Sintaxe caipira do Vale do Paraíba pt. 3/3

 Sintaxe caipira do Vale do Paraíba pt. 3/3

 

I. Veja a primeira parte desse artigo

II. Veja a segunda parte desse artigo

 

Cadernos de receitas

Quase todas as casas antigas têm o seu caderno de receitas, um manuscrito que atravessa gerações. As medidas, a linguagem são interessantes como vemos nas receitas abaixo, copiadas de antigo manuscrito de família:

Broa de fubá

1 prato de farinha de trigo para fermento, 2 pratos para amassar, 1 de fubá grosso passado em peneira bem fina, 8 ovos, 1 prato de gordura, açúcar até adoçar. 2 copos de leite, água até o ponto de pão. Amassa-se bem e deixa-se crescer na gamela. Depois de crescido, vai-se tirando com as mãos, em latas untadas com gordura. Forno quente.

Rosquinha de polvilho

1 pires de angu de farinha de trigo feito com leite quente. Deita-se 2 pratos de tapioca azeda, 2 de gordura mal cheio, 6 ou 8 ovos. Amolece com leite. Sal à vontade. O ponto é o de bolo de leite. Faz-se em latas untadas com gordura. Vai ao forno brando e não se tira depois de torrado.

Pão doce de nhá Cândida

Começa-se com 1 pires de farinha de trigo, de noite. Noutro dia, 3 pratos de farinha, 12 ovos, 1 tigelinha de gordura, 1 colher de canela. Açúcar o quanto queira. Faz-se na véspera, em folhas de banana e assa-se no outro dia.
Tabus alimentares

Há coisa que “não se come” porque mata:

Banana com leite, Banana com manga, Banana da terra com água, Laranja com leite, pepino com ovo; maracujá com pinga; melancia com laranja; laranja com manga; garapa com melancia; andorinha é “veneno”; melancia e uva; frutas incões (inconhas) para as mulheres que faz gerar gêmeos; tatu-canastra (grande) “come defunto”; João-de-barro, “pássaro bençoado”, guarda os domingos e dias santos; pinga com sal – quem beber “não larga mais”, pinga com pólvora – quem beber “fica louco”.

 

GENTIL EUGÊNIO DE CAMARGO LEITE -1900-1983

Mestre de latim, Português, história da civilização, francês e sociologia. Lecionou em Taubaté e Catanduva, a várias gerações, cuja inteligência e personalidade aprimorou. No magistério prestou serviços como diretor e inspetor de ensino.

Laureado jornalista, folclorista e pesquisador das nossas histórias e tradições, usos e costumes, foi um dos fundadores da “Sociedade de História e Folclore de Taubaté”, também ingressando em diversas instituições folclóricas do Brasil. Firmou também parceria com o músico taubateano Fêgo Camargo compondo várias obras ainda hoje conhecidas. Seu nome é citado em importantes dicionários de autores nacionais.
Admirado por Monteiro Lobato, em discurso proferido no Rotary Club de Taubaté, em 15/09/52, sobre o cinqüentenário dos Sertões, apresentou a idéia de instituir a “Semana Monteiro Lobato”.
A obra de Gentil de Camargo, esparsa em jornais e revistas foi reunida pela primeira vez no livro “Poesia e Prosa”.

(Fonte: Taubaté: de Núcleo irradiador de bandeirismo a centro industrial e universitário do Vale do Paraíba, de Maria Morgado de Abreu)

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