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by almanaqueurupes

A CERÂMICA POPULAR DE TAUBATÉ

maio 8, 2020
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Por Maria Morgado de Abreu*

Taubaté, cidade tri-centenária, conserva rico acervo de tradições que guardam influências das três raças básicas: lusa, africana e brasilíndia.

É uma herança multiforme, viva e colorida que se traduz em cariadas expansões da alma popular: nas alegres festas juninas e no farto repositório de crendices; nos ritmos contagiantes das danças folclóricas e nas tradicionais festas religiosas, na deliciosa ingenuidade da cerâmica popular e num “sem fim” de outros costumes pitorescos

Detalhe da página 29, da edição nº 73 da Revista Paulistânia, onde este artigo foi publicado originalmente
Detalhe da página 29, da edição nº 73 da Revista Paulistânia, onde este artigo foi publicado originalmente

A CERÂMICA POPULAR

Das heranças ancestrais, uma das mais valiosas é a arte ceramista de numerosos figureiros, que, demonstrando senso artístico, percepção e originalidade, fazem estória no barro.

De suas mãos hábeis, vão surgindo figurinhas que retratam tipos e cenas do povo, animais, crendices e tradicionais festanças.

A rusticidade na técnica, espontaneidade e pureza de concepção, caracterizam essa forma de manifestação artística, onde não falta uma certa dose de sátira individual e social.

HERANÇA E TRADIÇÃO

A habilidade na modelagem da argila, parece ser no Vale do Paraíba, mais uma herança portuguesa do que do índio ou do negro.

Nas regiões brasileira onde o contato com o índio foi menor, a cerâmica popular, deve ter maior ligação com a de Portugal que, dos países europeus, é um dos mais copiosos em artes populares e especialmente em olaria utilitária e decorativa.

Estremoz e Barcelos são exemplos de cidades portuguesas, onde a confecção de figurinhas de barro e peças de olaria, continua uma tradição popular.

Taubaté, inclui-se entre as poucas cidades brasileiras que preservam essa tradição.

Casa das tradicionais figureiras da Imaculada: Edith, Luiza e Cândida.
Casa das tradicionais figureiras da Imaculada: Edith, Luiza e Cândida.

INFLUÊNCIA CRISTÃ

Para Cecília Meireles “O grande veiculo da cerâmica popular no Brasil, como em outros países de influência cristã, parece ter sido o presépio”. (Cecília Meireles – “Aspectos da Cerâmica Popular” – ver. “Folclore”- nº1 – vol.2 – 1953 – pág. 46).

Na verdade, comenta a escritora brasileira, “O presépio mais simples inclui a Sagrada Família e dois animais: o burrinho e a vaca. Aí já temos vários exercícios de modelagem. A seguir vêm os pastores com seus carneiros e oferendas, vem o galo que deu o aviso, os Reis Magos com seus camelos, e começa a chegar gente de toda parte, cada qual com o seu modo de vida, com sua roupagem e as suas prendas”, (Opus Cit – Pág. 46).

O presépio, sendo antiga tradição do povo brasileiro, teve por certo, influência considerável, no desenvolvimento, da cerâmica popular do país.

Em Taubaté, armar presépio, é costume secular. Os antigos presépios, de grandes proporções, ocupavam em geral o principal cômodo da casa, que ficava rescendendo um cheiro gostoso de mato devido aos ramos de folhagem verde, colocados como saia do presépio, para encobrir sua armação.

Com tais proporções, eram usadas na montagem, – além de casinhas, igrejas, enfeites e das figuras tradicionais do Natal – muitas outras, representando o povo com seus usos e costumes.

As figuras, de confecção nacional ou mesmo estrangeira – principalmente portuguesa – era adquiridas e carinhosamente guardadas para os anos seguintes, pelas famílias que seguiam essa tradição cristã, ou a superstição segundo a qual, “se devia fazer presépio sete anos em seguida, senão, vinha desgraça”.

Muitas famílias, com menos posse ou mais habilidade manual e gosto artístico, faziam suas figurinhas de madeira ou de barro, fato que também foi se tornando tradição na cidade.

