PAPO LITERÁRIO
Por Teteco dos Anjos
Direto da minha bisbilhoteca…
Vou revelar para vocês 10 livros que fizeram da cabeça de um Teteco dos Anjos essa pândega trepidante, aparentemente desconexa ou, de fato, elegantemente desconexa. Não importa. Livros são sempre fascinantes e bons escritores e poetas estão no limiar entre deuses e demônios; seus poderes espraiam efeitos colaterais imprevisivelmente lindos.
Não irei expor aqui os livros em ordem de importância ou grau de intensidade. Nada de classificação. Aliás, todos os livros que amei, amo e amarei serão sempre importantes para mim. Diferente, claro, de ex-mulheres alopradas.
Enfim, se você quer saber o que se passa na cabeça de um “poeta delirante” – e sem modéstia ou ponderação alguma me considero entre “tais” – é preciso sacar terrenos e trilhas por onde seus pensamentos pisaram ou flanaram. Nem sempre são caminhos suaves. Podem ser verdadeiros campos minados ou mesmo caminho nenhum. Emboscadas. Muralhas intransponíveis. Portais do além e do aquém. Grutas abissais escuras. Escadas multicoloridas para “paraísos artificiais” – já parodiando Charles Baudelaire.
E por falar em Baudelaire, lá vai o primeiro livro-dica; “As Flores do Mal”. Uma das mais lindas e polêmicas obras da poesia simbolista francesa. Mas tem de ser lido, sugiro, na tradução incrível de Guilherme de Almeida. O mesmo ocorre com o segundo livro-dica da minha coleção; “Uma Estação no Inferno” do também francês simbolista Jean Arthur Rimbaud. É um livro para ser lido em português na tradução de Ledo Ivo. Essa tradução sim…revela um Rimbaud místico, dilacerante, gênio em todos os sentidos. Aliás, penso que toda obra de Rimbaud – poeta precoce que escreveu somente três livros entre os 16 e os 19 anos – tem de ser devorada em português através das traduções de Ledo Ivo. A editora L&PM fez um belo esforço lançando em “pocket-book” os livros de Rimbaud; mas com traduções bem inferiores. Baudelaire e Rimbaud são da mesma época e chegaram a se conhecer em “lupanares” de Paris do final do século XIX.
“Ulisses” do escritor irlandês James Joyce é um romance arrasador. Talvez, o mais radical de todos. O mais falado e o menos lido. Pudera. É lindo e complexo, hilário, sarcástico, genial, cheio de neologismos. Eu sugiro a magnífica tradução do Antônio Houaiss. Outro livro arrasador, voltando à poesia, é “Os Cantos” do americano Ezra Pound. A tradução de José Lino Grunewald é uma boa opção. Pound, um dos maiores de todos os tempos, despeja versos lindos e misteriosos como “e o exterior mitológico paira sobre o musgo na floresta”. Ou então; “com um inócuo vazio as virgens voltam aos seus lares”.
O quinto livro que exalto é “Folhas de Relva”, do também americano Walt Whitman. Há quem diga que Whitman seja o maior poeta dos EUA de todos os tempos, comparando sua importância para sua terra como a de Dante para a Itália. Creio que Leminski e Geir Campos o traduziram lindamente. Enfim, Whitman é simplesmente maravilhoso, humanista, espirituoso. Vejam essa; “O que pode haver de maior ou menor que um toque?”
“Obras Completas da Poesia Pau-Brasil” de Oswald Andrade é simplesmente uma coisa de louco. Imperdível. Talvez a mais original das poesias produzidas no Brasil. Um porém, o leitor iniciante ou desativado pode não enxergar, à primeira vista, poesia alguma na obra de Oswald. Mas ela está lá, existe com força e beleza totais. Desabrocha e se revela como uma mágica. Outro achado de um brasileiro fera é a coleção “Dez Livros” de Carlos Drummond de Andrade. Um livro que junta as dez primeiras publicações de Drummond e que, com o tempo, deixa de ser livro e passa ser um amigo, um conselheiro especial. Nos meus dias na Itália, matava a solidão e a saudade com Drummond.
O sétimo livro é “Nacked Lunch” ou “Almoço Nu”, romance sobre uso de drogas pesadas, do beatnick William Burroughs. Sintetiza em total categoria e humor absurdo o que Jack Kerouac e Allen Ginsberg quase conseguiram em “On The Road” e “Uivo”. O oitavo livro que me “pirou” foi “Gasoline & Lady Vestal” do também beatnick Gregory Corso. Quando jovem, tive uma banda de rock chamada Lady Vestal, pois amava Corso e suas labaredas de versos aloprados e incríveis como; “o sol pode ser puxado por carruagens”.
O nono livro dessa citação despojada é “Cartas na Rua” do simpático velho bêbado e tarado Charles Bukowski. É hilário e empolgante, traduz com leveza toda a alma atormentada do velho Buk.
O décimo; “Tantra, a Suprema Compreensão”, de Osho. Não é literatura, nem tampouco bobagens de autoajuda. Nem mesmo foi escrito como um “livro”. Trata-se de uma série de palestras do polêmico e controverso guru indiano compiladas num pequeno livro. Interessante como ele fala de elevação espiritual através do “sexo tântrico”, meditação, Mahavira, Tilopa. Osho puro !!!
Bem, citei dez livros da minha “bisbilhoteca”, mas poderia citar mais, como “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust, “Poemas e Canções” de Federico Garcia Lorca ou as coletâneas de Maiakoswski na visão dos poetas concretos brasileiros, ou João Cabral, Mário de Andrade, Lobato, Machado de Assis. Mas, daí então, o papo ficaria longo demais né. Beijos, abraços e até a próxima !!!
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Teteco dos Anjos, “músico, proto-poeta e jornalista” e com a cabeça cheia de ideias mirabolantes, escreve semanalmente, ou quando der na telha, no Almanaque Urupês[/colored_box]
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