1868: uma Princesa em Taubaté

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Capítulo 6 da viagem de D. Pedro II pelo Vale do Paraíba

Texto de Glauco Santos

O jornal Paulista, de 13 de dezembro de 1868 anunciou a chegada da Princesa Isabel e do Conde d’Eu em Taubaté, lamentando-se da notícia inesperada, restando pouco tempo para que a Câmara Municipal se organizasse para esta importante visita. “Consta-nos que Suas AA. II. pretendem visitar esta cidade. O Monarchista [jornal de Pindamonhangaba] dá esta notícia à ultima hora, lembrando que a câmara municipal deve recebe-los”. Este é um sinal de que a comunicação naquela época no Vale do Paraíba ainda enfrentava grandes barreiras.

E desta forma, foram recebidos a cerca de uma légua de distância por 80 cavaleiros, assim como aconteceu em Guaratinguetá. Junto com os príncipes, acompanhavam membros da Corte, ministros do Império, além de oficiais da Guarda Nacional, do Estado Maior, o conselheiro Feijó e o Major Hilário. Ao entrarem na cidade de Taubaté, as janelas das casas encontravam-se “cheias de moças, que em todo o trajeto, faziam cair uma chuva de flores sobre o carro em que vinham Suas Altezas Imperiais” (Paulista, 20 de dezembro de 1868, p. 3).

Visconde de Tremembé. Jornal “A Verdade” de 9 de julho de 1903. Acervo DMPAH

A casa do então Barão de Tremembé, principal titular da cidade e responsável pela organização e hospedagem dos príncipes Imperiais, encontrava-se com especial iluminação instalada para a ocasião. Haviam sido montados dois coretos em frente ao palacete, onde tocavam as bandas musicais da cidade. Assim foram relatados os esforços do nobre barão para a recepção da Princesa Imperial: “os ilustres hóspedes foram hospedados no palacete do barão de Tremembé, sendo ali acolhidos por este distinto paulista e por sua estimável senhora. O palacete foi ricamente preparado e o sr. barão não poupou esforços para honrar os seus hospedes nos dias em que ali estiveram” (Correio Paulistano, 24 de dezembro de 1868, p. 2).

Ao desembarcarem na cidade, parando em frente à igreja Matriz, a Princesa Isabel e o Conde d’Eu foram cumprimentados pelo clero, pelas autoridades da comarca, por oficiais da Guarda Nacional de Taubaté e por grande número de povo que se aglomerava no largo da matriz para tentar enxergar os ilustres visitantes. A Câmara Municipal dirigiu-se em corporação para saudar a princesa e seu esposo, agradecendo a visita. Às 7 horas da manhã foi celebrado o solene Te-Deum pelo pároco local, tendo depois o Barão de Tremembé acompanhado os príncipes até sua residência onde puderam descansar.

Hospital Santa Isabel

No dia seguinte, logo às 7 horas da manhã, os príncipes Imperiais em companhia do barão e da baronesa de Tremembé foram visitar a capela de Tremembé. Ao saírem da capela, juntou-se a eles o conselheiro Feijó e o juiz de direito da comarca de Taubaté, para visitarem “a Cadeia, o Convento de S. Clara, cemitério anexo e o Hospital de caridade” (Paulista, 20 de dezembro de 1868, p. 3). O hospital visitado se transformaria no futuro hospital Santa Isabel, tendo como patrona e uma das principais financiadoras a própria Princesa Isabel. Nesta mesma visita, o jornal Paulista (20 de dezembro de 1868, p. 3) relata que “durante sua estada nesta cidade SS. AA. praticaram muitos atos de caridade, avultando entre eles o donativo de 3000$ rs. ao hospital, de que a Sereníssima Princesa é Protetora”. Em todos os lugares visitados, um grande séquito de povo os acompanharam, além das tradicionais bandas de música.

O dia 18 de dezembro foi reservado para compromissos particulares com o Barão de Tremembé e com os demais titulares de Taubaté, além de organizarem a volta para a Corte. Dali partiram no dia 19 de dezembro para Pindamonhangaba, alcançando Guaratinguetá no mesmo dia. Dos três dias que passaram na residência do Visconde de Guaratinguetá, ficou marcado na memória dos presentes o faustoso jantar oferecido pelo Visconde e pelos príncipes à elite local (MOURA, 2002, p. 110). Às 7 horas da manhã do dia 23 de dezembro seguiram para Lorena e depois rumaram para o Rio de Janeiro. Sofreu então Isabel a angústia de ver o marido partir para a guerra, quando tudo estava tão incerto.

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Referências bibliográficas

MOURA, C. E. M. O Visconde de Guaratinguetá: Um Titular do Café no Vale do Paraíba. São Paulo: Studio Nobel, 2002.

Correio Paulistano, São Paulo, 24 de dezembro de 1868.

Paulista, Taubaté, 13 de dezembro de 1868.

Paulista, Taubaté, 20 de dezembro de 1868.

[box style=’info’] Glauco de Souza Santos glauco É graduado pela Universidade de Taubaté, Mestrando em História Social pela Universidade de Campinas. Trabalha como Professor de História em São José dos Campos – SP.   [/box]

 

 

 

 

Veja também:

– As viagens de d. Pedro II ao Vale do Paraíba;

– 1868: uma Princesa devota – chegada ao Vale;

– 1868: uma Princesa devota, uma Santa e um ex-escravo;

– 1868: uma Princesa devota, uma Santa e um guarda nacional;

– 1868: um bosque para uma Princesa;

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