Ainda hoje em Taubaté e no Vale do Paraíba, a temática preferida na cerâmica popular continua sendo a das figuras natalinas.

São tradicionais e famosas, os presépios e implementos (barba-de-pau, flores de papel, lapinhas), vendidos nos domingos de dezembro, no Mercado Municipal de Taubaté, juntamente com centenas de outras figuras, de temas variados e de cunho profano, que vieram enriquecer a arte figurativa regional.

Atualmente – pela valorização e grande procura das figurinhas, como legítimas representantes da arte popular – os figureiros trabalham durante todo o ano e não só na época do Natal, e, o produto desse artesanato doméstico, é vendido nas casas dos figureiros ou na Feira do Pilar, nos domingos pela manhã.

Em dezembro, porém, os artesãos voltam a vender a cerâmica popular no largo do Mercado, como é tradição.

A importância do sentimento de religiosidade na tradição ceramista, aparece no fato de muitos figureiros serem também santeiros, conceituados na arte de reconstituir ou de fazer imagens.

O tradicional pavão dos figureiros da Imaculada feito pelas mãos de Eduardo Santos
O tradicional pavão dos figureiros da Imaculada feito pelas mãos de Eduardo Santos

A ARGILA

A argila ou barro, com dizem os figureiros, é matéria-prima abundante no Vale do Paraíba. Resultou da intensa sedimentação processada na Era Terciária, quando no Vale do Paraíba paulista, formou-se extensa lagoa de água doce. Com o escoamento das águas, a sedimentação aflorou em muitos pontos, o que explica a presença da argila e outros sedimentos lacustres em todo o Vale.

A tradição ceramista e cristã e a facilidade do barro, parecem explicar, a existência e continuidade da arte figurativa a que se dedicam em Taubaté, dezenas de famílias e figureiros isolados, num belo e tradicional artesanato.

DIFERENCIAÇÃO NA ARTE FIGURATIVA.

É curioso o fato de aparecerem nítidas diferenças entre as peças de barro feitas pelos figureiros do Morro de São João e São Pedro e as modeladas por ceramistas de outros locais da cidade.

O MORRO ou ALTO DO MORRO DE SÃO JOÃO  e SÃO PEDRO: é uma das colinas que emolduram o lado sul da cidade.

Nelas surgiram antigos e pitorescos bairros populares, pelo fato de ali passarem velhos caminhos para a zona rural e litoral (Ubatuba).

Ruas sem calçamento, casas simples alinhadas desigualmente, onde mora gente que “trabalha duro” e que por única riqueza tem o maravilhoso panorama da cidade e do Vale.

Aí é que mora grande número de figureiros, principalmente na rua da Imaculada.

É onde mora também o Folclore, com suas variadas expansões populares.

No jornal A Gazeta, de distribuição em todo estado paulista, o artista Cassio M'Boy ilustrava o cabeçalho do caderno de folclore. A obra "Natal de Jesus", tem ao fundo o galinho do céu do Vale do Paraíba. Edição de 7 de dezembro de 1962
No jornal A Gazeta, de distribuição em todo estado paulista, o artista Cassio M’Boy ilustrava o cabeçalho do caderno de folclore. A obra “Natal de Jesus”, tem ao fundo o galinho do céu de Taubaté. Edição de 7 de dezembro de 1962

Local onde se misturam crendices, superstições e, onde apesar do modernismo que toma conta da cidade, o povo teme o Saci, conta causos de assombração, faz passes de macumba nas encruzilhadas, e, esconjuros contra o Lobisomem, o Boitatá e outros duendes.

Sendo produto de nossa complexidade étnica e sofrendo o dinamismo das forças ambientais, o figureiro retrata no barro, toda a sua vivência – onde o divino e o sobrenatural têm parte preponderante.

O Sincretismo religioso, transparece nas figuras do presépio, procissões, nas concepções grotescas do Saci, Lobisomem, Cuca, Sereia e nas figuras das crendices negras: Pai e Mãe de Santo, Exu e outros Orixás.

