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by almanaqueurupes

Uma zona para o Rei do Baião

abril 14, 2014
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O dia em que o Rei do Baião conheceu a “casa da luz vermelha” de Taubaté

GONZAGÃO, A RÁDIO E A ZONA

Por Célio Moreira

Corria o ano de 1951. Estava iniciando minha carreira de locutor na Radio Difusora Taubaté, atendendo convite do jovem diretor Emilio Amadei Berings Filho.A emissora funcionava já há 10 anos no 2º andar de um prédio da Rua Bispo Rodovalho e eu apresentava o programa “Música dos Mestres” , último da série de transmissões que se encerravam a meia noite. Foi quando ouvi passos escalando a velha escada de madeira que rangia à cada degrau.  Para nossa surpresa, com sanfona, zabumba e triângulo estávamos recebendo a visita daquele que seria um dos mais importantes nomes da música popular brasileira: Luiz Gonzaga, o Lua, Rei do Baião. Aos 39 anos de idade, ele ensaiava os primeiros passos do sucesso, após sucessivas apresentações nas rádios Nacional e Mayrink Veiga e começava uma turnê pelo país.

– E aí, Rei, não vai me dizer que veio aqui só prá conhecer a emissora?! – Vixe! Claro que não, minino! Vamos cantar!

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Interrompi o programa de música clássica e, com Vicente Anunciato na técnica. Já no pequeno auditório, fomos até meia noite com Luiz Gonzaga e muita alegria. Também participei tocando contrabaixo.

celio moreira
Celio Moreira nos tempos de Rádio Difusora

Terminado o show, encerradas as transmissões, o “Lua” pergunta: -E aí, cabra safado, tem zona nesta cidade? Na época havia três: uma, “A Coréia”, pelos lados da Embaré; outra, próxima ao Colégio Estadual (que ainda não havia sido construído) e o “Danúbio Azul”, instalado imponentemente na esquina de Chiquinha de Matos com Av. 9 de Julho, administrado pela célebre Anita Garoffi, para onde nos dirigimos. Luiz Gonzaga passou logo a mão na primeira que se aproximou e sumiu nas sombras de um quarto.

Fui encontrá-lo mais tarde, por volta do ano dois mil, antes de entrevistá-lo no programa “O Advogado do Diabo”, na TV Educativa e perguntei se ainda se lembrava de sua ida à Taubaté e da zona da cidade. Ele se limitou a dar um sorriso amarelo. É que Lourdinha, minha esposa, estava ao lado, Todos sorrimos!

[box style=’info’] Célio Moreira é locutor e jornalista de rádio e televisão. Atuou, entre outras, na Rádio Difusora de Taubaté e na Rede Globo de Televisão.  [/box]

Célio MoreiraLuiz Gonzagatextotextos
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Vamos Jogar Taco? Esporte, Raça e Colonização no Caribe Inglês

março 6, 2015
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Por Elaine P. Rocha

O jogo de taco é uma das brincadeiras de rua que as crianças brasileiras mais apreciam. Chamado de taco, betia, becha ou bets, o jogo tem diferentes nomes e algumas variações nas regras dependendo de onde é jogado. Trata-se de uma brincadeira simples, que não exige grande sofisticação, bastando dois paus de mais ou menos um metro de comprimento, sendo desejável que sejam achatados, com uns 7 -10 cm de largura (ainda que na minha infância eu tenha visto e jogadado muitas vezes com cabos de vassouras) precisa-se também de uma bola (mais uma vez, é desejável que seja pequena, mas joga-se com o que tem, até bolas murchas servem); faz-se uma “casinha” com três gravetos (outro dia vi meninos utilizarem uma garrafa pet vazia) e divide-se os times em dois atacantes – que batem na bola com o taco com a intenção de derrubar a casinha do adversário – e dois defensores do outro time, que por sua vez rebatem a bola com a maior força possível para fazer a bola ir longe e o jogador do time adversário se deslocar para recuperar a bola. Enquanto a bola está fora do campo, os dois defensores correm e cruzam o taco no ar, marcando assim os pontos. Bom, o jogo é mais ou menos assim, vocês devem saber melhor do que eu.

