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Colunistas Memórias do Sombra Outras
by almanaqueurupes

AS REINAÇÕES E A ABÓBORA DO CAULE DESCOLADO

julho 2, 2014
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Por Celio Moreira

Crianças irrequietas, sempre agitadas e com o dedo no gatilho para aprontar. Assim éramos nós, em contraste com a calma reinante numa cidade onde muitas doenças, hoje, facilmente tratáveis, não poupavam crianças, jovens e velhos.

Que fazer nesta tarde fria, década de 40 e ocaso do outono, quando já soprava um vento com prenúncio de inverno?  Que tal entrar no bueiro, seguir pela galeria e ver o que acontece – propõe pintado, o intelectual da turma . Eu topo, disse, já me aproximando da tampa de cimento que o cobria. Bem, se meu irmão vai, também to nessa- falou o Cid. O quarto garoto, que apelidamos de anãozinho, claro, concordou , pois sabia que, em caso de recusa, seria castigado com as temíveis sardinhas. Vale salientar que o castigo impunha a aplicação de rápidos raspões com as unhas da mão no “bumbum”, como açoite. A vítima era obrigada a ficar com as duas mãos no joelho, a fim de melhor expor o alvo. Cabia ao autor da missão determinar a quantidade de sardinhas que seriam aplicadas. (60, no mínimo).  E lá fomos nós! Corria uma água limpa, bem diferente daquela que chegava a inundar quase toda a Rua Barão em dias de chuva. Um riacho subterrâneo, vindo de não sei onde, que devia atravessar boa parte da cidade. Acendemos um toco de vela e demos início a empreitada. Agachados e em passos lentos, com receio de ferir os pés em algum caco de vidro, fomos afundando cada vez mais na escuridão. Eu caminhava na frente, empunhando a trêmula luz, naquela tarde de reinação campeã. Desconhecendo onde ia bater nosso nariz, eis que uma luz aparece no fim do túnel! Caminhamos um pouco mais depressa e desembocamos num verdadeiro oásis! Nossa! Que espetáculo! Um pomar repleto de árvores frutíferas e muitíssimo bem cuidado. Laranjas, peras, caquis, ameixas, figos, muitas frutas!  Plenamente saciados e com a certeza de breve retorno, ficamos algum tempo no riacho que corria aberto, em pequeno trecho, até a Rua Anísio Ortiz para se esconder, novamente, pelas bandas do Taubaté Country Clube. Na volta, ao remover a tampa do bueiro para o “desembarque” na Rua Barão, uma velhinha do Asilo São Vicente de Paulo parou para nos olhar meio assustada. Credo, de onde tá vindo essa gente?! Vovó – diz o pintado – nós trabalhamos na Prefeitura.

tunel

Dia seguinte, ao acordar, comecei a arquitetar a próxima aventura, pois cabia a mim a escolha. Tinha que ser algo bem mais emocionante que rastejar em uma galeria escura para escoamento de águas pluviais- pensei.  Eureca! Já sei! Só quero ver quem vai tremer!… Quando chegou a hora, e antes que perguntassem, fui logo dizendo: a missão, daquele dia foi subterrânea. Hoje será aérea!  Aérea?! Sim,vamos escalar as paredes do Quartel e vasculhar o telhado prá ver se ainda encontramos aquela bola que ficou presa lá em cima.Acredito que vai ser muito divertido. O anãozinho, claro, foi o primeiro a contestar. Mas a parede é alta demais, acho que não vai dar. Vai dar, sim, Djalma, vamos subir pela garagem do Antonio; a casa está vazia, acho que ele voltou para o Rio. E Lancei a ameaça: alguém prefere sardinha?!  Devia ser umas 3 horas da tarde quando iniciamos a escalada. A única maneira de realizar a façanha seria , mesmo, pela garagem que ficava nos fundos da casa e colada à grande parede do Quartel. Apesar de haver um garoto com o apelido de anão no quarteto, eu era o menor de todos e fui o último a alcançar o objetivo, fazendo uso de um caixote.