As rodas de jongo expressam movimento e ritmo, simbolizando antiga dança de escravos; há grupos de Moçambique, quadrilha, caiapó, dança da fita; folias de Reis, do Divino e dança de São Gonçalo.

A miscigenação é retratada em curiosos conjuntos de figurinhas: a “festa de casamento” da preta com o branco, onde há padres, os padrinhos, menina carregando o anel, convidados, tocadores de música, o casal de preto com mulher branco, com filho preto e filha branca.

Coloridas e pitorescas figurinhas de tipos populares contam usos e costumes: vendedores de galinhas, de laranjas; leiteiro, lenhador; mulheres socando no pilão, tocando galinhas e patos com a vassoura, costurando em máquinas de mão; o “bichento” tirando bicho do pé …

Detalhe da página 31, da edição nº 73 da Revista Paulistânia, onde este artigo foi publicado originalmente
Detalhe da página 31, da edição nº 73 da Revista Paulistânia, onde este artigo foi publicado originalmente

A temática, às vezes, é enriquecida de assuntos novos que o figureiro vê ou escuta. É o caso das figurinhas que representam os personagens do “mundo infantil de Monteiro Lobato”, criadas pela imaginação fértil de uma das mais antigas figureiras da rua Imaculada.

Embora não saiba ler, “ouviu contar” a estória das reinações de Narizinho Arrebitado, que hoje ela retrata com muita graça, assim como a Emília, o Visconde, o Marquês de Rabicó, d. Benta, Tia Anastácia fritando bolinhos, Pedrinho, o Saci e o burrinho que ela “ouviu dizer” que foi ao céu …

Os figureiros gostam de animais e com êles convivem. Criam então uma profusão de figurinhas zoomorfas: burrinho, galinha com pintinhos, carneiro, galo, vaca e um famoso pavão que de tão bonito, lá no morro é chamado de Galinho do Céu.

A técnica é primitiva: barro amassado com as mãos; tintas de cores vivas preparadas pelos figureiros ou compradas prontas; pernas de animais feitas às vezes de taquara ou madeira; orelhas de papelão, caudas de palha ou estopa.

Na modelagem usam os dedos e estiletes de madeira ou canivete.

As figuras são pequenas, de cores alegres, graciosas pela concepção ingênua e livre. As deformações decorrem da ignorância anatômica.

Depois de prontas, secam ao natural ou perto do fogão à lenha, sendo pintadas em seguida. São cruas e por isso, frágeis.

Os figureiros revelam capacidade criadora, guardando características ou particularidades próprias, apesar da proximidade de suas residências.

Superando dificuldades econômicas, às vezes doenças, e, quase sempre desconforto, continuam os figureiros do Morro, a modelar o barro, que pouco lhes rende, obedecendo a um impulso criador e mantendo uma tradição cujas origens se perdem nos tempos.

CERÂMICA DE OUTROS BAIRROS

Características bem diversas marcam a cerâmica modelada por artistas populares de outros bairros de Taubaté, mais ligados ao perímetro urbano.

Apesar da rusticidade do material e da técnica, as figuras demonstram profundo sendo de observação e maior sensibilidade interpretativa.

Permanece a espontaneidade na criação artística, porém, são menos marcantes os traços ingênuos e primitivos, revelando na originalidade e força de concepção, o ceramista mais evoluído, voltado quase sempre para os temas populares.

As peças de cerâmica, maiores que as do Morro, são queimadas (assadas) em fornos de olaria, o que lhes dá maior resistência e durabilidade; não são pintadas, apresentando por isso a bela cor avermelhada do barro queimado.

Alguns dos ceramistas, exímios na arte de modelagem, trabalham com destreza e perfeição; em poucos minutos surgem a figura imaginada e com tal equilíbrio na forma e na firmeza nos traços, que após alguns retoques, é obra acabada.

