1884: uma Princesa malvista em Lorena
Capítulo 11 sobre a passagem de D. Pedro II pelo Vale do Paraíba
Texto de Glauco Santos
No dia seguinte, os príncipes visitaram a recém-construída Igreja de São Benedito, erguida graças aos esforços e dinheiro do Visconde de Moreira Lima. A “capela-mór, com altar de mármore e demais peças, fora importada da Europa e montada em Lorena” (SOBRINHO, 1978, p. 102). Em suas cartas, a Princesa Isabel faz uma análise criteriosa de cunho artístico sobre o interior do templo, mostrando ares de criticidade: “visita à Igreja, bem bonita, sobretudo interiormente, a não ser um Santo que teriam feito melhor vestir, sendo de mármore e um baldaquim escarlate com uma armação de pau, que teriam feito melhor suprimir. As torres não me agradam muito, e não acho, à Igreja, um cunho bastante religioso” (DAUNT, 1957, p. 26).
Dali seguiram de bondinho de tração animal para o maior empreendimento industrial do Vale do Paraíba paulista àquela época: o Engenho Central de Lorena. Todo financiado e construído pela família Moreira Lima, o Engenho possuía vapores fluviais e ramal ferroviário próprios, chamando a atenção e o interesse do Conde d’Eu (SOBRINHO, 1978, p. 104). Novamente, a Princesa Isabel relata em suas cartas a d. Pedro II a passagem pelo Engenho do Visconde: “visita ao Engenho Central, muito interessante. O Pedro [filho primogênito da Princesa] seguiu todo o processo, com o maior interesse” (DAUNT, 1957, p. 26).
No mesmo ano de 1884, o titular recebeu a comenda da Ordem de Cristo como forma de recompensa pelos relevantes serviços que o titular prestara à indústria nacional (RODRIGUES, 1942, p. 164). Relação direta teve essa comenda recebida pelo então Visconde com a inauguração do Engenho Central durante a presença da Princesa Isabel naquele ano.
Tanto essa visita, quanto a realizada em 1868 parecem ter ficado guardadas nas memórias dos ilustres viajantes. Anos mais tarde, em 1921, o Conde d’Eu ao saber do mau estado de saúde do Conde de Moreira Lima, o enviou uma carta relembrando as duas visitas realizadas em Lorena: “sinto profundamente saber que seus incômodos de saúde o obriguem a uma vida retraída, e assim me privem da grande satisfação de abraça-lo, pessoalmente e renovar as lembranças sempre presentes das horas prazenteiras, passadas gozando a hospitalidade de sua distinta família, em 1868, 1884 e outras” (SOBRINHO, 1978, p. 100).
Aparentemente tudo ocorreu na mais perfeita harmonia e os príncipes foram muito bem recebidos. Porém, quando se apagam as luzes da festa, acendem-se o fogo das más línguas. A imagem do casal de príncipes já estava bem arranhada devido aos resquícios da Guerra do Paraguai e aos conflitos de uma sociedade escravocrata que não via com bons olhos as declarações de apoio da Princesa Isabel aos abolicionistas. Nessa última visita da Princesa Isabel, a futura Baronesa de Santa Eulália, irmã do então Visconde de Moreira Lima, escrevendo a uma de suas colegas sobre as festividades de recepção ao casal de príncipes, relatou: “eu não faço parte e nem tomo parte em nada, porque seu Pai não gosta da Princesa” (AZEVEDO, 1962, p. 38), deixando claro sua indisposição em fazer parte daquele teatro armado pelo irmão. Evangelista (1978, p. 179) descreve que “muitas das meninas das melhores famílias não jogaram pétalas de rosa no casal, quando chegou ao palacete, e muitas senhoras não participaram nem do jantar de gala, nem do concerto e nem do baile na residência do Dr. Teófilo Braga”.
Se em 1868, os dias em que os príncipes permaneceram em Lorena foram extremamente concorridos, conforme relatado nesta série, em 1884 a Princesa Imperial e seu Augusto Esposo pareciam não mais atrair tanta gente.
Dali partiram para Guaratinguetá com o intuito de agradecer a Nossa Senhora Aparecida pela graça alcançada de engravidar do herdeiro do Império.
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Referências bibliográficas
AZEVEDO, A. Arnolfo de Azevedo – infância e adolescência (1868 a 1887). São Paulo: Nacional, 1962.
DAUNT, R. G. Diário da Princesa Isabel: excursão dos Condes D’Eu à Província de São Paulo em 1884. São Paulo: Anhembi, 1957.
RODRIGUES, Gama. O Conde de Moreira Lima. São Paulo: IGB, 1942.
SOBRINHO, A. M. A civilização do café, 1820 – 1920. (Cap. XIII: Imperadores e príncipes no Vale). Ed. Brasiliense, 1978.
[box style=’info’] Glauco de Souza Santos
É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.
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