1886: o último espetáculo do Imperador em Taubaté
Capítulo 16 sobre a passagem de D. Pedro II pelo Vale do Paraíba
Texto de Glauco Santos
Na última viagem oficial do Imperador D. Pedro II ao Vale do Paraíba, a comitiva chegou a Taubaté, onde de início iria parar apenas para almoçar, mas ao contrário de Pindamonhangaba, sendo bem recebida pelo então Barão de Tremembé, decidiu ficar mais tempo. Na estação d. Pedro II foi recepcionado por autoridades judiciais e policiais, pela Câmara Municipal que foi em corporação, além de uma comissão da colônia italiana e de muitos populares que se aglomeravam nos arredores (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Enquanto a banda de música Princesa Imperial tocava, ocorreu um momento inusitado e constrangedor para as autoridades taubateanas. Um perspicaz batedor de carteiras conseguiu furtar o relógio e a corrente de ouro do Marquês de Paranaguá, “afirmaram outros, entretanto, que o roubado fora o dr. Francisco Ribeiro de Moura Escobar, então delegado de polícia de Taubaté” (Correio do Vale do Paraíba, 28 de dezembro de 1945, p. 5). Após o incidente, dirigiram todos para a fábrica de óleos minerais, ao gasômetro e ao laboratório da mesma fábrica, onde o sr. Falcão Filho respondeu a todas as questões do Imperador.
O Barão de Tremembé ofereceu aos monarcas e comitiva um grandioso almoço. O titular havia preparado tanto o palacete quanto as ruas que levariam a comitiva Imperial, construindo três coretos próximos a sua residência, de onde tocavam as “banda Princesa Imperial, regida pelo saudoso João do Carmo, a Filarmonica Taubateense, regida por Manoel A. Borges; e uma secção da banda do corpo de Permanentes, de São Paulo” (Correio do Vale do Paraíba, 28 de dezembro de 1945, p. 5). Ao entrar no palacete do Barão, duas meninas jogaram pétalas de rosas sobre Suas Majestades. Lá dentro, antes do almoço, o Imperador recebeu a comissão da colônia italiana que prosperava em Taubaté.
Terminado o almoço, o Barão de Tremembé levou o Imperador e a Imperatriz para visitarem a igreja e o Colégio do Bom Conselho, na época dirigido por irmãs de São José. As alunas do colégio cantaram o hino de saudação e os monarcas percorreram todo o estabelecimento, demorando-se mais do que o esperado (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2).
Saindo de lá, se dirigiram ao prédio da cadeia e Câmara, sendo recebidos pelos vereadores que estavam em posição de corporação. O Imperador entrou em cada cela e começou a interrogar os presos, fazendo diversas observações sobre a prisão subterrânea, quando se deparou com sete escravos. “Uma das pessoas que o acompanhavam tendo dito que aqueles escravos estavam presos por ordem dos seus senhores, os quais se julgavam com direito de assim fazer, o Imperador acrescentou: ‘Em suas casas’” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Sobre o prédio da Câmara Municipal o achou muito velho e em mal estado, afinal o edifício havia sido construído em 1645 e tinha passado por poucas reformas. Novamente d. Pedro II pediu que lhe mostrassem os padrões de pesos e medidas, mas os vereadores não os encontraram, contrariando o Imperador.
Foram então à igreja Matriz, onde se encontrava grande número de pessoas. O monarca “passou entre duas alas formadas pelas alunas da 2ª cadeira da escola publica regida por d. Bernardina Maria Bueno Barretto” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). As alunas ofereceram ao Imperador, ao ministro da agricultura e ao presidente da Província de São Paulo lindos buquês de flores naturais.
Visitou o Hospital Santa Izabel, sendo recebido por Joaquim Vieira de Moura, então vice-provedor, onde percorreu todas as alas e enfermarias. Em uma das dependências, d. Pedro II “chamou a atenção do sr. Barão de Sabóia para uma preta que apresentava no rosto um enorme sarcoma tomando todo o maxilar superior” (Correio do Vale do Paraíba, 28 de dezembro de 1945, p. 5). Na saída, orou na capela de Santa Izabel, assinando o livro de visitas e deixando uma quantia de 100 mil réis para auxiliar a administração do hospital. Dali continuaram a “inspeção Imperial” por Taubaté. Mas, isto é história para o próximo artigo.
________________
Referências bibliográficas
Correio do Vale do Paraíba, 28 de dezembro de 1945.
Correio Paulistano, São Paulo, 20 de outubro de 1886.
[box style=’info’] Glauco de Souza Santos
É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.
[/box]
Acompanhe o Almanaque Urupês também na nossa página do facebook e twitter