As figuras vigorosas na concepção, e, guardando as peculiaridades inconfundíveis de cada artista, retratam na sua expressiva e rústica beleza, tipos e temas populares, às vezes, de significado social: o Jeca, o Andarilho, o Pedinte, o escravo no tronco, a família pobre, a mulher, socando no pilão, violeiros e cantadores, caboclo cismando, o leilão, o comício …

Há figuras patológicas: a mulher do papo, o bêbado, a mulher da barriga d’água.

Os presépios formam originais e sugestivas composições artísticas: há festas típicas e cenas bíblicas ( Última Ceia, Juízo Final, Santíssima Trindade) e as figuras lendárias ( Pedro Malazarte), são criadas com arte e graça.

Na variada e copiosa produção desses exímios ceramistas, ressalta, porém, expressiva e comovente, a figura do homem do povo, humilde e desprotegido cuja tragédia, o artista inconscientemente caricaturiza num anseio, talvez, de maior compreensão e amor …

Consideradas como autêntica manifestação de arte popular, as figurinhas de Taubaté, fazem parte hoje, de coleções particulares e do acervo de museus nacionais e estrangeiros.

Por serem livres e espontâneas, traduzem na sua autenticidade, vivência e singeleza, a alma do povo, de que são precioso repositório.

___________

Publicado Originalmente na Revista Paulistânia nº73, de 1968.

FigureirafolclóreImaculadaMaria Morgado de Abreutexto
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As eleições de 1947 – Parte 2 (final), por Luiz Carlos Batista

março 8, 2012
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Não encontramos mais informações dos candidatos a prefeito nem seus nomes, provavelmente em número de cinco. Isto porque Tristão Alegre publica uma trova no dia 26 de outubro de 1947, falando em cinco candidatos:

 

Os candidatos são cinco,

porém, o cargo é só um…

Todos se vão com afinco,

mas ficam quatro em jejum…

 

Outra curiosidade refere-se à participação da mulher em eleição. Encontramosno Taubaté-Jornal a propaganda de Sebastiana Moreira, “virtude e operosidade da jovem cristã, atuando de há muito nos meios trabalhadores!”, candidata pelo PDC. Era “antiga operária da CTI, atual auxiliar do SESI, delegada da Juventude Operária Católica”.

A coleção do Taubaté-Jornal, encontrada na Divisão de Museus, Patrimônio e Arquivo Histórico, registra que a última edição, antes da eleição, foi em 2 de novembro de 1947 e a edição seguinte é de 13 de junho de 1948, data do “ressurgimento” do jornal, conforme explicaçãoem editorial. O jornal não logrou êxito na campanha, pois que o vitorioso foi José Luiz de Almeida Soares, elogiado na edição de 15 de agosto de 1948 como “operoso prefeito”, que se pôs a “cuidar de dotar a cidade de completo serviço médico-social que favorecesse a população e solucionasse os sérios problemas a ele relacionados”, referindo-se ao “Plano de Assistência Municipal” idealizado pelo médico J. Ortiz Monteiro Patto.

Um ano depois da posse do prefeito, o Taubaté-Jornal faz circular uma edição em 1º de janeiro de 1949 , em formato revista, com cores, elogiando o primeiro ano do prefeito que “tem trabalhado e produzido, sem desapontar nem aquele que com ele pugnou partidariamente, nem este que em lado oposto batalhou”. A edição especial lembra que o prefeito, num certo espaço de tempo, pôs-se a “corrigir falhas e a reparar injustiças – e estas haviam por aí – na preocupação, sobretudo, de tirar do funcionalismo o caráter de subalternidade política e de apagar o aspecto partidário de suas relações e deveres”.

“Reorganizou os serviços propriamente burocráticos, dando uma feição moderna e acessível aos serviços municipais, no arquivo, nos despachos e nas informações ao povo”, dizia a matéria do jornal.

José Geraldo de Oliveira Costa, candidato a vereador, também era diretor de jornal – Nossa Terra -, que defendia a candidatura de Jayme Barbosa Lima. No dia 11 de outubro de 1947, segundo o jornal, os partidos da “Coligação Municipal” realizaram  “o grande comício”, antes, porém, “duas bandas de música percorreram as ruas centrais, ao mesmo tempo que inúmeros caminhões despejavam na Praça Dom Epaminondas, consideráveis grupos de operários”.