O fato é que esta brincadeira de crianças é o esporte mais popular entre britânicos e os povos colonizados pela Inglaterra, com direito a copa do mundo, campeonatos nacionais, regionais e locais. Chama-se cricket, e é praticado com grande reverência em campos apropriados, ou relaxadamente nas ruas, terrenos baldios e praias, assim como o futebol brasileiro. O cricket gera divisas, cria heróis nacionais e dinamiza o comércio e o turismo nos países onde é praticado.

CRICKET : o esporte colonial

O jogo de cricket teve suas origens na Inglaterra no início do século XVII, também como uma brincadeira de crianças. Curiosamente, o termo refere-se a um tipo de gíria antiga que misturava inglês e holandês falado nas regiões portuárias onde diferentes culturas interagiam no auge do poder comercial ultramarítimo britânico, e significa exatamente “taco” ou bat (palavra inglesa moderna para taco, que se pronuncia “bet”, daí que no Brasil muitos conheçam o jogo por betis). A brincadeira foi adotada pela elite que a transformou em sport, de forma que em 1744 já haviam regras para o jogo e especificações técnicas para o equipamento necessário, como o tamanho do taco, por exemplo. Por muito tempo, a prática de esportes era vista na Inglaterra como um costume de cavalheiros, que deveria ser vetado ao cidadão comum, à plebe e aos trabalhadores escravizados e condenados a trabalhos forçados.

O cricket como esporte de elite, na Inglaterra, seculo XIX
O cricket como esporte de elite, na Inglaterra, seculo XIX

No período vitoriano, adotou-se o uniforme branco, cujo uso alguns autores afirmam que estava relacionado à ideia de pureza e superioridade. Já neste período viajantes notaram que a plebe estava praticando o jogo dos cavalheiros à sua maneira, inclusive praticando-o nos porões dos navios de carga da poderosa marinha mercante inglesa. Um outro ambiente onde o jogo de cricket era muito popular eram os quartéis e as guarnições militares, onde o jogo era utilizado como forma de recreação e como elemento mantenedor da disciplina e da moral dos militares ingleses, diferenciando-os da ralé que deveriam dominar. Caberia às classes mais baixas e aos escravos apenas assistir ao jogo à distância, porém assim como aconteceu com outras práticas culturais, com o tempo o povo passou a imitar a elite adaptando o esporte às limitações de seu contexto e a documentação histórica revela escravos jogando o cricket à sua maneira nas grandes fazendas açucareiras de Barbados em seus poucos momentos de lazer.

A escravidão foi abolida nas colônias inglesas em 1838, porém a ordem social não sofreu uma grande alteração, com o ex-escravo na base da pirâmide, sofrendo exclusão em todos os redutos da vida pública. Por outro lado, o temor aos levantes sociais causados pela extrema exploração deste grupo aliada a iniciativas de qualificar a mão-de-obra minimamente, levou à abertura de escolas junto às igrejas e ao incentivo de práticas de esporte e lazer entre as camadas subalternas e por estudantes como medida salutar e de incentivo à disciplina.

Time de cricket da Inglaterra, 1861
Time de cricket da Inglaterra, 1861

Ao final do século XIX haviam vários clubes de cricket nas colônias do Caribe e a prática do esporte já era parte da cultura local. A disseminação do esporte, entretanto, não foi suficiente para eliminar as barreiras raciais e econômicas, e os times, clubes e campeonatos eram divididos de acordo com a classificação racial de seus membros, para impedir o contato interracial e de acordo com a classe social do indivíduo, como por exemplo, os clubes dos comerciantes, clubes de fazendeiros, de funcionários públicos, etc. .