bolatelhado

E lá fomos nós naquela imensidão de telhado que, antes, resguardava dos respingos da chuva o glorioso 6º Regimento de Infantaria, à esta altura, como anunciou o rádio naquela manhã,  fazendo tremer o inimigo nos campos de batalha. Nos espalhamos e comecei a caminhar lentamente por aquele mar de cerâmica. Minha meta era a parte frontal da nossa casa, na Rua Barão, para reaver a bola que um chute mais forte havia decretado o fim de nossas peladas. Lembrei quando o bom Antonio nos permitiu percorrer todo aquele espaço, em baixo, para conhecer a Exportadora de Laranjas. Agora, lá em cima, a conversa era outra. Depois de muito custo, cheguei onde queria. E lá estava, como determinando a conquista de um troféu, a bola que voltaria a alegrar nossas tardes. Olhei triunfalmente para a rua que era a nossa praça de esporte e mamãe estava no portão com minha irmã. Hei  CÉIA, guarda prá mim! E atirei a bola. Minha mãe apertou os olhos e exclamou: aquele é o Célio?!  É, mãe! Desce daí, menino,  Desce… já!!!  Nem queira saber o que você arrumou! Os soldados estão armados, ouviram barulho no telhado e estão pensando que é a quinta coluna tentando sabotar o Quartel! Meu Deus do céu!!! Tudo bem, mãe, vou descer. Avisa prá eles que somos nós. Nós?!  Sim, mãe, o Cid, o Pintado e o Djalma também subiram. Minha Nossa Senhora!!!

Realmente, quando o 6º RI partiu, alguns soldados ficaram para guardar o Quartel que seria novamente ocupado por outro Regimento.

Mas, o dia seguinte viria com mais surpresas!

Pouco antes da hora do almoço o caminhão do Tio Zeca para em frente a nossa casa e o Cid desce com duas abóboras, trazidas da fazenda do CATAGUÁ e grita: ajuda aqui! Tinha que ajudar, mesmo, pois eram pescoçudas e grandes. De uma, mamãe fez quibebe para o almoço e uma panelada de doce com canela, cravo e coco, como só ela sabia fazer. Uma delícia que tratamos de comer rapidamente porque não havia geladeira.  E a outra, que faremos?!  A gente podia oferecer para o turco. Boa idéia- disse meu irmão- você fala com ele, então. Ganha a metade se fizer o negócio.

(fonte: portal Universal CE)
(fonte: portal Universal CE)

Quando entrei no boteco para propor a venda da cucúrbita, seu Elias, que estava mastigando um biscoito farinhento, fez de guardanapo o dorso da mão, passando-o sobre a boca e disse: Bode falar, menino. Bai querer o quê? Temos uma abóbora de pescoço, muito bonita e grande. Interessa pro senhor?  Intaressa, sim. Ta berfeita, com cabinho brá segurá? Claro, seu Elias. Vou trazer pro senhor ver. Voltei prá casa e falei com o meu irmão. O turco se interessou, mas quer saber se está perfeita.

Como, perfeita?  Ora, se não está machucada, estragada, se tem o cabinho… (pedúnculo, caule) Pior que fui levar a abóbora para o rancho e o talo ficou em minha mão. Então não vai dar! Vai dar, sim. A gente cola! Claro que nenhuma cola de que dispúnhamos resolveria o impasse. Então, a solução seria prender com palito de fósforo, sugeri. Não, disse o mano, palito de dente, que é mais comprido! Boa idéia!

E lá estava o cabinho novamente pregado no pescoço da abóbora, que coloquei cuidadosamente sobre o balcão, torcendo para que, naquele momento, o caule não despregasse. O turco olhou, olhou, bateu a mão na abóbora e disse: – É…BARECE que ta bom!… Eu dá dois mil reis BOR ela. Nossa, seu Elias, só isso?  Nem um TOSTOM mais! Abriu a gaveta e colocou cinco moedas de 400 reis no balcão. Tá bom, seu Elias, fazer o quê!  Coloquei as moedas no bolso e, na rua, já ganhando distância deu prá ouvir o turco esbravejar:   F… do BUTA!  Ih!… Segurou no Caule!

