O primeiro automóvel

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Horário de pico, em quase todas as cidades brasileiras, é sinônimo de transito lento e engarrafamento. Em Taubaté não é diferente. Atualmente temos uma frota de quase 170 mil veículos. E esta frota começou ser formada no início do século 20, quando o dr. Francisco Rodrigues de Camargo trouxe o primeiro automóvel para Taubaté. O veículo, que foi comprado nos Estados Unidos, desenvolvia a velocidade máxima de 40 km por hora, uma velocidade jamais atingida nas ruas esburacadas da Taubaté antiga. Além disso, ele era bem fraquinho. Nas subidas, por exemplo, a ordem era para os passageiros descerem e empurrarem o carro a pé. O carro era  barulhento e deixava uma nuvem de fumaça por onde passava. Fora todas as inconveniências, a passagem do veículo movido a motor de combustão parava a cidade. Ninguém entendia como o carro poderia se locomover sem ser puxado por animais. Portanto, caros e caras ouvintes, quando vocês estiverem num engarrafamento, espantados com a grande quantidade de carros nas ruas, lembrem-se que essa frota toda foi começada em Taubaté, por um certo Dr. Camargo.

Extras:

“Eu era apenar um garotinho descalço, entre outros molecotes de meu tempo, o Silvino, o Irineu, criados pela vovó Nogueira e alguns primos e ali estávamos à porta do casarão onde ela morava, onde hoje se situa a Faculdade de Economia, à rua Visconde do Rio Branco, brincando de pegador, quando alguém gritou: _ ” Ali vai o automóvel do dr. Camargo e … parece que parou!” De fato, os estouros que dava o veículo cessaram e nós corremos para ver o que acontecia. O carro estava enguiçado, ali mesmo na altura da hoje “Livraria Campello” na rua hoje “Dona Chiquinha de Mattos”. _ É preciso só empurrar disse o motorista! …E nós não esperamos mais nada, metemos ombros à tarefa, empurramos o “bicho” até a rua dr. Souza Alves e ele pegou e saiu esfumaçando e dando estouros novamente, pela rua abaixo. Nós voltamos todos orgulhosos … fomos os heróis. (…) Falemos do dr. Camargo, Dr. Francisco Rodrigues de Camargo, nascido em Jacareí aos 7 de março de 1852. Ingressou muito moço ainda na Faculdade de Medicina colando grau em 1875, aos 23 anos de idade. Vindo ao Rio onde se formara foi clinicar em São Luiz do Paraitinga, onde consorciou-se com d. Maria  Vitória de Camargo de importante família local. Monarquista convicto, após a proclamação da República, abandonou definitivamente  política e veio clinicar em Taubaté ao lado de Urbano Figueira e Granadeiro Guimarães. Foi  um filantropo na acepção da palavra, pois dificilmente cobrava o seu trabalho na sua clínica. Era também operador consumado para a sua época. Cidadão de recursos financeiros, fez várias viagens de estudos e de recreio à Europa e aos Estados Unidos. Faleceu em Taubaté aos 18 de novembro de 1926. Foi sepultado em sepultura rasa conforme seu próprio pedido”.

Trecho retirado do livro Taubaté no Aflorar do Século de Oswaldo Barbosa Guisard

“O veículo a motor foi adquirido pelo dr. Camargo em uma de suas viagens aos Estados Unidos, no começo do século. Era um mini “Karmann Guia” ou melhor seu percursor; tinha dois assentos, foi adquirido do primeiro  fabricante de automóveis do EE.UU. e custou na ocasião seis contos de réis, posto na Alfândega da Guanabara. Era de fácil manejo e em nossas ruas seu cinesiforo era o próprio Dr. Camargo, com sua meia calva e seu basto bigode. Não havia auto escolas, mas o motorista proprietário, antes de vir para o Brasil recebeu umas aulas com os vendedores. O motor possuia um único cilindro e que girava na mesma posição das rodas e era acionado por um impulso que se dava a uma manivela que se introduzia no seu eixo direito. Nesse eixo estava fixo um pequeno volante ligado a uma polia larga, circundada por uma forte correia que servia para movimentar o carro. Essa correia forte, se estendia até a parte trazeira do carro onde havia três polias de madeira que giravam em uma pequeno eixo de ferro, uma ao lado da outra.  (…)O automóvel tinha duas velocidades, a máxima e a mínima, ou grande e pequena sendo que a mínima seria de mais ou menos dez km e a maior de mais ou menos 40 km.É certo que esse média seria obtida em estrada boa e jamais nas ruas descalças de Taubaté, trilhadas diariamente por carros de boi. Para que o carro pudesse dar uma subida até a igrejinha de São João, precisava estar o carro vazio e seguir a conhecida recomendação … “aqui os passageiros descem e … empurram o carro!”Ainda que o motorzinho arfasse puxando pelos seus “cavalos” HP a correia escorregava e girava em falso. O povo apelidou o carrinho com o pomposo nome de “o carro elétrico do dr. Camargo”, que aliás tinha boa aparência, muito bem pintado de vermelho e verde e com uma apreciável coberta de lona.  Já anotamos, que era uma “festa” a saída do carro para as ruas – todo mundo parava para ver e muitos ficavam boquiabertos sem compreender como um carro poderia rodar sem ser puxado por animais.Quando o carrinho necessitava de pequenos consertos era levado para a oficina de Euclydes Winther, antigo mecânico taubateano, do qual meu pai foi sócio.Todavia várias vezes teve que ser o carrinho cambiado para São Paulo, para consertos m ais sérios, com fabrico e troca de peças etc. lá ia para as oficinas “Viúva Tonglet” na rua Barão de Itapetininga. Não havia ainda magneto. Sua força elétrica estava em dois acumuladores que eram carregador na própria garage. Havia ali, um motor a querozene  de 2HP e um dínamo de pouca amperagem. Não possuía o automóvel do Dr. Camargo dispositivo de marcha à ré. Quando em uma rua, era necessário voltar pelo mesmo caminho, a manobra era feita a força braçal ou manual como queiram, num vai vem até ficar na posição oposta.”

Trecho retirado do livro Taubaté no Aflorar do Século de Oswaldo Barbosa Guisard

“Poucos anos depois começaram a aparecer aqui por Taubaté os primeiros espécimes de veículos a motor. Primeiro foram dois carros com grandes rodas traseiras, de madeira e duas menores na frente. O motor não era conjugado ao veículo e a tração era feita por correias. Estes pertenceram, respectivamente, aos Drs. Camargo e Nazareth Sousa Reis. Lá por volta de 1910 ou 1911, apareceu o primeiro “carro grande”um Panhard Levasseur, que tinha a tração feita por correntes. Logo no ano seguinte vieram dois Fords, do famoso modêlo T. Um pertencia aos Sr. Félix Guisard e outro ao Sr. Luís Lenzolari. Carros incipientes, fabricados já em série pela Ford Motor Co.; cujas capotas eram fixadas pro correias estiradas e prêsas nos pára-lamas dianteiros. Os faróis eram alimentados por gás de carbureto. Em 1913 surge o primeiro carro de praça, pertencente aos Irmãos Moreira – José Ricardo e José Gabriel. Era um Ford, todo fechado de vidraças, que o povo desde logo apelidou de “guarda-louças”. Foram êsses os primeiros carros a motor que apareceram por Taubaté. Um pouco depois outros vieram pertencentes aos Srs. Hugo Naldi, Lino do hotel e o velho João Marcondes. Todos êsses carros foram empregados no serviço público de aluguel.”

Trecho retirado do livro Conversando com a Saudade de Emílio Amadei Beringhs

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