Ode ao Mestre

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Me lembro daqueles dias como se fossem hoje. Mesmo tendo apenas cinco, seis ou no máximo sete anos de idade e ir nas manhãs de sábado na quitanda de uma família japonesa que os roteiristas do universo tramaram para que o neto daqueles simpáticos orientais se tornasse o irmão que eu gostaria de ter. Bem na entrada da quitanda havia uma banca de revista e este era dia de ganhar um novo gibi, mesmo não sabendo ler. Conhecendo uma ou outra palavra apenas, mas com uma mãe sempre disposta a ler aquelas aventuras pra mim, fazendo o meu interesse pela leitura só aumentar e meu gosto por aquelas aventuras crescer cada vez mais.

Quando lá chegávamos, eu já ia direto na banca e ficava olhando as revistinhas enquanto minha mãe e avó compravam o que precisavam. Não havia muitas duvidas sobre o que levar, e podem ter certeza de que não eram os aventureiros de uniforme socando os bandidos – essa ainda era uma leitura muito complexa e difícil pra um garotinho – vez ou outra escolhia uma revistinha do escalador de paredes, influenciado por aquele desenho animado do Pedro Prado, ou uma do morcegão, também influenciado por aquele seriado do POW, CRASH, BANG.

A primeira tirinha da Turma da Mônica
A primeira tirinha da Turma da Mônica

O que eu gostava mesmo era da turma do rato e do pato e principalmente da Turma da Mônica, aquelas crianças desenhadas de forma engraçada com rosto pontudo e olhos enormes. Eram fascinantes, principalmente por serem muito parecidos comigo e meus amigos. Tinha a comilona, o que não gostava de tomar banho, o que falava errado, o que batia em todo mundo, mas o principal era que eles jogavam bola, bolinha de gude ou pulavam corda, brincadeiras as quais eu estava acostumado. Claro que havia os personagens que eu não gostava, como o Pitéco, Tina e o Rolo, talvez por eu ainda não entender bem do que se tratavam suas aventuras (mas o tempo se encarregou de resolver isso).

Não há duvidas de que Mauricio de Sousa e a turminha foram essenciais na minha formação e educação.

O mestre completa oitenta anos de vida, sua obra tem cinquenta, e tenho a honra de acompanha-lo há quarenta. Se o Brasil hoje pode se orgulhar de ser o único país da américa latina a ter uma feira dedicada a cultura pop e de uma gigantesca bienal dedicada aos livros, podem ter certeza que Mauricio de Sousa tem grande participação nessas conquistas, pois é de pequeno que se cria o gosto da leitura. Foi, e ainda é, através das aventuras  do Bidu, Penadinho e Horácio que crescemos, evoluímos e passamos a gostar do Capitão Kirk, Rick Grimes, Jack Sheppard/John Locke ou do Doutor Who.

As transformações da Mônica,  principal personagem de Maurício de Sousa
As transformações da Mônica, principal personagem de Maurício de Sousa

Se hoje existe em minha vida mestres como Will Eisner, Bill Watterson, Charles Schultz, Robert Crumb, Quiño, Neil Gaiman, Alan Moore, Jack Kirby, John Romita, John Byrne entre outros, é porque lá no inicio houve Mauricio de Sousa. Sem ele essa jornada de aventuras, descobertas e conhecimento não teria começado e o mundo seria mais triste e cinza, se resumindo apenas ao ir e vir de um trabalho chato.

Em seus oitenta anos, Mauricio, eu só posso dizer OBRIGADO, por ter criado personagens tão maravilhosos. OBRIGADO, por ter ajudado de forma indireta na minha educação e no prazer que tenho pela leitura. OBRIGADO, por ter me ajudado a ser uma pessoa MELHOR !!

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Alex Siqueira

Alex Siqueira assistiu a estréia de Star Wars, ficou mais chocado com o final de “A Ira de Khan” de que com a eliminação do Brasil na Copa de 82, achou que o Telejogo era ficção científica e desconfia das intenções dos executivos da Marvel.

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