Não saia daí

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Texto de Renato Teixeira publicado na edição 706 do Jornal Contato

Em Taubaté eu já compunha com a mesma intensidade com que componho até hoje.

Teve dia de compor três músicas completas. Foi quando o Chico Buarque me mostrou a ainda inédita “Banda” nos camarins do teatro do CTA, em São José. Fiquei completamente motivado.

A televisão era muito limitada. A tecnologia ainda não havia mostrado suas garras. Mas eu já “vivia” de música na minha cidade.

Como sabíamos muito pouco das variedades de coisas interessantes que existem pelo mundo afora, meu mundo era Taubaté. E não era um “pequeno mundo”. Quem ouviu o CD, distribuído pelo Contato, que fiz com músicas dos tempos taubateanos, onde tudo começou, percebe que um compositor só não dá conta de cantar uma cidade inteira. Só a minha rua, no Jardim Russi, já era um mundão!

Mas não poderia haver maiores condições de sobrevivência musical, ficando na cidade. Ou Rio, ou São Paulo. Escolhi São Paulo porque era mais perto. Hoje estamos num tempo diferente.

Não necessitamos mais de “ir pra cidade grande”, como eu fui, em busca dos sonhos. De qualquer lugar se irradia para o mundo. Algo muito próximo conceitualmente daquele mundo sem fronteiras de “Imagine”.

Senti um sincero bem-estar,  uma sensação confortável de felicidade quando tomei contato com os músicos, os compositores e os cantores da cidade. Alguns deles já sobrevoando o território nacional da mú- sica, sonhando alto. E, o que é melhor, podendo estar próximos, cantando juntos, trocando idéias. E morando por aqui mesmo… A carreira musical pode ser complicada, mas é generosa.

Ela se enfeitiçou e criou recursos razoavelmente baratos para facilitar nossas vidas. Estúdios, instrumentos, microfones e geniais fones de ouvido que enfiam a música no centro geodé- sico do nosso crânio. Na maioria das vezes, quando se vai tocar, o som do PA, que é o som que vai para a platéia, é decente e fica melhor a cada dia. E sempre tem uma apresentação pintando.

Eu sugiro que, ficando na cidade, e sendo muitos, o pessoal se debruce um pouco mais sobre o som que vem do Fundo do Vale, das entranhas centenárias das terras de Lobato, para que sejam únicos. Que transformem em acordes e melodias o clima das tardes frias e a religiosidade das ruas seculares. Escutem os sinos da Catedral. Em tudo que for cantado, tempere-se com o sal da terra. Qualquer que seja a intenção ou estilo musical, é conveniente nãos nos esquecermos que criamos o amanhã. Inventamos histórias.

 

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