Dona Maria Uberty

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Texto de Renato Teixeira

*imagem Rua Conselheiro Moreira de Barros, mais conhecida como Rua das Palmeiras (acervo Mistau)

Publicado no Jornal Contato edição 677

Grandes senhoras são uma espécie de patrimônio cultural inalienável, intransferível e fundamental. Em qualquer parte do planeta são elas as referências mais significativas. Dona Bety, de sorriso claro e sincero, sempre inspirou confiança e determinação, nos meus tempos de menino.

Taubaté, dos anos sessenta, era um lugar pacato e com uma vida social bastante interessante; promovíamos pequenos bailes residenciais que criavam expectativas amorosas, gozação entre a rapaziada imberbe, fofocas graciosas das garotas e olhares, digamos… “atenciosos”, dos pais.

Vivíamos, é verdade, um tempo de profundos questionamentos familiares, capazes de romper laços em nome de ideologias políticas e posicionamentos filosóficos. Era importante que nossos jovens pais fossem menos repressores, mais participativos porque, por mais que negassem, sabiam, lá no fundo, que os novos tempos acabavam a chegar. Nossas cabeças juvenis ferviam intensamente. Sonhávamos acordados.

Na minha casa, as festas eram no terraço. Na casa de dona Bety, mãe de Leda e Hodges, eram na sala de visitas. Éramos vizinhos. Incrível o bom astral e a qualidade humana da rapaziada “desencaretada”, capaz de loucas ousadias que às vezes resultavam em punições exemplares por deslizes comportamentais dentro do ambiente social, até as mais contundentes, aquelas de caráter
político, que obrigava alguns amigos, ideologicamente contra a ditadura militar, a andarem com passaporte e uma passagem pro exterior no bolso da calça.

Depois piorou; um dos mais belos e talentosos “bons partidos” de então, editor chefe do jornal Contato, Paulo de Tarso, foi pra guerra e, quando voltou, nossa tribo já havia debandando pela vida afora. Mas nunca rompemos os elos. Temos as mesmas referências.

Uma das coisas mais significativas que trago desse tempo, foi a honestidade de senhoras, como dona Bety, que, sem abdicar de seus pensares levemente conservadores, abriram as portas de suas casas para que pudéssemos dançar e sonhar. Bom ter essas lembranças.

Desejo, aqui dos meus quase setenta anos, que a moçada de agora repare na dignidade de certas senhoras que nos cercam e que nunca perdem o fio da meada. Mulheres bem sucedidas. Santas mulheres. Um beijo querida amiga… Bety.

 

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