração animal, “podendo construir a linha que projeta, mas unicamente com tração animada, contanto que não fique prejudicado o trânsito publico e devendo ser adotadas as medidas convenientes para evitar desastres” (Ata da Câmara de Lorena, 5 de outubro de 1886).

Mesmo assim, o Visconde não ficou satisfeito e dez dias depois entrou com novo requerimento na Câmara para que pudesse utilizar os bondes a vapor, na tentativa de mostrar a todos aqueles ilustres visitantes que a cidade de Lorena possuía o que de mais moderno existia na época em termos de transporte. A sessão da Câmara de Lorena então deferiu novamente o projeto, mas abriu uma exceção: “podendo na experiência e durante a estada dos Imperantes nesta Cidade adotar a tração a vapor” (Ata da Câmara de Lorena, 15 de outubro de 1886). Enfim satisfeito, o Visconde de Moreira Lima estava certo, pois a linha de bondes fez enorme sucesso entre os visitantes, sendo “positivamente, um dos números de maior sucesso nas festas grandiosas com que Lorena acolheu o grande Monarca” (RODRIGUES, 1942, p. 95).

Já no Engenho, d. Pedro II colocou em ação seu lado de “inspetor do progresso” e começou a “examinar detidamente o maquinismo, desde a repartição dos motores, dos três cilindros duplos, até a dos secadores do por meio do vapor, e a do armazém de deposito do açúcar cristalizado” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p. 2). Tanto d. Pedro II, quanto a Imperatriz, Thereza Cristina ficaram muito satisfeitos com o que viram e seguiram com a comitiva, em bondes especiais para a margem do rio Paraíba, de onde navegaram na lancha a vapor “Heppacare” por dois quilômetros rio acima.

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Referências bibliográficas

RODRIGUES, Gama. O Conde de Moreira Lima. São Paulo: IGB, 1942.

Correio Paulistano, São Paulo, 19 de outubro de 1886.

Correio Paulistano, São Paulo, 20 de outubro de 1886.

Ata da Câmara de Lorena, 5 de outubro de 1886.

Ata da Câmara de Lorena, 15 de outubro de 1886.

[box style=’info’] Glauco de Souza Santos

glauco
É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.

 

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