Manual de intenções

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Texto de Renato Teixeira

Publicado no Jornal Contato edição 689

Qualquer gesto, atitude,decisão, precede uma intenção. A sociedade, assim, vai se articulando. Dessa soma alucinante de vontades e quereres, estabelece-se a verdade dos fatos.

Hoje, nesse Brasil, onde as leis já não assustam, percebe-se claramente o poder das intenções; algumas benignas, outras assustadoramente perversas e dissimuladas.

As “segundas intenções”, como são chamadas, são uma espécie de caixa dois do comportamento ético. Nos tempos dos nossos avós, na maioria das vezes, as atitudes dúbias eram bem menos nocivas porque a vida era mais simples, apesar dos pesares.

Num determinado momento da história recente, a astúcia foi perdendo o recato e, nesse principio de século, o que vemos é a articulação agindo a serviço das espertezas sem perceber que os tempos estão mudando.

Somando-se a isso o nível de escolaridade que agride o cidadão, o que temos é uma enorme massa de pessoas despreparadas convivendo com a idéia simplista de que podem ter acesso aos frutos das conquistas legítimas com uma simples jogada bem bolada.

Um número epidêmico de “segredos traiçoeiros” se espalha sobre todos os setores: nas relações de trabalho, no convívio social, na ordem política, etc. em nome de algum projetoque por alguma razão não pode ser revelado. Presume-se alguma ameaça fora do contexto.

Vejam o caso das “delações premiadas” que hoje protagonizam a cena política; para que possamos saber as verdades públicas, que temos direito de saber para que possamos nos organizar socialmente, só através do arrependimento de esperte alguns cidadãos desonestos que tentam escapar da cadeia.

A verdade mesmo, a “verdade verdadeira”, só judicialmente. Ninguém revela suas reais intenções quando está envolvido com algum negócio lucrativo que exija discrição. Fala-se uma coisa sabendo que se fará outra.

Mas agora uma outra realidade se apresenta: estamos vivendo os momentos finais da privacidade. O Grande Irmão, aquele “ser” que a todos tem, já nos vê o tempo todo com seus olhos mecânicos eternamente vigilantes e dispostos a agir com a frieza de um carrasco.

Então, é fundamental que “se esclareça”. Mesmo sabendo ser impossível qualquer “amplo esclarecimento” sobre qualquer coisa que seja, é fundamental que haja um mínimo de intenções comuns para que se possa avançar em direção de alguma coisa.

Para que haja harmonia, é preciso coordenar as intenções, deixá-las sãs e robustas, desimpedidas para que possamos agir sem restrições.

Somos imagens refletidas pelo mesmo espelho, sabemos as regras das comunidades, os costumes das nossas tribos.

O céu é o limite para os bem intencionados…

 

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