 

[box style=’info’]Celio Moreira celioconhecido também como O Sombra, do Jornal de Vanguarda, é um dos grandes profissionais de comunicação da história do jornalismo nacional.

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Célio Moreiramemóriataubatétexto
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Mulheres e o fogo que forja homens

abril 11, 2014
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Grandes homens nascem de grandes mulheres, e muitas delas, forjam no fogo o destino de seus filhos, deste mesmo fogo saem delícias culinárias, preparadas por mulheres com alma de guerreira.

Por Solange Barbosa

Lendo o livro de Maria Morgado de Abreu e Paulo Camilher Florençano, detive-me no capítulo “Relação Parcial de Afamadas Quituteiras”, lendo nomes como Francisca, descrita pela autora como: “Cozinheira preta, bonita, de cabelos “jeitosos”, arrumados em trança, tipo “Margarida-vai-à-fonte”. Usava nas orelhas grandes argolas de ouro, que eram o seu orgulho de mulher que se considerava bonita; porém, sendo viúva, mantinha-se muito correta, não aceitando a constante “corte” de nenhum homem, branco, mulato ou preto. Tinha vários filhos, que sustentava com seu trabalho. Fazia todos os “pratos”, muito bem feitos distinguindo-se a “leitoa pururuca”, e o “lombo com farofa”, acompanhado de couve refogada”.

Detalhe do livro "Culinária Tradicional do Vale do Paraíba", de Paulo Camilher Florençano e Maria Morgado de Abreu
Detalhe do livro “Culinária Tradicional do Vale do Paraíba”, de Paulo Camilher Florençano e Maria Morgado de Abreu

Pensei em minha avó que trabalhou como cozinheira e em minha mãe, que para nos sustentar quando do encerramento do transporte de passageiros nos trens da Sorocabana, abriu uma pensão para abrigar os “peões da Camargo Correa”, isso lá pelos fins dos anos 60, começo dos anos 70.
Mês de março, mês das mulheres e eu me coloquei a pensar nelas, nas mulheres que se espalham por este imenso país e que retiram do calor do fogo e de seus corações os melhores sabores, que encantam os comensais e alimentam os sonhos de dias melhores para seus filhos.

Resolvi falar um pouquinho de algumas dessas heroínas, pensando em seu anonimato e o quanto, de alguma forma, seus filhos foram famosos e também forjaram a História do Vale do Paraíba.

 Felipa construiu a história de seu filho Alfredo Casemiro da Rocha
Contemporânea de Luiza Mahin na Bahia, Felipa: “era cozinheira exímia de forno e fogão, de salgados e doces”. Para custear os estudos de seu filho “botou pensão” para atender estudantes ricos da Faculdade de Medicina da Bahia e ainda fornecia refeições avulsas.

Alfredo, aos 22 anos, com sua tese de conclusão do curso de medicina na Bahia (Fonte: "Negro político, político negro", de Oracy Nogueira)
Alfredo, aos 22 anos, com sua tese de conclusão do curso de medicina na Bahia (Fonte: “Negro político, político negro”, de Oracy Nogueira)

Dr. Alfredo Casemiro da Rocha, nascido na Bahia e formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, em Salvador, foi médico, político, em 1879 integrou a Câmara Municipal de Cunha, em 1892 foi eleito deputado estadual pelo Partido Republicano, em 1894 elegeu-se deputado federal por São Paulo, em 1924/24 foi ocupou o cargo de prefeito de Cunha, em 1933 foi nomeado prefeito de Cunha.

 Luiza Mahin construiu a história de seu filho Luiz Gama

Luiz Gama (Fonte: wikimedia commons)
Luiz Gama (Fonte: wikimedia commons)

“era quituteira, tinha banca no mercado, vendia quitutes e também aluá”. Quando o filho tinha apenas 10 anos ela teve que fugir da Bahia, pois havia indícios de seu envolvimento na Revolta dos Malês em 1835.
Luiz Gama, o “Orfeu da Carapinha” foi escritor, jornalista e advogado. Em 1878 atuou como advogado em Pindamonhangaba de 13 negros que após libertos por seu dono, foram impedidos de gozar sua liberdade pela viúva. Saiu vitorioso neste processo.

