1868: um bosque para uma Princesa
Capítulo 5 da história de D. Pedro II no Vale do Paraíba
Texto de Glauco Santos
A cidade de Pindamonhangaba tentou encantar o casal durante a breve visita que fizeram à localidade. Nos três dias que ali permaneceram, tiveram como principal anfitrião o Barão da Palmeira, que não mediu esforços para tornar sua estada a mais aprazível possível.
Em 10 de dezembro de 1868, a Câmara Municipal se reuniu em sessão extraordinária para “se accordar sobre algumas medidas appropriadas, afim de que, a chegada, á esta Cidade, da Sereníssima Princesa Imperial a Senhora Dona Izabel e seo Augusto esposo, fosse feita com todas as solemnidades devidas á tão distinctos hospedes” (Ata da Câmara, 10 de dezembro de 1868). Uma comissão composta de três membros foi nomeada para ser responsável pelos festejos no dia da chegada dos príncipes, “podendo esta para esse fim, dispender o que fôr necessário dos cofres Municipaes” (Ata da Câmara, 10 de dezembro de 1868). Um dos membros da comissão foi o então vereador Francisco Marcondes Homem de Melo, na época 2º Barão de Pindamonhangaba e titular mais poderoso da localidade. Ele foi pai do conhecido Barão Homem de Melo, presidente das províncias de São Paulo, Ceará, Rio Grande do Sul e Bahia, chegando a ser ministro dos negócios do Império, no Gabinete Saraiva.
O presidente da Câmara solicitou também que todos os vereadores estivessem presentes na chegada dos príncipes para recebe-los e participarem do Te-Deum na igreja Matriz, que deveria ser organizado pelo vigário para tal ocasião. A corporação musical também foi avisada para preparar os toques e marchas característicos desse evento oficial. Além disso, deliberou-se que se fizesse afixar o edital de convocação para toda a população “iluminarem as frentes de suas casas durante as noutes da estada de SS. AA. nesta Cidade” (Ata da Câmara, 10 de dezembro de 1868).
Um dos grandes destaques da estada da Princesa Isabel e do Conde d’Eu em Pindamonhangaba, foi a construção do Bosque da Princesa pelo Barão da Palmeira. A pedido do Barão, o presidente da Câmara comprou uma faixa de terra de aproximadamente 450 m2 que se localizava entre o palacete do titular e o rio Paraíba do Sul, exatamente onde hoje se encontra o parque municipal Bosque da Princesa. Obviamente que esta denominação veio posteriormente, pois até 1869 o local era conhecido como Largo do Porto. A intenção do Barão da Palmeira era construir um requintado lugar que o casal, recém-casado, pudesse desfrutar alguns momentos de privacidade. O titular “mandou vir da França botânicos e um desenhista para remodelar completamente o logradouro, resultando num bosque com diversos tipos de árvores, de várias origens e de várias espécies” (GUIMARÃES, 2007, p. 50).
Infelizmente chegou até nós poucos relatos dos três dias em que os príncipes estiveram em Pindamonhangaba. Mas, a ata da Câmara Municipal de 16 de dezembro de 1868 traz uma importante descrição do discurso proferido pelos vereadores à Princesa Isabel e ao Conde d’Eu. Como de costume, os vereadores foram em corporação receber os príncipes e realizaram o seguinte discurso:
Senhora – a Camara Municipal desta Cidade dirige-se, em corporação, para saudar Vossa Alteza Imperial e Vosso Augusto Espozo. Esta Camara, Senhora, intérprete fiel dos sentimentos de pura estima que seus Municipes consagrão á Monarchia do Brasil, agradece cordialmente á Vossa Alteza Imperial e á Vosso Augusto Espozo a honrosa visita, que acabão de fazer-lhes, e dirige ardentes votos ao Todo Poderozo para que a excursão de Vossas Altezas pelo majestoso Valle do nosso Parahyba, seja coroada do mais felis resultado (Ata da Câmara, 16 de dezembro de 1868).
No dia 16 de dezembro o casal partiu de Pindamonhangaba e chegou à Taubaté, última cidade da província de São Paulo a visitarem antes de retornarem à Corte, para atender ao chamado de d. Pedro II.
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Referências bibliográficas
GUIMARÃES, B. Recontando a História de uma Princesa. Pindamonhangaba: São Benedito, 2007.
Ata da Câmara de Pindamonhangaba, 10 de dezembro de 1868.
Ata da Câmara de Pindamonhangaba, 16 de dezembro de 1868.
[box style=’info’] Glauco de Souza Santos
É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.
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Veja também:
– As viagens de d. Pedro II ao Vale do Paraíba;
– 1868: uma Princesa devota – chegada ao Vale;
– 1868: uma Princesa devota, uma Santa e um ex-escravo;
– 1868: uma Princesa devota, uma Santa e um guarda nacional;
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