Quando trabalhava no DAAEE, meu pai ia regularmente ao Rio de Janeiro tratar de negócios numa secretaria. A ida ao Rio era um momento bastante interessante no dia a dia familiar porque o Rio era o Rio, uma cidade charmosa onde a vida parecia sorrir eternamente, como aquele Rio da Rádio Nacional, do carnaval, da bossa nova, das lindas praias… das chanchadas da Atlântica! Lembro que eu sentia o maior orgulho de meu pai todas as vezes que ele fazia essa viagem.
Viajar para São Paulo era mais comum. Eram viagens quinzenais e duravam apenas um dia. Gostava delas porque no retorno sempre havia uma lembrancinha. Mas o Rio de Janeiro era algo especial. Duravam dois, três dias e meu pai sempre voltava com muitas histórias. Ele adorava ir aos teatros de revista e nunca me esqueço do dia em que ele voltou contando que assistira um espetáculo com Grande Otelo, onde o grande ator ficava olhando por mais de cinco minutos pra platéia sem mover um músculo do rosto sequer.
No segundo minuto começavam os risos e a cena terminava num acesso de riso coletivo com gente passando mal de tanto dar risada.
Lógico que havia também os comentários sobre as beldades em trajes miúdos. Virginia Lane era uma das preferidas; as pernas perfeitas e aquela cara de menina safadinha, levavam os sérios varões familiares a loucura.
Recentemente tive a honra de conhecer a antológica vedete que entre outras coisas pelas quais passou na vida destaca-se a amizade colorida com Getulio Vargas. Estava a admirá-la, já uma senhora com mais de oitenta anos e ainda muito bela, quando ela vem em minha direção e se diz admiradora de meu trabalho; naquele momento meus olhos marejaram completamente. Na vida existem esses pontos convergentes que possuem a magia de ligar épocas e eliminar o tempo.
Mas, voltando às viagens de meu pai ao Rio, eis que um dia, sem mais nem menos, ele nos comunica que eu, por ser o filho mais velho, seria o primeiro a ir com ele para a cidade maravilhosa. Numa segunda oportunidade iria o Roberto, meu irmão. Confesso que só de lembrar esse momento, fico arrepiado até hoje.
Assim, numa linda manhã, partimos numa rural verde pilotada pelo senhor Wilson, um negro absolutamente simpático, com uma voz Armstrong e pai do Diogo, meu colega no Estadão!
Foi uma viagem inesquecível que só uma canção poderia dar conta da emoção do que foi aquilo. Dias para a vida toda!
Um dia, voando para conhecer Nova Iorque, fiz as devidas comparações e concluí que lugar algum da terra que eu viesse a conhecer me faria sentir a emoção que senti naquela primeira vez que eu fui ao Rio…
Certa manhã
Quando o sol mostrou a cara
Nós pegamos nossas malas
E eu fui conhecer o Rio
Eu e meu pai
Numa Rural já bem usada
Nos pusemos na estrada
Muito longa
Que nos leva ao Rio de Janeiro
Eu tinha lá
Meus quinze anos de idade
E era tanta a ansiedade
Que eu nem consegui dormir
A noite que
Precedeu nossa viagem
Foi noite de vadiagens
Pela imaginação
…fala baixo, coração!
Nos hospedamos
Num hotel muito elegante
Em plena Praça Tiradentes
Pois meu pai quis mostrar
Primeiro a parte
Da cidade que é cigana
Depois sim, Copacabana
Onde eu fui vestindo um terno
Passear em frente ao mar
À noite
A gente conheceu a Cinelândia
Com todo nosso recato
Fomos só apreciar
Antes do sono
Nós ficamos conversando
Sobre o medo que se sente
No bondinho
Um jeito muito carioca de voar
Foi muito curto
O nosso tempo de estadia
Mas valeu por muitos dias
De coisas pra conversar
Pra gente que
Leva uma vida mais tranquila
De um jeito quase caipira
Ir ao Rio de Janeiro
É o mesmo que flutuar…
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Renato Teixeira
Texto Publicado Originalmente no Jornal Contato
2 Comments
Eu acho que já li essa matéria no Jornal CONTATO. É isso mesmo? PTarso
Também acho…