Assim como ocorreu com o Taubaté-Jornal, o último exemplar do Nossa Terra, antes da eleição, saiu no dia 19 de outubro, edição nº 620; a nº 621 não está encadernada, sendo a de nº 632 editada em 18 de janeiro de 1948. Mais adiante, em 4 de abril, o jornal Nossa Terra faz críticas ao prefeito José Luiz de Almeida Soares: “O atual governo municipal tem sido pródigoem promessas. De concreto nada realizou até o momento”.

O jornal Nossa Terra divulga no dia 19 de outubro de1947 a relação dos candidatos à vereança pela “Coligação Municipal”; além dos eleitos e suplentes anotados acima, disputaram a eleição pela coligação: Alexandre Monteiro César Miné (funcionário estadual aposentado), Augusto A. Arid (farmacêutico), Benedito da Silveira Morais (industriário), Ernesto Floriano de Souza (operário), Eugênio Antonio Chester (industriário), Francisco de Assis Vieira (comerciante), Henrique Chiste Junior (operário), José Miller Sene (comerciante), Paulo Ferraz (comerciante), Romeu Simi (comerciário), Sebastiana Moreira (operária), Ulysses Pereira Bueno (assistente social).

Um terceiro jornal – A Notícia – surgiu em 14 de agosto de 1948, sendo chefe de redação Archimedes Rizoli. Os outros dois, Taubaté-Jornal e Nossa Terra, defendiam abertamente a candidatura de Jayme Barbosa Lima e em nenhum momento sequer noticiou com quem ele estava concorrendo. Ou seja, ele prezava mais o eleitor do que o leitor. Eram jornais comprometidos com partidos.

O jornal A Notícia, fundado pós-eleição (em 14 de agosto de 1948), mostrava-se independente na avaliação da administração José Luiz de Almeida Soares. A primeira edição criticava a comissão de trânsito da Prefeitura, mas elogiava o ensino municipal. No dia 1º de setembro de 1948, sob o título “Quem paga é o povo”, criticou a participação de vereadores em congresso municipalista que seria realizado em Campinas. “Quando em Taubaté luta-se com sacrifício para fazer alguma coisa; quando a Prefeitura faz de tripas coração, para enfrentar encargos pesadíssimos, nossa Câmara entrega de mão beijada à sua irmã campineira mil e quinhentos cruzeiros. E dizem que acabaram-se os ‘otários’…”. Foram a esse congresso os vereadores Otacílio Carvalho de Paula, José Geraldo de Oliveira Costa, Jaime de Castro e Eurico Pena.

Também faz elogios ao prefeito, na edição de 18 de setembro, pelo trabalho realizado nas ruas e praças: “Depois dum abandono de anos, vê o povo taubateano trabalho à vontade”.

Segundo Renato Féres, ex-vereador que acompanha a política desde o pleito de1947, aadministração de José Luiz foi “excelente” nos dois primeiros anos, trabalhando de gabinete aberto, era muito franco, não era demagogo. “Quando não podia resolver um problema, não iludia ninguém”, disse Féres. Os dois anos finais, todavia, não foram profícuos para a cidade, ele praticamente abandonou a Prefeitura, segundo Féres.

 

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LUIZ CARLOS BATISTA

Com mais de 35 anos dedicados ao jornalismo, sendo 30 como assessor de imprensa da Câmara Municipal, Luiz Carlos relembra fatos da política taubateana.

 

Folia do Divino

maio 26, 2020
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Por Maria Thereza Ramos Marcondes

Retirado do livro Tempo e Memória – aspectos de uma comunidade rural e de uma família paulista


Nos meus tempos de criança, vi muitas vezes chegas à fazenda a “Folia do Divino”. A finalidade das “Folias” era angariar esmolas para a festa do Divino, que seria na cidade, com o tradicional “afogado”, distribuído ao povo.

