“SÍTIO DO PICAPAU AMARELO”

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“SÍTIO DO PICAPAU AMARELO”

(ORIGINAL BIBLIOTECA INFANTIL)

Para “O Estado de São Paulo”

Cesídio Ambrogi

(Catedrático do Ginásio do Estado, em Taubaté)

Movimentam-se, presentemente, numa verdadeira azafama, os intelectuais taubateanos. É que ali, na velha e tradicional “taba-eté”, do Vale do Paraíba, se preparam a Monteiro Lobato, filho da terra, excepcionais homenagens que se traduzirão em várias solenidades com os conterrâneos do notável escritor patrício sagrarão, em tempo oportuno, o jubileu de “Urupês”.

Entre as cousas festivas que se projetam a Lobato, e com as quais se perpetuará o nome e a obra do criador da literatura infantil em nosso país, destaca-se a fundação de uma biblioteca para crianças, e que será, pela sua originalidade, uma das realizações mais interessantes e curiosas jamais tentadas no Brasil e até mesmo, talvez, em toda a América do Sul.

Idealizou-a o dr. Urbano Pereira, um engenheiro de assinalado merecimento e de iniciativas arrojadas. A biblioteca planejada se constituirá num verdadeiro ”centro de interesse “ para seus pequeninos frequentadores. E isso porque se chamará “Sítio do picapau amarelo”, lembrando no aspecto geral do seu conjunto, aquela encantadora sitioca de dona Benta, que as crianças do Brasil tanto conhecem, em que narizinho e seus comparsas encontraram um ambiente propício para suas traquinadas e peraltices.

Temos diante dos olhos o projeto já em andamento, do referido “Sítio”:

À entrada, uma porteira rústica. Sobre ela, com suas extremidades apoiadas no “moirâo” e “batente”, em um arco, um letreiro: “Sítio do picapau amarelo”. Depois, um caminho de roça, estreiro e tortuoso, aqui e ali coberto de “guaxunama”. Este caminho termina num terreiro do “rancho grande”. Em torno, espalhados pelo campo, alguns animais domésticos, cupins, e, mais distante, na lombada de uma colina, um velho Pau-d´alho. Num ângulo do terreiro, bem na ponta de um mastro colorido, a imagem de São João tendo nos braços o seu cordeirinho simbólico, gira-girando ao vento, num quadro de madeira. À entrada do rancho, pendente uma trave do beiral, um velho candieiro.

No interior, no salão principal do “sítio”, encontra-se instalada a biblioteca. Pelas paredes, veem-se painéis e pinturas de murais, lembrando cenas e paisagens, tipos e personagens do sítio de dona Benta.

Como estantes, levantam-se alguns saraus e, nestes, livros em profusão. As mesinhas destinadas à leitura tem a forma de carros de boi e pequenos pilões, em volta, servem de poltronas. Do teto pendem numerosos focos elétricos artisticamente disfarçados em velhas lamparinas de petróleo. A um canto, uma rede. Do batente de uma porta pendem, dependuradas, a “picapau” e a viola.

Fora, no alpendre, trepadeiras de “melão-de-são-joão”, e, numa das gaiolas rústicas, um curió, um papa-capim, um canário, um sabiá e um tico-tico.

O pequenino frequentador dessa biblioteca poderá, num ambiente interessantíssimo, movimentar-se à vontade: lerá o que bem entender, tomará dos livros que quiser. Para o seu frequentador maior, que necessite de uma orientação na sala de leitura, haverá salas especiais.

O “Sítio do picapau amarelo” já se encontra em construção e atenderá aos mais rigorosos preceitos da higiene moderna. Filiar-se-á à biblioteca “Oscar do Amaral”, já existente, e terá o auxílio dos poderes públicos locais.

Como se vê, uma iniciativa original que constituirá uma das mais belas homenagens dos taubateanos ao seu notável conterrâneo. O Estado de São Paulo, sábado, 16 de outubro de 1943

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