Na vida tudo se tenta

 Na vida tudo se tenta

Por Renato Teixeira

 

Tentamos de tudo nessa vida para sermos aquilo que imaginamos ser o melhor para nós mesmos. Vi nitidamente durante o crescimento dos meus filhos que o ser humano tenta desde menininho. Somos máquinas de pegar, magníficos robôs e transportadores inigualáveis. Nem as formigas conseguem as nossas perfeições laboriosas. O homem trabalhando é algo que só mesmo a intimidade que temos com essa ação para impedir que vejamos o tamanho dessa grandeza. Acertamos porque tentamos. Somos exuberantes tentadores. Os humanos são inventores alucinados, idealizadores portentosos e também, as vezes, muitas, absolutamente frágeis e imperfeitos.Quando o vento vem de direções erradas, nos tornamos facilmente desmontáveis e quebráveis. Às vezes, uma tentativa que falha modifica o destino do mundo. Durante a vida, vamos remanejando as coisas e fazendo mais gente. É importante que a existência traga boas sensações nem que para isso precisemos forjar determinadas situações. A felicidade é uma arma quente, já dizia Lennon, o assassinado. É uma arma para ser usada com amor.Existe o cérebro, poderoso laboratório de análises emocionais que, com a manutenção em dia, pode fazer do condutor um ser “feliz”… simplesmente isso.O homem, durante milênios sem fim, tentou voar, até que conseguiu. Tudo é precedido por alguma tentativa. Ela é o principio de tudo. Primeiro, tentamos nos comunicar à distância, a pé e a cavalo; depois, o pombo correio, o telégrafo, o telefone…Viver é um transcorrer sem fim de tentativas. Acertar num projeto representa uma ação bem sucedida que se tentou e deu certo. Todos ganham quando um acerta. Até os que perdem, ganham uma lição. Quando erramos, sempre acabamos pagando o preço justo pois com as tentativas simplesmente não se negocia. Quanto maior a altura, maior é o tombo. A altura é a tentativa. Se tenta de tudo. Quando saí de Taubaté foi para tentar a sorte na música, como diziam meus parentes e amigos.

 

Paulo de Tarso, em 1968, a bordo de uma barca no Rio São Francisco, com o papagaio Diógenes no braço do garoto
Paulo de Tarso, em 1968, a bordo de uma barca no Rio São Francisco,
com o papagaio Diógenes no braço do garoto

 

 

Estou falando tudo isso porque essa semana o Sr Paulo de Tarso Venceslau completa seus primeiros setenta anos. Talvez, se usarmos o poder das parábolas, seja esse o seu terceiro ou quarto setenta anos, já que a contabilidade se articula em outras potências aritméticas quando medimos homens vivos que fazem parte da história de seu povo e de seu País.Não vou nem falar da sua atuação como cidadão taubateano, sempre lutando com pura honestidade e raríssima lucidez por uma cidade mais digna e mais justa, porque essa relação é uma relação de amor profundo e, como sabemos, nas relações amorosas desse porte não devemos dar palpites nem pitacos. A vida é densa. A vida do Sr. Paulo de Tarso Venceslau é um exemplo. Os que o conhecem desde os tempos juvenis sabem que seu caráter sempre foi seu condutor, sempre foi o agente de suas tentativas. Como todos, acertou e errou muitas vezes, porque era isso que lhe estava reservado.Sua juventude que poderia ter se concluído nas piscinas refrescantes do TCC, seguiu por um caminho completamente perigoso e arriscado. Decidiu-se contra a ditadura militar e essa foi sua grande e bem sucedida tentativa.Não sou eu nem você quem irá julgar o que aconteceu com nosso estimado editor chefe durante os anos chumbados no Brasil, pois, certas coisas, só a análise do tempo será justa e verdadeira. Os fatos que irão prevalecer serão os verdadeiros, os que, na avaliação ampla da história, estarão exaustivamente medidos e analisados.

 

Dezembro de 1970, no momento em que seria banido do território nacional
Dezembro de 1970, no momento em que seria banido do território nacional

Na maioria dos casos, os que se intitulam protagonistas e se auto proclamam vencedores, serão identificadas pela história da nação como vítimas exacerbadas da demência do poder. Afirmo com toda convicção que o Sr. Paulo de Tarso Venceslau não só venceu a ditadura numa luta na qual foi um dos protagonistas, como colaborou efetivamente para que o Brasil recente vivesse esse momento de profunda e difícil autocrítica, buscando um futuro mais decente para todos.Sinto um orgulho imenso de ser amigo do Sr. Paulo de Tarso Venceslau e de colaborar com ele nessa sua retumbante relação afetiva com Taubaté, o Jornal Contato. Agradeço a ele por todas as tentativas que fez na vida em nome da liberdade dos meus filhos e dos meus netos e da minha própria. Vale muito a pena ser amigo de um herói.

 

(Publicado originalmente no Jornal Contato edição 612 – http://jornalcontato.com.br/home/)

 

Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook e twitter

almanaqueurupes