Esporte e Relações Raciais

Estas práticas de classificação e exclusão dentro da disseminação cultural também fazem parte da história social das colônias inglesas na Àfrica, no Oriente Médio, na Índia e Ásia, e na Austrália e Nova Zelândia. O fenômeno que aconteceu em outros esportes como no futebol por exemplo, onde os times recusavam-se a incluir jogadores negros (Brasil e  Argentina até a década de 20-30) não se aplicou ao cricket e encontramos jogadores negros do Caribe, representando o time das West Indies em torneios internacionais já no ano de 1886. De acordo com o historiador Hilary Beckles (The First West Indies Cricket Tour, 2006 e A Nation Imagined: The First West Indies Test Cricket Team, 2004) a grande barreira era econômica, devido aos custos de equipamento, uniforme e das despesas de viagens para os jogadores, sendo que os negros estavam entre os mais pobres. Isto fez com que excelentes jogadores não participassem das primeiras competições internacionais, por outro lado, as disputas com outros países deram forma à identidade caribenha em contraste com as outras colônias britânicas.

Time inglês a caminho dos Estados Unidos para competir, em 1859
Time inglês a caminho dos Estados Unidos para competir, em 1859

O tour de 1886 se estendeu entre cidades do Canadá e Estados Unidos, no qual o time caribenho se despontou não só pelas táticas de jogo, mas por ser o único que apresentava uma composição multirracial. Tais torneios eram apoiados pela Coroa Britânica e claramente mostravam a dominação colonial, contudo, o mesmo esporte criou mecanismos de identificação, não somente pela cultura imposta pela colonização que vai desde o idioma até instituições como a religião, sistemas de ensino e estrutura administrativa, mas pela forma como proporcionou uma identidade nacional dentro do sistema colonial, no qual os caribenhos, por exemplo, desenvolveram táticas de jogo diferenciadas que fazem parte da identidade e do orgulho nacional.

Ainda sobre a mesma turnê, encontram-se por se fazer as pesquisas sobre a impressão causada por um time multirracial em turnê por um país como os Estados Unidos onde a segregação racial era a norma para todas as atividades e lugares públicos. O time dos Caribenhos viajou e se apresentou em várias cidades, hospedando-se em hotéis e participando das atividades sociais que rodeavam os torneios. No diário do capitão do time, um Jamaicano branco chamado Laurence Fyfe encontram-se relatos detalhados da turnê internacional, incluindo eventos sociais e até o cardápio das refeições servidas ao time, mas nenhuma referência à animosidades contra o time. Contudo, é notável a formação de um time formado por jogadores vindos da Guiana Inglesa, Barbados e Jamaica, que na época ainda eram colônias inglesas caracterizadas pela monocultura da cana de açúcar, dominadas pela elite colonial e sua restrita hierarquia, onde se viam reunidos membros da elite colonial (branca) e os descendentes de ex-escravos, jogando lado a lado e convivendo muito próximos num período marcado pelas teorias racistas e práticas segregacionistas.

O Time Caribenho (West Indies) 1906
O Time Caribenho (West Indies) 1906

Ainda que já no início do século XIX competições de caráter nacional incorporassem times vindos das colônias para disputarem com times Ingleses, foi em 1909 que o Império Britânico promoveu a primeira Imperial Cricket Conference, uma espécie de campeonato entre as colônias do Império que reuniu times da Inglaterra, Austrália e África do Sul. Nos anos seguintes, juntaram-se a estes as West Indies (Caribe Inglês), Índia e Nova Zelandia. Mais uma vez a composição étnica dos times de West Indies e da Índia e o fato de competirem com times brancos, desafiava as práticas racistas do período.

O Cricket e a Construção da Identidade Nacional e Caribenha

A maior parte das colônias inglesas do Caribe conquistou sua independência durante a década de sessenta, ainda que a aceitação do status de país membro do Commonweath tenha de certa forma mantido a condição de subalternidade dessas sociedades em relação à coroa inglesa. Neste período, os países caribenhos já haviam consolidado formas culturais específicas na música, na literatura e em outras formas de expressão, inclusive nos esportes. O estilo caribenho de jogar o cricket foi logo associado ao ritmo musical do calipso.