 Maria de Oliveira construiu a história de seu filho João Carlos de Oliveira
“era quituteira de mão cheia, atendia as melhores famílias preparando jantares e almoços, além de preparar produtos culinários para seus filhos comercializarem nas ruas da cidade.”

João do Pulo no Panamericano de 1975 no México. (Memória Globo)
João do Pulo no Panamericano de 1975 no México. (Memória Globo)

João Carlos de Oliveira (o João do Pulo) foi um dos maiores campeões mundiais no salto triplo, além de grande corredor nos 100 e 200 metros. Seu recorde mundial alcançado em 1975 de 17,89 metros só foi quebrado em 1985. Sua trajetória vitoriosa foi desfeita por um acidente de carro em 1981, que resultou na amputação de sua perna. Formou-se ainda em Educação Física e cumpriu dois mandatos como Deputado Estadual, além de ser Sargento do Exército Brasileiro.
Bibliografia:
Abreu, Maria Morgado de, Florençano, Paulo Camilher – A Culinária Tradicional Valeparaibana – Fundação Nacional do Tropeirismo – Centro Educacional Objetivo – São José dos Campos: JAC Editora, 1992.
Carvalho, Elciene – O Orfeu da Carapinha – Trajetória de Luiz Gama na Imperial Cidade de S.P.- São Paulo: Editora UNICAMP,1999.
Gentile, Paola – Coleção Pequenos Craques “João do Pulo”. – São Paulo: Editora Callis, 2009.
Nogueira, Oracy – Negro Político, Político Negro: A Vida do Doutor Alfredo Casemiro da Rocha, Parlamentar da República Velha. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

 

 

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Solange Barbosa é técnica em turismo e especialista em turismo cultural de base comunitária. Criadora do projeto Rota da Liberdade e consultora da UNESCO no projeto Rota do Escravo. É intermediadora cultural e consultora em assuntos culturais da população negra de Taubaté e região.

A ODISSÉIA DE UM GRANDE JORNAL E A NOBREZA DE UM AMIGO DE VERDADE

julho 25, 2016
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Por Celio Moreira

Após breve passagem pela cabina da TV Excelsior do Rio de Janeiro como locutor e redator de chamadas, algo que, pela mesmice, começava a causar enjoo, resolvi brincar um pouco e passei a ler os textos imitando vozes de famosos narradores, num recordar dos velhos tempos de rádio em Taubaté. Assim aconteceu durante toda uma tarde de 1963.  Interessante é que as imitações determinaram o fim de minha permanência trancado naquele cubículo, ainda que na maioria das vezes, é verdade, junto de as mais agradáveis companhias. Mané Garrincha e seu amigo Nilton Santos, por exemplo, eram presenças garantidas que, semanalmente, ali ficavam para assistir Elza Soares, sempre, num fantástico desempenho! Outra presença muito querida e quase permanente na programação noturna era a de Manoel da Conceição, “Mão de Vaca”, excelente violonista contratado pela emissora.

Bem depois, falando a uma revista sobre o sucesso dos BONECOS FALANTES no JORNAL DE VERDADE, BORJALO revela que minhas imitações chamaram a atenção do Diretor de Broadcast, Carlos Manga , que ligou imediatamente para Geraldo Casé, diretor do departamento responsável, querendo saber o que era aquilo, com tanta gente falando na cabina.

– É o Célio, Manga! Ele que está fazendo as vozes! Estamos nos divertindo aqui!

Carlos Manga (foto de Lucas Landau/Folhapress, acessado em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/09/599534-morre-o-diretor-carlos-manga-aos-87-anos-no-rio.shtml)

Não demorou muito e para minha surpresa, fui chamado à sala de Fernando Barbosa Lima, diretor do Departamento de Jornalismo.

 – “Célio, quero te contratar para a equipe do Jornal de Vanguarda. O que você quer fazer?”

A resposta foi pronta porque esperava uma oportunidade para repetir algo que já havia feito em São Paulo e que me deixava muito à vontade no costumeiro calor dos estúdios, pois ficava livre da obrigatoriedade da maquiagem e do uso de paletó e gravata:

– Quero fazer “O SOMBRA”!

