Na vida tudo se tenta
Por Renato Teixeira
Tentamos de tudo nessa vida para sermos aquilo que imaginamos ser o melhor para nós mesmos. Vi nitidamente durante o crescimento dos meus filhos que o ser humano tenta desde menininho. Somos máquinas de pegar, magníficos robôs e transportadores inigualáveis. Nem as formigas conseguem as nossas perfeições laboriosas. O homem trabalhando é algo que só mesmo a intimidade que temos com essa ação para impedir que vejamos o tamanho dessa grandeza. Acertamos porque tentamos. Somos exuberantes tentadores. Os humanos são inventores alucinados, idealizadores portentosos e também, as vezes, muitas, absolutamente frágeis e imperfeitos.Quando o vento vem de direções erradas, nos tornamos facilmente desmontáveis e quebráveis. Às vezes, uma tentativa que falha modifica o destino do mundo. Durante a vida, vamos remanejando as coisas e fazendo mais gente. É importante que a existência traga boas sensações nem que para isso precisemos forjar determinadas situações. A felicidade é uma arma quente, já dizia Lennon, o assassinado. É uma arma para ser usada com amor.Existe o cérebro, poderoso laboratório de análises emocionais que, com a manutenção em dia, pode fazer do condutor um ser “feliz”… simplesmente isso.O homem, durante milênios sem fim, tentou voar, até que conseguiu. Tudo é precedido por alguma tentativa. Ela é o principio de tudo. Primeiro, tentamos nos comunicar à distância, a pé e a cavalo; depois, o pombo correio, o telégrafo, o telefone…Viver é um transcorrer sem fim de tentativas. Acertar num projeto representa uma ação bem sucedida que se tentou e deu certo. Todos ganham quando um acerta. Até os que perdem, ganham uma lição. Quando erramos, sempre acabamos pagando o preço justo pois com as tentativas simplesmente não se negocia. Quanto maior a altura, maior é o tombo. A altura é a tentativa. Se tenta de tudo. Quando saí de Taubaté foi para tentar a sorte na música, como diziam meus parentes e amigos.
Estou falando tudo isso porque essa semana o Sr Paulo de Tarso Venceslau completa seus primeiros setenta anos. Talvez, se usarmos o poder das parábolas, seja esse o seu terceiro ou quarto setenta anos, já que a contabilidade se articula em outras potências aritméticas quando medimos homens vivos que fazem parte da história de seu povo e de seu País.Não vou nem falar da sua atuação como cidadão taubateano, sempre lutando com pura honestidade e raríssima lucidez por uma cidade mais digna e mais justa, porque essa relação é uma relação de amor profundo e, como sabemos, nas relações amorosas desse porte não devemos dar palpites nem pitacos. A vida é densa. A vida do Sr. Paulo de Tarso Venceslau é um exemplo. Os que o conhecem desde os tempos juvenis sabem que seu caráter sempre foi seu condutor, sempre foi o agente de suas tentativas. Como todos, acertou e errou muitas vezes, porque era isso que lhe estava reservado.Sua juventude que poderia ter se concluído nas piscinas refrescantes do TCC, seguiu por um caminho completamente perigoso e arriscado. Decidiu-se contra a ditadura militar e essa foi sua grande e bem sucedida tentativa.Não sou eu nem você quem irá julgar o que aconteceu com nosso estimado editor chefe durante os anos chumbados no Brasil, pois, certas coisas, só a análise do tempo será justa e verdadeira. Os fatos que irão prevalecer serão os verdadeiros, os que, na avaliação ampla da história, estarão exaustivamente medidos e analisados.
Na maioria dos casos, os que se intitulam protagonistas e se auto proclamam vencedores, serão identificadas pela história da nação como vítimas exacerbadas da demência do poder. Afirmo com toda convicção que o Sr. Paulo de Tarso Venceslau não só venceu a ditadura numa luta na qual foi um dos protagonistas, como colaborou efetivamente para que o Brasil recente vivesse esse momento de profunda e difícil autocrítica, buscando um futuro mais decente para todos.Sinto um orgulho imenso de ser amigo do Sr. Paulo de Tarso Venceslau e de colaborar com ele nessa sua retumbante relação afetiva com Taubaté, o Jornal Contato. Agradeço a ele por todas as tentativas que fez na vida em nome da liberdade dos meus filhos e dos meus netos e da minha própria. Vale muito a pena ser amigo de um herói.
(Publicado originalmente no Jornal Contato edição 612 – http://jornalcontato.com.br/home/)
Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook e twitter