Domingo inesquecível: assistindo Pelé em Taubaté

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O Esporte Clube Taubaté sempre enfrentava os chamados “grandes” de igual para igual.

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Um torcedor exibe orgulhosamente um Burro, mascote do Taubaté

Pelo Campeonato Paulista em um jogo do dia 23/06/61, enfrentaria o poderoso Santos Futebol Clube no Estádio Municipal da Praça Monsenhor Silva Barros, o velho e saudoso Campo do Bosque, como era popularmente conhecido. Era domingo, com um sol acanhado e em pleno inverno brasileiro. O estádio, de lembranças saudosas como suas arquibancadas de madeiras “sobrando” para a Rua Duque de Caxias, o vendedor de laranjas descascando-as na maquininha, o amendoim torradinho à porta frontal do Estádio, a imensa fila com os meninos de outrora implorando para entrarem junto com os pagantes (ei moço, me deixa entrar com o senhor? Fala que sou seu filho), a famosa “arquibancada gratuita” do Convento Santa Clara e completamente lotada,  fazia daquela partida um  espetáculo à parte. Naquela época podia-se entrar com guarda-chuva, levar o radinho de pilha, a laranja no saquinho, o chapéu à cabeça e as bicicletas.Detalhes de outrora que a modernidade se encarregou de substituí-las pela palavra PROIBIÇÃO. Também não haviam torcidas organizadas, internet para marcarem encontros antagônicos e violentos entre torcedores e tantos outros males que hoje, afligem àqueles que se aventuram a assistir a uma partida de futebol. A Polícia Militar da época, a nossa querida Força Pública, bastava o olhar de um policial reprovando uma atitude impensada de algum torcedor mais afoito, que a questão já estava resolvida. Outros tempos, onde o respeito prevalecia. Mas, o momento tão esperado pela torcida do E. C. Taubaté era sua entrada em campo, com os fogos de artifícios e do querido e saudoso Jorge Coutinho, um competente massagista, que com seu desempenho de corredor de 100 metros rasos completava a alegria de toda aquela gente simples, entusiasta e torcedora do Alvi Azul. Com um estádio completamente lotado e renda de CR$963.000,00 (Novecentos e Sessenta e Três Mil Cruzeiros), os protagonistas do espetáculo entraram em campo. De um lado o glorioso alvi azul do técnico Aymoré Moreira com Henrique, Gardel, Mexicano e Wilson Cruz; Celso e Zé Américo; Darci, Miro, Sabará, Ivã e Noca. De outro, a “máquina de fazer gols” comandada pelo técnico Lula, com Laércio, Getúlio, Mauro e Dalmo: Zito e Formiga; Dorval, Mengálvio, Coutinho Pelé e Pepe.

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Pelé entrevistado por Fauto garcez. 4/10/1958

Nesse jogo, Mexicano e Celso  anulavam Coutinho e Pelé. Henrique “fechava” o gol como sendo a maior partida de sua carreira. Ivan ditava o ritmo da partida. E que partida! Com arbitragem de Stefan Walter Glanz, e com Pelé colocando as mãos ora à cabeça, ora à boca não se conformando com a estupenda atuação de Henrique, o jogo chegava ao seu fim com um placar de 0x0.

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A arquibancada do “Campo do Bosque”

Ficaram as lembranças como as de Dorval sendo atingido por uma laranja na cabeça e decidido a atirá-la de volta à torcida, teve Pelé a intercedê-lo, e, tomando-a de suas mãos, partiu-a ao meio, entregou a outra metade a Dorval e saíram chupando. Também o futebol vistoso e elegante de Ivã, a raça de Gardel, Mexicano e Celso e a habilidade com a canhotinha de Noca, são lembranças que não deixam nossas memórias. Melhor assim. Quanto ao Santos F.C.  não precisamos acrescentar nada. Foi um sonho maravilhoso que passou em nossas mentes, alegrou nossas vidas e não voltará jamais.

PROFº GILBERTO DA COSTA FERREIRA – HISTORIADOR, PESQUISADOR, ESCRITOR E COORDENADOR TÉCNICO DO MEMORIAL GENERAL JÚLIO MARCONDES SALGADO

http://professorgilbertocf.blogspot.com.br/

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