A primeira pesquisa historiador nenhum esquece!

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No entanto, preferiu não discutir, compreendeu que devia ficar calado, estudar e praticar em todas as seções com mais afinco ainda.Neste momento, adota por lema três palavras que o acompanhariam por toda a vida: “Paciência, Prudência e Perseverança” (MARTINS, 2009, p. 25).

Capa do livro de Cláudia Martins
Capa do livro de Cláudia Martins

Ao ler a obra da jornalista Cláudia Martins sobre o industrial Félix Guisard, me veio em mente a leitura que fizera um tempo atrás nos jornais da Companhia Taubaté Industrial e o apelo que os “3 P’s” de Guisard faziam e que correspondiam a arte da pesquisa histórica diária: paciência, prudência e perseverança. Vale a pena contar como essa relação começou e seus frutos….

Logo quando comecei a cursar História em Taubaté, durante as aulas de História Regional surgiu o meu primeiro tema de pesquisa, que resultou naquele mesmo ano em um trabalho de Iniciação Científica.  Posso com todas as letras dizer que esse tema foi minha fascinação por algum tempo na universidade, e dessa pesquisa, através de fontes primárias fui introduzida ao ofício do historiador.

Intitulado “Feliz Guisard: o poder da palavra transpondo uma mentalidade” o trabalho rendeu uma publicação na revista da Universidade de Taubaté em 2009 e o foi o resultado de uma série de aprendizados e leituras, afinal era minha primeira produção acadêmica.

Quando decidi iniciar no campo de pesquisa através da história da Companhia Taubaté Industrial, não sabia que tinha um encontro marcado diariamente com as leituras de seu jornal, que recebia o título de C.T.I. Jornal. Elas não eram simplesmente páginas com dizeres da rotina da fábrica, havia algo mais do que isso, coisas peculiares a seus escritores e atores, seus próprios funcionários.

Félix Guisard, proprietário da Companhia Taubaté Industrial, utilizava deste meio de comunicação impresso para divulgar não somente aos funcionários noticias da fábrica, mas as questões sociais e toda a cidade. Visto como segundo fundador da cidade de Taubaté por Lobato, Guisard chamou minha atenção e mereceu aquelas manhãs e tardes fixadas nas páginas do C.T.I. Jornal no CDPH (Centro de Documentação e Pesquisa Histórica – UNITAU) e no Arquivo Félix Guisard Filho.

Queria fazer um trabalho sobre as relações sociais dentro da fábrica, lia com fervor cada escrita do jornal. Mas, algo me instigava as palavras do jornal, o que estava por trás delas. Resolvi retroceder e estudar as relações dos funcionários com o velho Guisard e isso me levava a algo mais profundo e preciso: estudar a oratória.

Quando na notícia de sua morte li a manchete: ”Tomba um gigante” no jornal da C.T.I., recorri a outros jornais como O Taubateano e o Diário de Taubaté para verificar as possíveis relações entre imprensa, sociedade e imaginário, então tinha “a faca e o queijo nas mãos”!

cti-jornal

A pesquisa além de prazerosa me ensinou a ler e interpretar pela primeira vez os documentos históricos e permitir que eles falem através de nossas interpretações. Não que este trabalho possa ser o único, mas para aquele momento em que me encontrava ele respondeu aos meus questionamentos e expectativas. Ainda aguardo possíveis contribuições e até mesmo revisões.

Além de que,as formas de representação, o imaginário e o doutrinamento, presentes na História, foram percebidas incansavelmente nas páginas do jornal, o que ajudou na construção da história da modernização da cidade, o que abriu as portas para minhas pesquisas posteriores, que sempre envolveram esse diálogo na cidade.

Mesmo ainda iniciante, cheia de dúvidas sobre nossa ciência no tempo, sem dúvida foi graças a essa relação com os jornais da C.T.I. que com afinco me apaixonei pela prática da pesquisa histórica.

Fontes: C.T.I. Jornal (Alvorada Inaugural), 15/04/1937.

MARTINS, Cláudia. FÉLIX GUISARD – A Trajetória de um pioneiro. Taubaté/SP: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2009.

PERELMAN, Chaim. Tratado da Argumentação. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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Giovanna Louise Nunes é graduada pela Universidade de Taubaté, Mestranda em História Social pela Universidade de São Paulo. E professora na Rede Estadual em Taubaté.

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