– Sombra?!

–Sim. Foi o personagem que representei na TV Paulista. Abordava um fato importante da semana com a silhueta projetada contraluz numa tela.

-Tudo bem, disse Fernando.

Estendeu-me a mão e sentenciou: “esquece a cabina, ok? Você começa hoje”.  Fernando sabia das coisas. Por isso mesmo se constituiu no maior produtor de programas da televisão brasileira!

Minha estreia no jornal aconteceu naquela noite mesmo. E lá estava “O SOMBRA”, a revelar

Surpreendentes notícias, reflexos da grave situação política do país. Contudo, parecia um sonho estar, naquele momento, ao lado de grandes nomes como Luiz Jatobá, Sargentelli, Sergio Porto, Millôr Fernandes, João Saldanha, Jacinto de Thormes, Gilda Muller, Barão de Itararé, Vilas Boas Correia, Borjalo, Appe, Tarcisio e Haroldo Holanda, enfim, um time de primeiríssima qualidade e que receberia, em breve, o prêmio internacional “ÁGUIAS DE PRATA”, conferido pelo governo espanhol ao melhor telejornal do mundo.

Além de participar da equipe de apresentadores, me surpreendo com outra extraordinária missão: fazer dupla com Sergio Porto na produção de “Filme Fofoca”, um dos quadros de sucesso do programa “Play Boy”, exibido no Rio e em São Paulo na década de sessenta. Nossa missão era  colocar vozes em  filmes mudos, antigos. Na verdade, um prato cheio para por em prática a veia de humor atiçada em meus nove anos de rádio em Taubaté! Agora, ao lado de Stanislaw Ponte Preta que, desde São Paulo, já o acompanhava na admirável e divertida coluna do jornal “Última Hora”. Melhor ainda foi que, dessa convivência, nos tornamos fraternos amigos, frequentadores do Maracanã e das noites cariocas. Começava a viver um dos grandes momentos de minha realização profissional.

Sérgio Porto, vulgo Stanislaw Ponte Preta

O Jornal de Vanguarda, líder de audiência, incrível, passou a ser cobiçado pelas emissoras do Rio.

Quando veio a notícia de nossa ida para a Urca, a grande maioria concordou prontamente, inclusive meu irmão que, a meu pedido, havia se incorporado à equipe com o esperado brilho. Quem não gostou muito foi a TV Excelsior, tudo fazendo para que a medida não se efetivasse. Chegou a entrar com processo na Justiça do Trabalho citando nominalmente todos os que abandonaram seu ninho.

Mas a decisão já estava sacramentada e partimos para o desembarque na TV Tupi. Antes, em famosa churrascaria de Botafogo, diretores da emissora recepcionam a equipe que é saudada pela excelente atriz pernambucana Arlete Salles.

Nosso jornal continuou absoluto no novo endereço e motivo de satisfação para todos. Para dar uma sacudida no horário das sete, cuja audiência estava à zero, Fernando Barbosa Lima lança “Patrulha da Cidade”, programa policial vivido no interior de uma delegacia, onde José Lewgoy era o “xerife”; Eu e Samuel Correia com as notícias do mundo do crime e a excelência dos comentários de Stanislaw Ponte Preta. Não sei se ainda existe o acervo audiovisual da extinta Rede Tupi de Televisão ou se alguma gravação deste programa foi conservada pela Cinemateca Brasileira. Ah…! Como gostaria de revê-lo!

A audiência, que acusava sòmente traços naquele horário, passou a registrar sete pontos na primeira semana de apresentação.

Tudo corria otimamente na Terra Tupiniquim, mas uma nova viagem estava sendo confirmada. Ufa! O destino agora era a TV Globo, a mais nova emissora da cidade, colada ao Jardim Botânico e instalada em prédio próprio, equipamentos de última geração. A equipe, provavelmente bem feliz, porque o local de trabalho estava mais próximo do LEBLOM, bairro no qual habitava grande parte dos apresentadores.