Outra foto do time West Indies 1933
Outra foto do time West Indies 1933

Nas década de 70 e 80, já com equipes mistas e completamente popularizado, o “calypso cricket” dos caribenhos estava no seu auge, conquistando inúmeras vitórias contra seus adversários, mas foi a vitória contra a Inglaterra em 1981 que acendeu as chamas do nacionalismo e alimentou o discurso anti-colonialista que se opunha radicalmente às políticas neo-liberais da então Primeira Ministra Margareth Thatcher. Na opinião de historiadores como o citado Hilary Beckles e C.L.R. James (Beyond Boundary, 1963), o cricket conseguira na ocasião estabelecer um sentimento de unidade e identidade entre os países caribenhos que os apelos políticos por uma federação caribenha não havia conseguido alguns anos antes.

Cricket ou Taco?

Não há estudos específicos sobre as origens do jogo de taco no Brasil. Porém é possível que o jogo tenha começado a se popularizar nas áreas portuárias, ainda durante o século XIX, devido ao contato com marinheiros embarcados em navios ingleses.

A partir de 1870, com a entrada das companhias inglesas para a construção das ferrovias e de outros projetos de modernização, como os bondes elétricos, projetos de iluminação pública e de navegação a vapor, um significativo número de trabalhadores ingleses e súditos britânicos entraram no Brasil. O cricket se insere dentro das práticas inglesas de recreação, como fizeram os militares anos antes, como parte da política para elevar o moral dos funcionários das companhias britânicas. Estas companhias estiveram ativas no Brasil principalmente entre 1880 e 1940. Pode-se dizer que o cricket transformou-se em taco, beti, betia, betsi, betcha, à medida em que os trilhos dos trens avançaram pelos estados brasileiros, ou que os navios à vapor ancoravam nos portos fluviais do norte do pais.

Barbados, meninos divertem-se jogando cricket na praia
Barbados, meninos divertem-se jogando cricket na praia

Os trabalhadores e na maioria seus filhos, se encarregaram de espalhar a prática. Mais uma vez o mimetismo cultural se estabelece, com meninas e meninos brasileiros imitando um jogo do qual a princípio eram meros espectadores. A carência de elementos estruturais como o taco, bola e alvo (stumb) apropriado levou à contínua adaptação e improvisação, o uniforme foi definitivamente abolido e a regra brasileira mais observada é a diversão.

 

_____________

Elaine P. Rocha é historiadora formada pela Universidade de Taubaté, com mestrados pela PUC de São Paulo e University of Pretoria, África do Sul, e doutorado em história social pela USP. Professora de História da América Latina na University of the West Indies, Barbados.

 

 

PROSA COM UM POETA LOUCO

fevereiro 22, 2013
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Nunca pensei que conheceria pessoalmente algum dia uma lenda amazônica. Ainda bem que estava errado! Há mais ou menos um mês conheci o, no dizer do jornalista Narciso Lobo, “o mais torto dos poetas amazonenses”: Aldísio Filgueiras.

Tentar apresentar Aldísio para quem nunca leu um de seus poemas ou de seus artigos é um tanto difícil, mas vamos á luta. Estamos falando de um senhor de seus sessenta e cinco anos, bem  vividos, que até hoje trabalha no jornalismo – nossas entrevistas acontecem sempre na sede do jornal Amazonas Em Tempo – e não perdeu o jeito informal e inquieto de se comunicar com as pessoas.