Uma “Folia do Divino” era assim constituída: um cargueireiro, quatro músicos e o alferes, que carregava a bandeira. Quando o cargueireiro chegava, com um burro carregado, trazendo as roupas e demais pertences dos foliões, meu tio já avisava para preparar comida e camas. Mais tarde chegavam cinco cavaleiros, sendo dois com violas, um com a caixa que vinha tocando pelo caminho, e outro com o triângulo. O alferes vinha à frente, com a bandeira vermelha presa a um mastro, tendo ao centro uma pintura a óleo representando o Divino Espírito Santo. No topo do mastro, dois arcos entrelaçados bem enfeitados de galões dourados, com uma pombinha de bronze no centro. O Espírito Santo é representado por uma pombinha porque esta é o único ser vivente que não tem fel, portanto, não destila o mal, na crença dos caboclos. Diversas fitas, de várias cores, amarradas ao pau da bandeira, representavam promessas feitas e graças alcançadas. Quando a Folia do Divino chegava, era uma festa. Depois do jantar, eles se reuiniam na sala para cantar ao som de seus instrumentos. Os músicos eram assim distribuídos: o “Mestre” tocava viola, o “Contra-mestre”, também viola, o “Caixa” tocava caixa ou tambor e o “Tiple”, o triângulo. A única diferença entre os músicos de uma Folia de Reis e uma Folia do Divino, era que numa o Tiple tocava a pandeiro e na outra o triângulo.

Oração entre bandeira do Divino (Foto: Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

No dia seguinte, o cargueireiro saía bem cedo, enquanto os foliões recolhiam as esmolas pelo bairro. Em cada casa que chegavam, o dono vinha recebê-los e pegava a bandeira, levava-a para dentro, e todos da família vinham beijá-la. Depois da esmola, os foliões cantavam agradecendo e iam para outra casa. à noite, chegavam a outro “pouso”, onde o cargueireiro já os estava esperando. Recebiam esmolas em dinheiro ou em porcos, garrotes, cabritos, galinhas e mantimentos, que reverteriam em benefício da festa. Já tinham os lugares certos para os pousos. A Fazenda São Joaquim era um deles.

Bandeiras do Divino (Angelo Rubim/Almanaque Urupês)

Depois da queda do café, acabaram-se as Folias do Divino, e passou a sair um homem só, carregando a bandeira e apanhando as esmolas. Mais tarde, até mesmo isso foi proibido pels igreja, porque estava havendo exploração, e o “afogado” passou a ser fornecido pelo festeiro de cada ano.

O “afogado”, era feito da carne de um ou mais garrotes, conforme as posses do festeiro e servido ao povo. O lugar escolhido para este fim quase sempre era o mercado. Cozinhavam a carne em enormes tachos de cobre. Temperavam muito bem e faziam um refogado que os caboclos chamavam de “afogado” ou simplesmente “fogado”. Depois de bem cozido, colocavam farinha de mandioca no prato e despejavam em cima pedaços de carne e bastante caldo fervendo, formando um pirão, que o povo apreciava muito. No dia da festa do Divino, os caboclos vinham à cidade com a finalidade de comer o tradicional “AFOGADO”.


 Lygia Fumagalli Ambrogi, profª. Maria Morgado de Abreu e Maria Thereza Ramos Marcondes. (Acervo Maria Morgado de Abreu)

Em “Tempo e Memória”, Maria Thereza Ramos Marcondes narra a sua infância e juventude vividas na Fazenda de São Joaquim, no bairro do Macuco, zona rural de Taubaté, entre 1917 e 1933. A autora foi testemunha das mudanças econômicas e sociais impostas pela primeira Guerra Mundial, a crise do Café e as revoluções de 24 e 32.

1 Comment
    Maria Aparecida says: Reply
    maio 9th 2020, 3:33 pm

    Muito interessante o histórico artigo. Quão importantes se tornaram as figureiras de Taubaté e quão lindos os pavões, figuras e bichinhos.