Repete-se mais uma estreia com grande audiência, levando a crer que, desta vez, todos se acomodariam no novo endereço; que nosso barco, finalmente, havia chegado ao derradeiro cais.

Mas, decorre algum tempo e a TV Excelsior, aparentemente, esquece os dissabores do passado e acena com novo convite para o retorno da equipe à emissora. Mais uma vez, como sempre, estava pronto para seguir. Porém, acostumado a não contar até dez para decidir qualquer coisa, desta vez soprava em meus ouvidos a observância de cautela, pois havia assumido importantes compromissos. A tranquilidade foi restabelecida quando um dos diretores afiançou que o contrato seria mantido nas mesmas condições da emissora da qual nos despedíamos.

Assim, mais uma vez, lá fomos nós, menos BORJALO, que ficou para ocupar importante cargo de direção, mais o narrador-apresentador Luís Jatobá. Sem dúvida, grandes perdas para o jornal!

Borjalo no programa Mister Show. Acervo Mauro Borja Lopes (http://memoriaglobo.globo.com/perfis/talentos/borjalo/fotos.htm)

Primeiro mês de trabalho na TV Excelsior, acontece o inesperado! Ao abrir o contra cheque vejo que o que fora prometido não estava sendo cumprido! Reclamei com o Caixa, falei com o tal diretor, com toda a diretoria e, como ninguém se tocasse, saí batendo com força todas as portas que foram ficando atrás de mim, até ganhar a rua e a franca disposição de não retornar. As palavras de BORJALO, quando nos despedimos do cenário anterior, explodiram luminosamente em minha cabeça: “- Quando tiver que voltar, Célio, já sabe o caminho, ok?!”

Horas depois, ao som de “UN HOMME ET UNE FEMME”, nosso prefixo, estava mesmo de retorno para viver cinco anos de sucesso com as vozes dos Bonecos Falantes de BORJALO e “O SOMBRA”, agora no premiadíssimo “Jornal de Verdade”. Meu trabalho foi gravado em duas ocasiões pela TV Alemã para ser exibido em cadeia europeia e norte-americana de televisão.

O jornalista Fernando Barbosa Lima (imagem G1-Rio)

Em 1970, ao terminar o contrato com a TV Globo, aceito convite para trabalhar na TV Educativa, onde permaneci por 32 anos. Certo dia, por determinação de seu fundador e presidente Gilson Amado, recebi a honrosa missão de receber o amigo e grande produtor Fernando Barbosa Lima que estava assumindo a Diretoria de Programação. Valeu, portanto, nossa insistência junto ao reitor para efetivar a mais interessante das contratações! Mais tarde Fernando voltaria para exercer, em dois períodos, a Presidência da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa. Época de ouro da nossa TVE!

Quando a idade começa a avançar, o tempo também voa. Deixa transparecer uma leve conspiração para tornar mais breve nossos bons momentos de vida na aposentadoria.

Parece que foi ontem, mas, há pouco mais de oito anos, encontro Fernando Barbosa Lima, talvez um ou dois meses antes de seu falecimento. Ele veio em minha direção, bem diferente de tantas outras vezes quando nos descobrimos em ITAIPAVA e disse: – Célio, você lembra quando fomos para a TV Globo?  – Sim, claro!  – Pois é – nosso patrocinador renovou o contrato, mas reduziu a verba e não tive como levar toda a equipe. Comentei o problema com Sergio Porto e mostrei a relação dos que não seguiriam com a gente. Você estava nela. Mas, ao ver seu nome ele me olhou surpreso e disse: O Célio vai, sim, Fernando! Divida meu cachê com ele!…

Depois de breve aceno, Fernando se afastou e eu continuei estático, sufocado pela emoção e pensando no grande amigo que havia partido tão cedo para não mais voltar.

 

 

 

[box style=’info’]Celio Moreira
celioconhecido também como O Sombra, do Jornal de Vanguarda, é um dos grandes profissionais de comunicação da história do jornalismo nacional.

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1 Comment
    Meyre Kajita Kako says: Reply
    janeiro 30th 2014, 12:14 pm

    Muito bom!.
    Adorei!

