As festas juninas no dia de São Pedro em Taubaté
A melhor das festas da roça, era na casa do senhor Benedito Faustino, no bairro da Pedra Grande. Era no dia de São Pedro, 29 de junho. Havia uma capela relativamente grande, ao lado da casa, que ficava cheia de gente. O capelão era José Antônio Felício e o ajudante para fazer a segunda voz , ou “repartir o canto” como diziam era o Angelino. O capelão julgava-se importante e chegava com muita pose. Ajoelhava-se em frente ao altar, fazia o Sinal da Cruz acompanhado por todos o presentes. Até aí, ia tudo muito bem, todos com o maior respeito. Então ele começava a cantar a ladainha em latim, mais ou menos assim: _ ” Quérié léizão, quéristé léizão” … Nesse momento, soltavam inúmeros rojões lá fora, e os cachorros (cada família da roça tinha um ou mais cachorros), ficavam com medo e entravam todos pela igreja, escondendo-se entre as pernas das pessoas. As crianças começavam a gritar, chorar de medo, tanto dos rojões, como dos cachorros, e as mocinhas caíam na risada. Dava um ataque de risos na nossa turma, que ia até o fim da reza.
A Aparecida, que foi criada na cidade, não estava, como nós, habituada aos costumes dos caboclos, achava graça em tudo e não continha o riso. Ela sempre começa, depois ninguém mais parava de rir. Uma não podia olhar para a outra, principalmente na hora do latim, muito mal pronunciado, que o capelão rezava com orgulho. O povo da roça não gostava quando alguém criticava os seus costumes, por isso muita gente tinha cisma da Aparecida, mas, bem que nos divertíamos com ela.
Depois da reza, levantavam o mastro, com o retrato do santo na bandeira. Havia grande quantidade de doces de abóbora, batata e cidra. O doce de cidra feito com rapadura chamava-se “furrundum”, e era uma delícia.
Os doces eram servidos em tigelinhas de louça. As bebidas eram café e quentão. As mulheres preferiam o café, porque achavam que beber quentão e sair no sereno, dava resfriado. Logo começavam as danças. Na sala, o “Batuque” e o “Cateretê”, que era dançado somente por homens. No terreiro, onde havia uma grande fogueira, formava-se ali perto uma roda de “Jongo”, que ia até o amanhecer.
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Texto retirado do livro Tempo e Memória de Maria Thereza Ramos Marcondes. Na obra, a autora relembra sua infância e juventude passadas na Fazenda de São Joaquim no bairro do Mato Dentro do Macuco , zona rural de Taubaté.
Imagem: Preparo do Furrundum. Foto de Pedro Martinelli (http://www.pedromartinelli.com.br/blog/furrundum/)
1 Comment
Muito legal, ja tive a oportunidade de conhecer esta igreja no Bairro Pedra Grane.
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