As touradas em Taubaté
Ruas como Dr. Jorge Winther, Jacques Félix e 4 de março sediavam as touradas no século 19
Por Amanda Oliveira
As touradas são conhecidas em todo mundo e são populares principalmente na Espanha e em Portugal. Alguns as tratam como um esporte cruel, outros como identidade cultural, mas o que muitos não têm conhecimento, é que o Brasil já foi palco desses eventos.
Vitor Andrade Mello afirma que as touradas eram assistidas e praticadas por todo Brasil desde o século XVIII, habitualmente “em conjunto com as cavalhadas, normalmente por ocasião de datas festivas”. Eram comemoradas com pompa, demonstrando fidelidade colonial. As festas duravam muitos dias e as “corridas de touros ocupavam lugar de destaque e eram bastante apreciadas pela população”.
Com a chegada da família Real portuguesa, as touradas se tornaram constantes, devido os diversos eventos da realeza no Rio de Janeiro e em São Paulo. A partir de 1820, as touradas abandonaram somente o aspecto festivo e tornaram-se mais organizadas, administradas por empresários que, além das corridas, promoviam outros divertimentos, como acrobacias, ginástica e circo de cavalos. Nesse momento tinham calendário próprio, contratações, “empresários” que lucram com essa atividade.
No ano de 1881 o Jornal a Gazeta de Taubaté passou a noticiar touradas em Caçapava e Tremembé, na festa do Senhor Bom Jesus. Em Taubaté, a primeira informação sobre as touradas é do mesmo Jornal A Gazeta de Taubaté de 14 de agosto de 1881, que informou sobre o espetáculo que o empresário Sr. Duarte Leitão iria realizar na cidade de Taubaté por ocasião da sagração do Dom José Pereira da Silva Barros, bispo de Olinda.
No dia 17 de julho de 1890, O Noticiarista, publicou um anúncio da festa de Tremembé, e entre as comemorações profanas, estavam as touradas. Deram ênfase aos touros salientando que eram “o terror da humanidade”. Na avaliação da festa, publicada pelo mesmo jornal no dia 14 de agosto de 1890, o escritor afirma que as touradas ocorreram nos dias 3, 4, 5,6 e 7 de agosto. Em sua descrição diz que o chefe dos bandarilheiros foi derrubado pelo primeiro touro que entrou na arena, impossibilitando que fizesse outras manobras interessantes. Segundo ele, quem salvou as touradas foi Frederico Llado, o El Maneta que “No 3º dia de espetáculo o Maneta excitou tal enthusiasmo na platèa, que a cada sorte muitos chapeos foram lançados das archibancadas para o meio do circo, ao som de phreneticos applausos” (sic).
Ao final do espetáculo dos dias 26 e 27 de dezembro de 1896, o último touro foi destinado a quem tivesse coragem de montá-lo e quem o fizesse ganharia uma quantia em dinheiro. O Jornal de Taubaté de 1905 relata que “José Puro, que também mostrou destreza e coragem, montou o bicho até cançal-o (sic)”. Em 1906, o toureiro e empresário Fernando Blasco, fez corridas de touros à noite, o que era novidade para os taubateanos.
Abaixo segue a relação dos lugares que ocorreram touradas em Taubaté, retirado de diversos jornais da cidade:
- Largo Costa Guimarães (Praça Santa Terezinha) – 1881
- Rua Jacques Félix – ruinha – 1890/91
- Praça Rua Coronel João Afonso – 1893
- Largo Dr. Paula Toledo (Mercado) – 1903/10
- Rua 4 de Março –Velódromo -1905/06
- Rua Doutor Winther – 1906.
- Praça Parque Dr. Barbosa – 1898/1913
Tem-se notícias das touradas nos jornais taubateanos até 1913, mas parece que aos poucos o interesse foi se modificando. Sabe-se que no Brasil as touradas foram proibidas por meio do Decreto n. 24.645 – de 10 de julho 1934, por Getúlio Vargas, no qual estabelece medidas de proteção aos animais. No Artigo 3, Inciso XXIX, a lei considera maus tratos – “Realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie diferente, touradas e simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado”.
As touradas de Taubaté foram relatadas por Oswaldo Barbosa Guisard em seu livro “Taubaté no aflorar do século”, no qual ele descreve não só os espetáculos, como também a vestimenta, a postura dos toureiros nas apresentações e as habilidades dos famosos toureiros e toureira que passaram por Taubaté. Essas memórias registradas nos deixam fragmentos de como eram os momentos por eles vividos, com suas particularidades, sentimentos, e que sem eles não teríamos um ponto de partida para entendermos nossa própria cultura, nossas heranças.
A existência de touradas em diversas regiões do Brasil, incluindo Taubaté, vem confirmar a importância destes registros que tornaram-se vestígios de um passado que embora ainda próximo, se parece estranho, pois as touradas são vistas pelos brasileiros hoje como uma prática espanhola, bem distante de nossas terras.
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Amanda Valéria de Oliveira Monteiro é formada em História pela Universidade de Taubaté. Mestranda em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Trabalha no Arquivo Histórico Municipal Felix Guisard Filho com documentos datados a partir do Século XVII.
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1 Comment
GOSTARIA DE SABER SOBRE ENFORCAMENTO EM TAUBATÉ-SP.
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