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Notícias do dia

Abril Boletim Efemérides Uncategorized
by almanaqueurupes

15 de abril de…

abril 15, 2021
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1873   Lei municipal obriga os proprietários de prédios  e terrenos e na sua falta os inquilinos a caiar a frente do prédio ou muro e a calçar de pedras ou tijolos a frente de suas casas ou terrenos. (Gazeta de Taubaté de 10 de junho de 1883 pág. 4).

 

1879   Lei provincial n.º 49 confirma as divisas entre os municípios de Jambeiro e Caçapava.

 

1883   A Junta Revisora da Comarca de Taubaté publica  1.ª  relação  de nomes de cidadãos da paróquia de Taubaté obrigados ao serviço de paz e guerra, da cidade, do quarteirão do bairro do Barranco, do bairro do Areão, do bairro do Tremembé e do bairro do Una e Tetequera, ao todo 66 indivíduos. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   O Sr. José Leandro inaugura linha de troles entre Taubaté e Tremembé cobrando 500 réis de ida e volta por pessoa. Sai de Tremembé às 6 h. da manhã e de Taubaté às 9 h. A hora de volta à tarde será combinada com os passageiros. O Sr. Teixeirinha está preparando animais e troles para uma outra linha. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   A alfaiataria dos srs. Leonardo & Pinto da Rua Dr.  Falcão Filho contíguo ao Largo da Matriz se chama “Alfaiataria da União”. (Gazeta de Taubaté).

 

1886   Lei provincial n.º 46 transfere para o distrito de Campos Novos de Cunha a fazenda de Daniel Gomes dos Santos Pinho.

 

1888   Telegrama procedente da Corte noticia o falecimento ali da  progenitora do Dr. Mathias Guimarães, engenheiro radicado em Taubaté, onde se encarrega do levantamento cadastral da cidade e iria ocupar o cargo de delegado de polícia. (O Liberal Taubateense).

 

1895   Realizam-se em Taubaté eleições para preenchimento de duas vagas de senadores. As eleições começam às 10 h. e as vagas de senadores decorrem da eleição do Dr. Prudente José de Moraes Barros para a Presidência da República e a da nomeação do Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves para ministro da Fazenda. As eleições se realizam em 10 seções instaladas inclusive nos bairros e no distrito de Tremembé. Há 2.260 eleitores inscritos. Os Drs. Moraes Barros e Dr. Paulo Souza obtém 387 votos cada. (O Popular).

 

1895   Após a entrada da procissão de São Benedito quando grande número de pessoas permaneciam em frente da Igreja Matriz o cocheiro da empresa de carris urbanos puxados a burro tenta atravessar a multidão com um bonde sendo impedido e preso por um popular. Não é a primeira vez que tal fato ocorre. (O Popular).

 

1898   Morre, em Taubaté, seu insigne filho D. José Pereira da Silva Barros, Arcebispo de Darnis, fundador do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho e do Externato São José. Era filho do Cap. Jacinto Pereira da Silva Barros e de D. Anna Joaquina de Alvarenga, tendo nascido em Taubaté a 24 de novembro de 1835. Fez os seus primeiros estudos no Liceu que então funcionava no Convento de Santa Clara e depois fez seus estudos eclesiásticos em São Paulo. Foi vigário de Taubaté por 19 anos. Reformou a nossa Matriz. Foi de grande abnegação durante a epidemia de varíola de 1873 a 1874 que assolou Taubaté, quando lhe ocorreu a idéia de fundar o Hospital Santa Isabel. Foi bispo de Olinda e do Rio de Janeiro e Deputado Provincial. (A Folha de 17/04/1932).

 

1900   O Grupo Particular Filhos de Talma realiza no Teatro São João um espetáculo em benefício das obras do prédio da sede da Associação Artística e Literária. (Jornal de Taubaté).

 

1901   Às 8 h. na Igreja Matriz celebram-se missas pelo 3.º ano de falecimento de Dom José Pereira de Barros e pelo 1.º ano do capitão Francisco Lopes Malta. (Jornal de Taubaté).