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Abril Boletim Efemérides Uncategorized
by almanaqueurupes

15 de abril de…

abril 15, 2021
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1873   Lei municipal obriga os proprietários de prédios  e terrenos e na sua falta os inquilinos a caiar a frente do prédio ou muro e a calçar de pedras ou tijolos a frente de suas casas ou terrenos. (Gazeta de Taubaté de 10 de junho de 1883 pág. 4).

 

1879   Lei provincial n.º 49 confirma as divisas entre os municípios de Jambeiro e Caçapava.

 

1883   A Junta Revisora da Comarca de Taubaté publica  1.ª  relação  de nomes de cidadãos da paróquia de Taubaté obrigados ao serviço de paz e guerra, da cidade, do quarteirão do bairro do Barranco, do bairro do Areão, do bairro do Tremembé e do bairro do Una e Tetequera, ao todo 66 indivíduos. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   O Sr. José Leandro inaugura linha de troles entre Taubaté e Tremembé cobrando 500 réis de ida e volta por pessoa. Sai de Tremembé às 6 h. da manhã e de Taubaté às 9 h. A hora de volta à tarde será combinada com os passageiros. O Sr. Teixeirinha está preparando animais e troles para uma outra linha. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   A alfaiataria dos srs. Leonardo & Pinto da Rua Dr.  Falcão Filho contíguo ao Largo da Matriz se chama “Alfaiataria da União”. (Gazeta de Taubaté).

 

1886   Lei provincial n.º 46 transfere para o distrito de Campos Novos de Cunha a fazenda de Daniel Gomes dos Santos Pinho.

 

1888   Telegrama procedente da Corte noticia o falecimento ali da  progenitora do Dr. Mathias Guimarães, engenheiro radicado em Taubaté, onde se encarrega do levantamento cadastral da cidade e iria ocupar o cargo de delegado de polícia. (O Liberal Taubateense).

 

1895   Realizam-se em Taubaté eleições para preenchimento de duas vagas de senadores. As eleições começam às 10 h. e as vagas de senadores decorrem da eleição do Dr. Prudente José de Moraes Barros para a Presidência da República e a da nomeação do Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves para ministro da Fazenda. As eleições se realizam em 10 seções instaladas inclusive nos bairros e no distrito de Tremembé. Há 2.260 eleitores inscritos. Os Drs. Moraes Barros e Dr. Paulo Souza obtém 387 votos cada. (O Popular).

 

1895   Após a entrada da procissão de São Benedito quando grande número de pessoas permaneciam em frente da Igreja Matriz o cocheiro da empresa de carris urbanos puxados a burro tenta atravessar a multidão com um bonde sendo impedido e preso por um popular. Não é a primeira vez que tal fato ocorre. (O Popular).

 

1898   Morre, em Taubaté, seu insigne filho D. José Pereira da Silva Barros, Arcebispo de Darnis, fundador do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho e do Externato São José. Era filho do Cap. Jacinto Pereira da Silva Barros e de D. Anna Joaquina de Alvarenga, tendo nascido em Taubaté a 24 de novembro de 1835. Fez os seus primeiros estudos no Liceu que então funcionava no Convento de Santa Clara e depois fez seus estudos eclesiásticos em São Paulo. Foi vigário de Taubaté por 19 anos. Reformou a nossa Matriz. Foi de grande abnegação durante a epidemia de varíola de 1873 a 1874 que assolou Taubaté, quando lhe ocorreu a idéia de fundar o Hospital Santa Isabel. Foi bispo de Olinda e do Rio de Janeiro e Deputado Provincial. (A Folha de 17/04/1932).

 

1900   O Grupo Particular Filhos de Talma realiza no Teatro São João um espetáculo em benefício das obras do prédio da sede da Associação Artística e Literária. (Jornal de Taubaté).

 

1901   Às 8 h. na Igreja Matriz celebram-se missas pelo 3.º ano de falecimento de Dom José Pereira de Barros e pelo 1.º ano do capitão Francisco Lopes Malta. (Jornal de Taubaté).

