Mulheres
Texto de Dafne Araceli Román
Algumas irão me chamar de machista, me desculpem, mas isso de que as mulheres são iguais aos homens é puro papo furado.
Somos únicas e diferentes, pensamos diferente, sentimos diferente, falamos diferente. Rimos diferente, choramos diferente, olhamos diferente, urinamos diferente, amamos diferente…
Sonhamos, e muito. Gostamos de divagar, conversar,ouvir histórias, criar histórias. Choramos quando nos dá vontade e onde nos dá vontade, sem que ninguém nos tache de fracas e sim de neurótica da TPM.
Amamos tudo o que é novidade, cores, chocolate, batons, brincos, colares, sapatos, e mesmo assim amamos botar aquela roupinha velha e ficar em casa escondida, sem ninguém ver você vestida assim. Às vezes colocamos aquela camiseta velha, um jeans e um par de tênis e desfilamos sem medo por lugares lotados de pessoas.
Se estivermos na TPM. Saia da frente. Traga flores, bombons e diga que nos ama e que somos importantes umas duzentas vezes no dia. Não poupe a sua paciência para nos aguentar. Dentro de nós, borbulham os hormônios. O corpo incha, a cabeça dói, os olhos afundam. Ficamos carentes e palavras ácidas e ferozes são expelidas pela boca sem nem ao menos pensar. Nos odiamos e odiamos todas as pessoas e coisas que possam estar por perto. São dias de terror. Depois, amamos tudo novamente.
O nosso choro, aquele que eu disse que soltamos em tudo que é lugar, muitas vezes se deve à retenção de água que ocorre no nosso organismo quando estamos de TPM, daí quando estamos “naqueles dias” surge a grande necessidade de eliminarmos o excesso. Por isso o mar de lágrimas que derramamos.
Somos uma das maravilhas da criação, capazes de carregar uma nova vida dentro de nós e de fazê-la crescer desde quando é menor que um grão de arroz até a hora de conhecer o mundo, simplesmente com o auxílio do nosso corpo. Somente nós, mulheres, somos capazes de capazes de abrigar em nosso próprio corpo a gênese do homem, guardiãs da vida.Amamentamos. Defendemos nossas crias como leoas, afiamosnossas garras e ficamos vinte e quatro horas por dia dispostas a proteger o indefeso ser de qualquer coisa que possa lhe machucar neste novo mundo.
Necessitamos nos sentir protegidas e gostamos muito quando conseguimos nos sentir plenamente protegidas, pois, consciente ou inconscientemente, nossa missão é cuidar de todos. Cuidamos das amigas que estão com o coração ferido, dos parceiros estressados ou doentes, dos pais quando ficam idosos a quem lhes falta atenção, dos filhos que a todo momento, querem colo, ainda que tenham crescido o suficiente para não caberem mais nele. Cuidamos sempre da limpeza da casa, dacomida, do corpo e da alma, dos deveres de casa, da caxumba do mais novo, do ralado de bicicleta do mais velho.Mulheres acordamos de madrugada, sempre, não apenas quando os filhos são pequenos e choram noites inteiras onde o único que faz o choro acalmar é o cheiro materno, mas quando crescem e são adolescentes, para ver se já chegaram em casa após a balada ou se ainda está sentado na frente daquele computador jogando jogos horríveis.
Nós mulheres somos capazes de tudo. Abrimosnossos próprios negócios. Aprendemos idiomas. Fazemos faculdade. Nos exercitamos. Fazemos dietas malucas. Viajamos sozinhas e tornamo-nos líderes de grandes empresas.
Somos diferentes, mas as nossas diferenças se perdem quando nos encontramos em meio à selva e precisamos lutar para conseguir chegar onde queremos. Pleiteamos um emprego com a mesma garra e capacidade que os homens e, às vezes, chegamos a ganhar até mais que eles.
É por conta destas diferenças que as relações entre homem e mulher se equilibram, se completam, se encaixam, se moldam. Revelamos nossa beleza e nossa funcionalidade a cada vez que podemos nos expor e expressar sem medo de ser tachadas de menininhas. Cada um com seus talentos e suas carências. Nos unindo como os fragmentos de papeis e pedras coloridas dentro de um caleidoscópio a formar belas imagens.
Somos estes seres tão diferentes e únicos, que sangramos, que parimos, que choramos, que amamos, nos doamos. Serem que lutamos, que sonhamos, que sofremos e que sabemos sem medo e com tanta clareza o significado das palavras amor, companheirismo, parceria, renuncia…
Recebemos o título de mulher por sermos únicas e diferentes ao mesmo tempo, por sermos acima de tudo, as únicas capazes de fazer com que nós seres humanos possamos habitar a terra. Os homens que me desculpem, mas vocês não sabem o que é ter um útero.
Ser mulher é saber se doar. Ser mulher é estar. É sentir, de forma intensa todas as emoções e sensações. Ser mulher é ser incansável, invencível, inigualável. Ser mulher é ser um pouco de todas as profissões. Meio bombeiro, meio professora, meio médica, meio psicóloga. Ser Fada Madrinha, Fada do Dente, Papai Noel. Costureira, cozinheira… Ser mulher é ser tudo e mais um pouco. Ser mulher é ter o coração mais grande que qualquer peito e qualquer bunda. Ser mulher é ser íntegra. Ser mulher é ter uma fé inabalável. É chorar de alegria e sorrir de tristeza. É ter a sensibilidade para distinguir um sorriso triste e uma lágrima falsa. Ser mulher é ser tudo isso e mais um pouco, é ser tudo o que quisermos ser, sempre, em qualquer lugar, o tempo todo. Ser mulher é uma dádiva.
[colored_box color=” yellow”] Canção na plenitude – Lya Luft
Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.
O texto acima foi extraído do livro “Secreta Mirada”, Editora Mandarim – São Paulo, 1997, pág. 151. [/colored_box]
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Dafne Araceli Román é argentina, escritora, professora de Espanhol e Português com formação em Letras. [/colored_box]
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