 

1903   Morre, em Taubaté, o Sr. Francisco Soares Barbosa, casado com  D.  Maria  Soares  de  Oliveira. (Jornal de Taubaté 14 – missa 2.º aniversário).

 

1906   Realizam-se, em Taubaté, solene Te-Deum e manifestação de júbilo em homenagem ao vigário da paróquia Côn. Antônio do Nascimento Castro por ter sido agraciado por S.S. Papa Pio X, a 19 de fevereiro último com o título de Monsenhor Prelado Doméstico. No Te-Deum toca a banda Philarmônica Taubateense, na passeata cívica a banda João do Carmo, ambas de Taubaté e na residência do homenageado a banda Dr. Antônio Maria, de Tremembé, cedida pelo c.el Antônio Monteiro Patto. (O Norte).

 

1909   Lei municipal n.º 126, em virtude de ter sido a água que abastece a cidade declarada impotável e conter grande quantidade de amônia conforme exame feito a pedido do Prefeito Dr. Gastão Aldano Vaz Lobo da Câmara Leal pelo Laboratório de Análises Químicas do Estado, é declarado de utilidade pública e decretada a desapropriação do serviço de abastecimento de água de Taubaté que vinha sendo feito pela Companhia Norte Paulista desde… (O Norte).

 

1910   Por motivo da passagem do 12.º aniversário da morte do ilustre taubateano D. José Pereira da Silva Barros, arcebispo de Darnis, 1.º depois da criação da diocese de Taubaté, realizam-se na Catedral solenes exéquias pelo sufrágio de sua alma oficiadas pelo nosso 1.º bispo D. Epaminondas Nunes D’Ávila e Silva. (O Norte).

 

1914   Noticia-se, em Taubaté, que o Dr. Oswaldo Cruz que durante muito tempo foi diretor da Saúde Pública no Rio de Janeiro acaba de ser agraciado com a Cruz da Legião de Honra. (O Norte).

 

1914   Circula o boato de que surgirá brevemente em Taubaté outro jornal de nome “O Paulista” à frente do qual estará o Prof. Bernardino Querido, colaborando Floriano de Lemos, Dr. Carlos Varella, Coelho Neto, Álvaro Guerra, Antônio Miranda e outros. (O Norte).

 

1914   Nas cerimônias da semana santa serviu a corporação musical João do Carmo, sob a regência do maestro Prof. Francisco Monteiro de Camargo. (O Norte).

 

1914   A firma Ramos & C.ia da Rua Duque de Caxias, 34, em Taubaté, compromete-se a entregar diariariamente garrafões de água de Quiririm mediante assinatura mensal a 3$000 o garrafão ou dois por 5$. Na mesma rua n.º 78 o empório Saraiva vende água de Cambuquira a $600 a garrafa para evitar os males do estômago. (O Norte)

 

1927   O Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa e a Ex.ma Sr.a D. Maria Eudóxia de Castilho Costa comemoram as suas bodas de prata matrimoniais mandando celebrar, a 19, missa em ação de graças. (Norte).

 

1932    Instala-se, em Taubaté, solenemente, o Ginásio Estadual, sob a Direção Prof. Major Acácio G. de Paula Ferreira. Constituem o seu 1.º corpo docente os professores: Cesídio Ambrogi, Joaquim Manoel Moreira, Dr. Jayme Pereira Vianna, Dr. Urbano Pereira, Dr. Pedro Barbosa Pereira, Emílio Simonetti, Clóvis Gomes Winther, Zita Conceição Rabello e maestro Fêgo Camargo. A secretaria estava a cargo do Sr. Cícero Azevedo sendo escriturária D. Carmosina Monteiro. Presente o Prefeito Municipal major João Cândido Zanani de Assis, proferiu a aula inaugural o Dr. Pedro Barbosa Pereira. (A Folha).

 

1949   Com a Catedral em reformas, a Semana Santa  é  realizada  no  Santuário de Santa Teresinha. Hoje é sexta-feira santa. (Taubaté Jornal).

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Extraído das Efemérides Taubateanas, de José Cláudio Alves da Silva. Acervo Maria Morgado de Abreu

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