CIRCOS E CIRCCENSES EM TAUBATÉ

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Vamos hoje fazer uma apreciação rápida à propósito de circos e artistas que se exibiram em nossa cidade, nos dois primeiros decênios do século, apreciação essa que poderíamos comparar, como uma interpretação de músicas de ouvido, e sem nos aprofundarmos na pesquisa, tudo sintetizando neste pequeno espaço.

Pelos idos de 1.900, no lusco fusco do século e no alvorecer dos novos dias, as companhias circenses que fizeram sucesso em Taubaté, foram os circos de Albano Pereira e de seu filho Alcebíades. E, fizeram muitos amigos em nossa “querência”.

Lembro-me ainda bem menino de um extraordinário artista brasileiro, famoso mesmo em picadeiros internacionais, o equilibrista Joaquim de Araújo. Seu número de grande sucesso consistia em colocar uma mesa sobre o arame, pôr pratos, talheres, copos e garrafas sobre a mesa, sentar-se também em uma cadeira sobre o arame, comer e beber, e finalmente fingir que se embriagara, fazendo diabruras sobre o arame que balançava com o equilibrista e toda a carga, violentamente.

Tivemos no espaço onde hoje está situada a Estação Rodoviária o notável circo do “clown” negro Benjamim de Oliveira, companhia essa diferente, que se especializou na montagem riquíssima de operetas, como a “A Viúva Alegre”, “Gheisa”, “Eva” etc. Espetáculos musicais inesquecíveis!

E também levou à cena a trabalhosa e artística “Pantomima Aquática”.

Tivemos algum tempo depois, a famosa Companhia Circense da família japonesa “Irmãos Olimecha”, acrobatas e saltadores de ambos os sexos, que juntos, assombravam os espectadores pelo seu arrojo e precisão.

Os “Irmãos Wheeler” e outros artistas do fabuloso número que ainda hoje constitui atração dos grandes circos: “Os Trapézios Voadores”.

Por Taubaté passaram diversas vezes, circos tradicionais em nosso país.

Recordaremos entre outros os Circos “François”, o “Arethusa” (nome da artista aramista, empresária do mesmo) o circo “Nerino” etc.

Circo em 2012. Foto de Angelo Rubim

Mas, foi pelos idos de 1916 ou 17 que, com muita propaganda surgiu em nossa cidade, o Grande Circo “Irmãos Queirolo”, família de origem uruguaia.

Esse circo trouxe para o Brasil uma grande inovação, que modificou revolucionariamente o padrão, o tipo tradicional do palhaço ou “clown” dos circos brasileiros. Mudou-se a indumentária e mesmo o estilo de comicidade.

Antigamente o palhaço brasileiro, geralmente muito bem vestido, com seu sapato ou sapatilha de verniz preto, meia e calção justo, impecáveis, vestindo um bolero, tudo de cores vivas, com lantejoulas brilhantes, “paietês” faiscantes, o rosto rigorosamente pintado de branco, ressaltando a boca circundada de outra cor, e sobre a cabeça o grande cone colorido terminado no ápice em “pom-pom”, sobraçando sempre o seu violão, o palhaço, repetimos, era elegante; cantor de modinhas, bom narrador de anedotas e piadas, e vinha acompanhado de seu “tony”.

O notável palhaço do circo dos “Irmãos Queirolo”, era “Chicharrão”.

Ele foi o grande mestre e inspirador de Abelardo Pinto, o famoso “Piolin” falecido recentemente aos quase 76 anos.

Um dos últimos remanescentes do palhaço típico brasileiro, foi o “Doutorzinho” muito inteligente e muito elegante, e que trouxe para Taubaté, a marcha carnavalesca “Pé de Anjo”, cujos primeiros versos eram os seguintes:

“Ó Pé de Anjo…

Pé de Anjo…

És resador;

És resador…

Tens uns pés tão grandes,

Que és capaz de pisar…

Nosso Senhor…

Nosso Senhor!

O “Doutorzinho” Miguel Baracchini, que abandonara os estudos da farmácia, sabia fazer muitos amigos por onde passava, e finalmente deixou a vida circense para ser proprietário do “Grande Hotel Baracchini”em Ribeirão Preto.Deixouamigos em Taubaté dentre os quais o rabiscador desta crônica.

Oswaldo Barbosa Guisard (1903-1982) 

oswaldoFoi executivo da CTI, vereador e presidente da Câmara. Idealista, participou do grupo fundador da Semana Monteiro Lobato e por 30 anos foi seu principal divulgador, mantendo acesa a sua chama original. Batalhou com perseverança pela preservação e tombamento da Chácara do Visconde, local onde nasceu Monteiro Lobato. Sua fabulosa memória o levou a escrever o livro “Taubaté no aflorar do século, uma grande obra.

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