A Mais Mortal das Piadas

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Por Alexandre Siqueira

Meados dos anos 80, o mundo está sofrendo profundas transformações. A era da inocência vai chegando ao fim e aqueles que foram jovens nos anos 60 e 70 e que se rebelavam contra o sistema agora são os pais de família e enxergam o mundo e a sociedade de forma mais realista.

A partir dessa realidade os quadrinhos de super-heróis tiveram que se adaptar a esse novo conceito. A simples luta entre o bem e o mal não era mais suficiente, ela ainda era o tema principal, mas era preciso algo mais real e palpável, e nenhum personagem se beneficiou mais disso do que Batman, o menos “super” dos personagens, mas com certeza o mais cultuado deles.

Frank Miller e seu Cavaleiro das Trevas e posteriormente Batman – Ano Um, levaram o Morcegão a outro patamar, mostrando um Bruce Wayne muito mais humano e parecido com cidadão comum que não se conforma com a violência da cidade onde vive. Em 1986 Alan Moore escreveu a história definitiva entre Batman e seu eterno arqui-inimigo o Coringa “A Piada Mortal”. Como não odiar esse personagem de feições pálida, olhos e sorriso doentios por atirar a queima roupa em uma indefesa Barbara Gordon e sadicamente fotografa-la agonizando no chão? Como não se sensibilizar com a dor da humilhação por não conseguir trabalho e não ter perspectiva de conseguir criar um filho que está por nascer? Ou pior: receber a noticia que sua esposa sofreu um acidente doméstico levando ela e seu filho, que ainda estava no ventre, a falecerem? É de enlouquecer qualquer um! Como não vibrar e sentir a determinação do Morcego na busca pelo Palhaço na casa maluca ou ao arremessa-lo por uma vidraça e em cada soco desferido na luta final? Em apenas quarenta e oito páginas Moore consegue passar três sentimentos bem distintos a quem lê a graphic novel, todos magistralmente retratados na arte de Brian Bolland.

Cena da morte de Barbara Gordon
Cena retrata Barbara Gordon alvejada pelo Coringa

A partir dai e, como todo bom clássicos, algumas teorias começaram a surgir. A primeira delas é que a DC Comics censurou o desenho original de Bolland, quanto as fotos que o Coringa tira de Barbara Gordon. No original elas seriam mais explicitas, o desenhista confirmou o corte feito e imagens do original apareceram para confirmar a teoria. Posteriormente Grant Morrison (desafeto de Alan Moore) declarou em entrevista que a última página de A Piada Mortal retratava Batman matando o Coringa, claro que a declaração reascendeu a discussão sobre a obra de Alan Moore. Recentemente o roteiro original completo em inglês foi publicado no tumblr The Killing Joker Script. Nele estão as 128 páginas do roteiro que é bem explicito sobre as intensões dele (Alan Moore), e em nenhum momento se discute a morte do Coringa e, se isso acontece, é obra de Brian Bolland após os retoques feitos na arte da edição definitiva, uma interrogação pode ser levantada vendo os três últimos quadros desta versão.

piada2

Alan Moore pra variar desdenha e não acha que este seja seu melhor trabalho e o considera sem graça e desinteressante. Só teria participado do projeto após convite do próprio Brian Bolland. Imaginem então se ele gostasse do projeto o que ele poderia ter se tornado !!

A alguns dias atrás  A Piada Mortal voltou a ser noticia de forma indireta após a publicação da capa feita por Rafael Albuquerque em comemoração aos 75 anos do Coringa. Na arte, o “palhaço do crime” segura uma Batgirl aterrorizada. A relação com a Piada Mortal é imediata e sabendo dos acontecimentos é fácil de imaginar o que vem a seguir: foi criada a polêmica… Ambos os lados se manifestaram nas redes sociais apoiando e criticando a capa e Rafael tomou a frente e nem deixou a polêmica se tornar maior, em declaração ele disse: “Minha capa foi desenhada para prestar homenagem a uma HQ que eu realmente admiro, e que sei ser uma das favoritas de muitos leitores”

O desenhista continua: “Para mim, foi uma capa assustadora que trazia algo do passado da personagem, e eu fui capaz de interpretar isso artisticamente. Mas ficou claro que, para outros, isso tocou em um nervo importante. Eu respeito essas opiniões e, sem entrar no mérito de quem está certo ou errado, acredito que nenhuma opinião deva ser desacreditada. Minha intenção nunca foi ferir ou desapontar ninguém com meu desenho. Por essa razão, recomendei que a DC não publicasse a capa. Fico incrivelmente grato que a DC Comics tenha ouvido minha preocupação e decidido não publicar o desenho de capa em junho como anunciado anteriormente”.

 

A polêmica arte de Rafael Albuquerque
A polêmica arte de Rafael Albuquerque

A verdade é que a DC Comics conseguiu fazer seu marketing nesse caso, afinal todas as capas passam pela mão de algum diretor antes de ir pro site oficial da editora, se eles estivesse tão preocupados assim com o conteúdo jamais teriam divulgado em sua página deixando a “culpa” só para o artista que aqui se saiu muito bem.

A Piada Mortal continua atual, ela marcou uma geração que passou a gostar ainda mais do Batman e seus coadjuvantes trazendo-os muito mais próximos da realidade, Alan Moore pode querer bancar o difícil e dizer que não gosta dela. Você, leitor, também pode não achar grande coisa, outros a acham maravilhosa. Outros trinta anos podem se passar e ela continuará sendo uma obra magnifica pela simplicidade, não há nada de “super” em suas páginas mas está cheia do que costumamos ver nos programas policiais na tv.

 

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Alex Siqueira

Alex Siqueira assistiu a estréia de Star Wars, ficou mais chocado com o final de “A Ira de Khan” de que com a eliminação do Brasil na Copa de 82, achou que o Telejogo era ficção científica e desconfia das intenções. [/colored_box]

 

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