Mousiké – Diego Luz/Numan Elyer

A coluna Escarafunchando Arquivos desta semana apresenta mais uma parte da minha pesquisa realizada em 2011 sobre o Ginásio Taubateano (1951-1973). Desta vez vamos lembrar alguns fatos curiosos do cotidiano no Taubateano, em especial o dia que é comemorado o dia da escola e o grêmio Maria Auxilium Christianorum. Quando ao realizar essa pesquisa, o mais interessante foi de poder contar com as memórias de muitos ex-alunos, professores, e os que tiveram familiares envolvidos com o colégio. Acompanhe.

O objetivo da instituição como é enfatizado nas entrevistas e na imprensa, era de promover a educação não só dentro da sala de aula, mas também através das práticas pedagógicas que difundiam seus propósitos e permitia a autonomia dos alunos. Enquanto escola particular, mas não confessional, eram mantidos os ideários moralizadores católicos nas práticas escolares do Taubateano.

Apesar de remontar ao mês de Março o de iniciação da instituição, a escola vai atribuir ao dia 24 de Maio o Dia do Ginásio. A escolha da data se baseia na instituição de Nossa Senhora Auxiliadora (Maria Auxilium Christianorum) como Padroeira do Taubateano, logo assim, no dia 24 de Maio é comemorada seu dia e consequentemente do ginásio.

 […] ele procurava fazer com que o aluno tivesse a educação não somente na sala de aula, mas fora da sala de aula, através do que? […] competições esportivas, excursões, […] festas, ele […] fazia […] festas, festas do que? […] como ele era muito religioso tinha […]  procissões, depois ele (pausa) a primeira festa […] como ele era uma pessoa muito, muito devoto de Nossa Senhora Auxiliadora.

Então ele implantou no dia 24 de maio o Dia do Ginásio, apesar do Ginásio ter começado a funcionar no dia 1.º de março de 1951, mas a partir dali todo dia 24 de maio era […] comemorado a festa do Ginásio Taubateano (Maria da Glória Cintra*).

A instituição escolar Ginásio Taubateano, criou também um órgão que representava os alunos junto à direção. O Grêmio Estudantil Maria Auxilium Christianorum (MAC), não serviu somente como representação, mas também como promotor das atividades escolares como interclasses ou mesmo, jogos com outras escolas dentro e fora da cidade, das quais o professor Theodoro Corrêa Cintra se encarregava pessoalmente de coordenar. Na organização dessas práticas desportivas, o ginásio era dividido em duas turmas a azul e a vermelha, que compõem as cores do Taubateano.

Da criação do Grêmio Estudantil que recebeu o nome da Padroeira do Ginásio Maria Auxilium Christianorum, não houve a tradução ao nome brasileiro, que seria Maria Auxiliadora, preferindo manter o nome em latim. Isso ocorreu em função da preocupação da Igreja e conseqüentemente do professor Cintra, de não permitir a perda dos valores católicos frente ao pensamento comunista[1].

O período de criação do Taubateano coincidiu com o período que no catolicismo é denominada Ultramontanismo[2], havendo a necessidade de reintegrar os valores religiosos como a permanência do latim em suas atividades.

 Em relação a questão social, o modo como o liberalismo era visto pelo episcopado reforçava a tendência de distanciamento do envolvimento da Igreja com a realidade. Isso porque o pensamento liberal era visto não só no seu aspecto econômico, mas no âmbito da liberdade a qualquer compromisso, inclusive no da Igreja, esta não se sentia responsável pela questão social. Conforme o entendimento de Pio IX, o liberalismo prega a liberdade das leis da religião além das leis econômicas, restringindo o envolvimento, nesse campo, à esfera devocional, abandonando as ações sociais mais concretas (BATISTA, 2011, p. 4).

O Grêmio estudantil contava com o apoio dos conselheiros representados por pais de alunos, professores e alunos eleitos pelo ginásio. Os alunos eleitos ocupavam o cargo de monitores ginasianos, que totalizavam dois alunos por sala. O MAC como era chamado, era atuante nas práticas escolares, organizava junto ao diretor as viagens, transmitia recados da direção e monitoravam as atividades.

Hierarquicamente, a coordenação das práticas pedagógicas e do curso ginasiano, baseada na Reforma Capanema, era executado pelo professor Corrêa Cintra, cabendo aos professores, pais de alunos que atuavam no grêmio a fiscalização dos cronogramas das atividades, da participação dos alunos no colégio. Aos alunos que compunham através de eleições escolares os cargos de monitores do grêmio, cabia a realização das atividades práticas como organização dos alunos, representantes das salas para eventuais conversas com a direção e ajuda ao professor Theodoro em suas atividades, seja no colégio ou nas obras assistenciais.

* Maria da Glória Cintra  é filha do Professor Theodoro Corrêa Cintra

Bibliografia:

BATISTA, Carolina de Almeida. Pio IX e o combate a modernidade na encíclica Quanta Cura (1864). Disponível em: www.abhr.org.br/plura/ojs/index. php/anais/article/view/100. Acesso em: 09 de Ago. 2011. Apresentado no XII Simpósio da ABHR, 31/05 – 03/06 de 2011, Juiz de Fora (MG).

NUNES, Giovanna Louise. Escola e Cidade: as origens do Ginásio Taubateano na década de 1950. Taubaté/SP: Unitau, 2011. Monografia de conclusão do curso de História.