O subdelegado que queria por todo mundo pra trabalhar
O fim da escravidão em 1888 e as sucessivas crises econômicas no século 19 criaram graves problemas sociais em Taubaté. Um deles foi o grande volume de desempregados e sem-teto nas ruas da cidade. Para resolver o caso, chamaram o subdelegado de polícia, cargo que na época(1890), era exercido por José Pedro Malhado Rosa.
E não é que a autoridade teve uma ideia que repercutiu na imprensa nacional!
A solução era simples: fazer com que o desempregado andasse pela cidade ao lado de um policial portando uma chapa de metal pendurada no pescoço com a inscrição “Aluga-se esse vagabundo”. A imprensa local aplaudiu e sugeriu que “os vagabundos de Taubaté que lhe mandem um retrato a óleo”. Mas a notícia não repercutiu bem em outras plagas. O Estado de S. Paulo noticiou:
“Há dois ou três dias o nosso repórter extraiu a seguinte noticia de uma folha de Taubaté: ‘ALUGA-SE ESTE VAGABUNDO’ O Subdelegado de policia de Taubate, cidadão Malhado Rosa, mandou fazer algumas chapas de folha com a inscrição acima, afim de com o uso delas exterminar de vez a vagabundagem. A chapa deverá ser colocada nas costas do vagabundo ou vagabunda que, acompanhada de praças, percorrerá a cidade á procura de alugador (…) em que lei encontrou briosa autoridade direito que lhe justifique a sua intenção?”.
Ao que foi defendido em editorial do jornal O Noticiarista de 26 de janeiro de 1890:
“Na mesma lei que que o dr. Sampaio Ferraz encontrou direito para mandar divertir-se lá para Fernando de Noronha os vagabundos da capital federal*”.
Ao final, os “vagabundos” de Taubaté foram poupados de maiores constrangimentos. A ideia de Malhado Rosa não foi posta em prática, mas rendeu fama nacional ao subdelegado taubateano.
Capoeiristas deportados
Sampaio Ferraz, republicano histórico e primeiro chefe de polícia do Rio no novo regime, encarou como prioridade desfazer as articulações que mantinham os capoeiristas no centro da vida política da antiga Corte. No início de janeiro de 1890, tratou de fazer partir para Fernando de Noronha o primeiro navio repleto de capoeiras (e outras pessoas indesejadas pelos líderes do novo regime).
Sobre Malhado Rosa
José Pedro Malhado Rosa foi uma das figuras que tiveram papel de protagonismo na política taubateana no final do século 19. Republicano histórico, fez parte do time de poderosos do governo provisório e do primeiro diretório republicano de Taubaté. Entrou na política por convicção, pois, na verdade, era farmacêutico. Nasceu na vizinha São José dos Campos, em 19 de fevereiro de 1845, filho de João Caetano da Rosa e Maria Rosa Clara da Trindade. Anos mais tarde, assumiu o sobrenome Malhado em virtude da mecha branca que tinha nos cabelos desde o nascimento. A chegada em Taubaté aconteceu em 1877, depois de ter passado por Paraibuna e Caçapava, onde se tornou farmacêutico profissional. Em Taubaté, adquiriu a farmácia de Francisco Inácio Xavier, o jornalista fundador da imprensa taubateana. Desde a chegada na cidade já era militante do movimento republicano e discursava contra a escravidão. Seu envolvimento com a política lhe rendeu um importante cargo na administração municipal: o de subdelegado.
É atribuído a José Pedro Malhado Rosa a propriedade da primeira farmácia do distrito do Quiririm. Além disso, foi provedor do Hospital de Santa Izabel, entre 1893 e 1895. Morreu em 4 de fevereiro de 1924, em sua casa na vizinha Tremembé.
A rua Malhado Rosa, no Areão, é a homenagem de Taubaté à esse ilustre farmacêutico.
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1 Comment
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