SABINO MALUCO – O PHILOSOPHO SOCIALISTA

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Abaixo, a crônica publicada no Jornal de Taubaté de 1 de fevereiro de 1905, assinada por Oscar Telles, possivelmente um pseudônimo de algum escritor taubateano que ainda não conseguimos identificar. Preservamos a grafia original

O BUMBO

Escamou-me o negocio, tão discutido, do bumbo nas orchestras desta terra.

Sabino, publicado no Almanaque Ilustrado 1905

Quem poderia suppor, vir o tradicional e barulhento bumbo, companheiro inseparável do nosso Zé Pereira, dispertar tão azeda discussão?!

Pois veiu, caro leitor. Eu, como sempre, não discuto estes grandes problemas da vida de Taubaté, sem primeiro ouvir respeitosamente, a opinião abalisada, do grande philosofo socialista Sabino Maluco.

Encontrei-o, Domingo, no Tricario, as voltas com um capozio de parati e goma, explicando ao mesmo Tricario a influencia do almanaque ilustrado [1905] do Rabello, sobre o progresso intellectual desta terra.

Os olhos do nosso philosopho brilhavam fora do comum e da sua cara grotesca e simia, jorravam suores em bagas, indicio de grande movimentação cerebral. Abordei-o, dando-lhe um nicoláo, não o da Rússia, para o palpite do dia e entramos em palestra.

É sublime ouvir o grande philósopho dissertar sobre tais questões de grande interesse social.

O bumbo, por exemplo, mereceu-lhe uma como que, quasi epopeia. Não posso metter aqui nestas tiras todo o seu estudo, porque é muito grande e complicado.

Apesar disso posso garantir nos leitores que deixou a perder de vista os romances do professor Garcia.

Não se pode tirar o bumbo de parte alguma conclue o philósopho. O bumbo é parte integrante deste todo que vocês chamam de Taubaté.

Pois o que seria desta choldra sem o dobre de sinos, o foguete de bombas, o bumbo e as pamonhas de milho verde? Oh! Nunca consentirei na suppressão do bumbo. Botem o bumbo nas egrejas, nos teatros, nas ruas, nas manifestações, em toda a parte. Sem o bumbo eu não compreendo a terra dos bandeirantes.

Tem razão o philósopho socialista Sabino Maluco, e eu concordo com elle.

Agora direi: o que seria da imprensa indígena se não houvessem discussões de bumbos?

Felizmente a coisa ficou em bumbo, quando podia ter ido até as bumbadas.

Oscar Telles

 

Jornal de Taubaté 01-02-1905

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