Grandeza e decadência do Teatro São João

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No começo do século num período que chegou mais ou menos aos anos de 1907 a 1908 Taubaté teve a época de ouro do seu teatro.

Anúncio de apresentação no Teatro São João em 1900

Não havia ainda o cinema, nem o automóvel, e muito menos outros inventos que o progresso nos trouxe, como o cinema falado, o rádio, a televisão, e o teatro imperava como meio de recreação e cultura.       Dada a situação geográfica de Taubaté, entre os dois maiores centros’ populacionais do país — São Paulo e Rio de Janeiro — já servida pela Estrada de Ferro Central do Brasil, à nossa cidade, aportavam as melhores companhias teatrais brasileiras, que com suas apresentações imprimiam valioso estímulo à organização de muitos grupos de praticantes do teatro amador em Taubaté.

Vamos portanto anotar companhias teatrais e grupos amadores que “enfeitaram as noites de meu bem…” no tempo áureo do teatro na terra de São Francisco das Chagas.

Em 1904 subia à cena pelo Grupo Dramático “João Caetano” local, a peça em três atos “O Tio Padre” sendo que do elenco constavam os seguintes amadores: Eduardo Tinoco, Maurício Toledo, Maria Peixoto, Sócrates Peixoto e Afonso Vieira, parece-nos, este, o único sobrevivente do grupo. Completava o espetáculo a comédia “Uma criada impagável” onde aparecia entre alguns dos já citados como protagonistas, Eusébio de Toledo. Assinava o “Programa” Antenor Leite — Secretário. E o Grupo prosseguiu com sucesso apresentando o drama “A Filha do Marinheiro” e outras peças, comédias “Plano Infalível”, “Batisado e Casamento”.

A esse tempo andava por Taubaté o Circo “François” levando suas pantomimas, suas operetas, seus dramalhões, “O Guarany” (com uma grande apoteose, deslumbrante homenagem a Carlos Gomes) “A Estátua Branca”, “Os Salteadores da Calabria”, “A Toutinegra do Moinho”. Como destaques do conjunto a graciosa “vedete” Maneta François e o notável Eduardo das Neves, coringa do teatro circense, ator de mérito, palhaço e artista.

Ensaiavam os primeiros passos em nossa cidade os engenhos precursores do cinema, a “lanterna mágica”, o “biógrafo”, os “fantoches”, a “marmota” etc.

A propósito de exibições do “biógrafo” transcrevemos a seguir, uma pequena notícia, publicada em um jornal taubateano da época: “BIÓGRAFO — Mais três excelentes funções foram efetuadas nas noites de domingo, quinta e ontem, pelo Sr. José Barrucci, com o seu aperfeiçoado biógrafo.

Todos os quadros têm sido muito apreciados, com especialidade as vistas da cidade. Os preços reduzidos têm concorrido muito para as grandes enchentes, e nisso andou muito bem o Sr. Barrucci. O biógrafo seguirá brevemente para Guaratinguetá.”

O antigo Teatro São João

O imponente Teatro “São João”, o ponto “chic” da cidade regorgitava nas suas noites de grande sucesso com a magnífica Companhia Dramática “Ana Chaves” vinda diretamente do Rio de Janeiro. E havia ainda o Teatro “Dias Braga” com seus espetáculos muito concorridos. E a Companhia Ana Chaves continuava apresentando o vaudevile “Cenas da Capital Federal”, os “Sinos de Corneville”… “Fabiola”…

Multiplicavam-se os grupos de teatro amador em Taubaté: eram o “Furtado Coelho”, o “João Caetano”, o “Dias Braga”, a Sociedade “Malhado Rosa”, o “Recreativo Musical”, o “Centro Católico”, o “Centro Livre”, o “Infantil”, a “Associação Artística e Literária”, o Grupo Dramático “Ernesto Sampaio”, Grupo Dramático “Batista Góes” e outros mais.

Depois de “Ana Chaves” no Teatro “São João”, substuiu-a a “Companhia Teatral” de um renomado ator, Francisco dos Santos. E esta levou à cena “O Avarento” de Moliere, e “A Dor Suprema”, o “Conde de Monte Cristo” e “Os Dois Garotos”. A seguir o registro do saudoso e lendário Teatro “São João” apresenta a Companhia de Variedades da Empresa Salvador Lázaro, ainda com as casas regorgitantes. E assim foram correndo os anos de 1905 e 1906 para atingir o 1907, quando os espetáculos teatrais foram entrando para o crepúsculo que culminou com o fechamento do Teatro “São João”. Mas a crise do teatro ocorria também nas capitais já invadidas e naquele hiato dominadas as platéias pelo cinema. Artistas e companhias de renome exibiram-se em Taubaté em 1906 e 1907; a notável Ismenia Santos e sua companhia, voltavam à ribalta com a magnífica credencial de haverem inaugurado 30 anos antes o Teatro “São João”; a famosa “Companhia de óperas e Operetas” do fabuloso maestro, compositor e ator Dr. Assis Pacheco tendo como primeira atriz a brilhante intérprete dos palcos nacionais Medina de Souza, as Companhias de Francisco Manzo e Laudelina Castilho sob cuja direção brilharam também os amadores taubateanos Afonso Vieira, J. Olímpio, Mário Pereira, Alexandre Megrini e Nicolau Machado e Rosinha Coimbra. notável cantora da música clássica. O público taubateano foi dos primeiros a assistir “A Capital Federal”, há poucos anos reprisada em São Paulo.

O cinematógrafo, a invenção do gênio de Lumiere, entrou em Taubaté, com o Cinema Rio e o Taubaté Cinema, acompanhada em suas exibições pelas magníficas orquestras e o teatro foi fenecendo, fenecendo, e o monumental “São João” gigante de taipa, silenciou fechado para ser em nossa meninice durante alguns anos uma legendária página de saudade, abandonado às gratas recordações de um passado de grandezas luminosas, para os adultos, e para nós crianças do tempo, talvez um museu de duendes, um triste, melancólico casarão que a glória deixou, e em verdade, a pousada, um grande ninho de agourentas corujas. Assim desapareceu a época de ouro do teatro!

O cinema e o futebol grangeavam a preferência dos taubateanos, da coletividade, sem distinção. Resistiam as duas bandas de música; a “Philarmonica” e a Corporação “João do Carmo”, que continuavam então, abrilhantando as festas e também as partidas de futebol e os músicos divididos nas orquestras dos cinemas!

[box style=’info’] Oswaldo Barbosa Guisard (1903-1982) 

oswaldoFoi executivo da CTI, vereador e presidente da Câmara. Idealista, participou do grupo fundador da Semana Monteiro Lobato e por 30 anos foi seu principal divulgador, mantendo acesa a sua chama original. Batalhou com perseverança pela preservação e tombamento da Chácara do Visconde, local onde nasceu Monteiro Lobato. Sua fabulosa memória o levou a escrever o livro “Taubaté no aflorar do século, uma grande obra. [/box]

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