 

1903   Morre, em Taubaté, o Sr. Francisco Soares Barbosa, casado com  D.  Maria  Soares  de  Oliveira. (Jornal de Taubaté 14 – missa 2.º aniversário).

 

1906   Realizam-se, em Taubaté, solene Te-Deum e manifestação de júbilo em homenagem ao vigário da paróquia Côn. Antônio do Nascimento Castro por ter sido agraciado por S.S. Papa Pio X, a 19 de fevereiro último com o título de Monsenhor Prelado Doméstico. No Te-Deum toca a banda Philarmônica Taubateense, na passeata cívica a banda João do Carmo, ambas de Taubaté e na residência do homenageado a banda Dr. Antônio Maria, de Tremembé, cedida pelo c.el Antônio Monteiro Patto. (O Norte).

 

1909   Lei municipal n.º 126, em virtude de ter sido a água que abastece a cidade declarada impotável e conter grande quantidade de amônia conforme exame feito a pedido do Prefeito Dr. Gastão Aldano Vaz Lobo da Câmara Leal pelo Laboratório de Análises Químicas do Estado, é declarado de utilidade pública e decretada a desapropriação do serviço de abastecimento de água de Taubaté que vinha sendo feito pela Companhia Norte Paulista desde… (O Norte).

 

1910   Por motivo da passagem do 12.º aniversário da morte do ilustre taubateano D. José Pereira da Silva Barros, arcebispo de Darnis, 1.º depois da criação da diocese de Taubaté, realizam-se na Catedral solenes exéquias pelo sufrágio de sua alma oficiadas pelo nosso 1.º bispo D. Epaminondas Nunes D’Ávila e Silva. (O Norte).

 

1914   Noticia-se, em Taubaté, que o Dr. Oswaldo Cruz que durante muito tempo foi diretor da Saúde Pública no Rio de Janeiro acaba de ser agraciado com a Cruz da Legião de Honra. (O Norte).

 

1914   Circula o boato de que surgirá brevemente em Taubaté outro jornal de nome “O Paulista” à frente do qual estará o Prof. Bernardino Querido, colaborando Floriano de Lemos, Dr. Carlos Varella, Coelho Neto, Álvaro Guerra, Antônio Miranda e outros. (O Norte).

 

1914   Nas cerimônias da semana santa serviu a corporação musical João do Carmo, sob a regência do maestro Prof. Francisco Monteiro de Camargo. (O Norte).

 

1914   A firma Ramos & C.ia da Rua Duque de Caxias, 34, em Taubaté, compromete-se a entregar diariariamente garrafões de água de Quiririm mediante assinatura mensal a 3$000 o garrafão ou dois por 5$. Na mesma rua n.º 78 o empório Saraiva vende água de Cambuquira a $600 a garrafa para evitar os males do estômago. (O Norte)

 

1927   O Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa e a Ex.ma Sr.a D. Maria Eudóxia de Castilho Costa comemoram as suas bodas de prata matrimoniais mandando celebrar, a 19, missa em ação de graças. (Norte).

 

1932    Instala-se, em Taubaté, solenemente, o Ginásio Estadual, sob a Direção Prof. Major Acácio G. de Paula Ferreira. Constituem o seu 1.º corpo docente os professores: Cesídio Ambrogi, Joaquim Manoel Moreira, Dr. Jayme Pereira Vianna, Dr. Urbano Pereira, Dr. Pedro Barbosa Pereira, Emílio Simonetti, Clóvis Gomes Winther, Zita Conceição Rabello e maestro Fêgo Camargo. A secretaria estava a cargo do Sr. Cícero Azevedo sendo escriturária D. Carmosina Monteiro. Presente o Prefeito Municipal major João Cândido Zanani de Assis, proferiu a aula inaugural o Dr. Pedro Barbosa Pereira. (A Folha).

 

1949   Com a Catedral em reformas, a Semana Santa  é  realizada  no  Santuário de Santa Teresinha. Hoje é sexta-feira santa. (Taubaté Jornal).

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Extraído das Efemérides Taubateanas, de José Cláudio Alves da Silva. Acervo Maria Morgado de Abreu

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