Aldísio, filho de uma família humilde, cursava a Faculdade de Direito do Amazonas quando foi dado um golpe em 1964 em um certo país da América Latina. Já era figura carimbada do movimento estudantil em Manaus e tinha muitos amigos na esquerda. Como a maioria dos envolvidos no meio artístico nacional, Aldísio foi tomado por um sentimento de revolta e desilusão: o povo estava com a faca e o queijo na mão para fazer a revolução e então, em uma noite, uma quartelada acaba com tudo isso? O povo realmente estava com a faca e o queijo na mão, ou era tudo ilusão?

A gota d’água foi ouvir da boca de um professor de Direito Constitucional que o golpe era legal. Aí largou o futuro de advogado e passou a viver de suas colaborações na imprensa diária. Com seus vinte e poucos anos e morando numa cidade então pequena e muito provinciana nesse contexto de repressão e paranoia, Aldísio era tomado por um sentimento de insatisfação. Sua vontade era sacudir a cidade, fazer algo novo, se livrar da carcaça do moralismo e do porrete da repressão.

Seu livro de estreia, Estado de Sítio (nome sugestivo, não?), ganhou o concurso da União Brasileira dos Escritores (seção do Amazonas), mas não saiu em circulação. O motivo era que estávamos em dezembro de 1968 com o AI-5 saindo do forno e um livro que diz poucas e boas á Manaus e ao regime militar. Quem iria publicar?

Era o tempo dos festivais e o Amazonas também tinha seus festivais. Havia o Festival Universitário de Música, onde Aldísio e uma moçada concorriam. No entanto, os jurados ainda viam com desconfiança aquelas letras que não eram românticas, ufanistas ou melodiosas. Classificavam-na de “lixo” na cara dura. E cansado disso, Aldísio resolveu fazer um festival em especial para esse tipo de música. Era o Festival do Lixo, quer dizer, o Primeiro ExposiSom de Manaus (afinal, Lixo era muito forte para ser nome de um evento, segundo a Polícia Civil).

Aldísio Filgueiras

A inspiração maior vinha do lendário Festival de Woodstock que tinha acontecido em julho de 1969 nos EUA. Um marco na contracultura mundial. A juventude que desejava um mundo com mais paz e amor, um mundo fora da lógica da Guerra Fria, tinha encontrado para si uma data definidora. E no Amazonas não foi diferente. Só que o Woodstock baré levou três meses para acontecer, por conta do aval da Polícia Civil, e não teria acontecido se não fosse a doação generosa de um dos pais dos inscritos no evento em cima da hora.

Foi um domingo de muita música e sol na Ponta Negra. A polícia, militar e civil, estava presente vigiando, mas o apocalipse imaginado pela nata da sociedade amazonense não aconteceu. Tirando um acidente de um exibicionista com sua voadeira (barco com motor de linha) o Festival do Lixo teria repetido a mesma marca de incidentes que Woodstock registrou: zero.

Driblar a censura era algo que Aldísio quase dominava. Habilidade que adquiriu durante o tempo que participou do Teatro Experimental do SESC, encenando as peças mais polêmicas que essa cidade tinha visto. O uso do palavrão, atores seminus, trilha sonora violenta e qualquer menção ao governo ou a seus projetos eram o alvo de maiores reclamações dos censores e dos atores e encenadores mais tradicionais, que não entendiam todo esse experimentalismo.

O TESC, no entanto, foi ser fechado justamente por um governo democrático. Em 1982, em pleno mandato do primeiro governador eleito após o regime militar, as portas do teatro foram fechadas com um imenso cadeado. Anos depois o projeto retornou e continua até hoje, com as bênçãos dos seus pioneiros como Aldísio e Márcio Souza.

Aldísio Filgueiras. Foto de Maurílio Sayão.

Depois de passar pela música e pelo teatro, repousemos na poesia de Filgueiras. Influenciado pelo neoconcretismo, muitos consideram seus versos pós-modernos. Não é a toa que o escritor Márcio Souza o considere o “o poeta dos estilhaços da amazonidade”: sua escrita é fragmentada e guarda múltiplas interpretações.  Seus versos evocam cenas, guardam críticas ácidas e lúdicas. Lembra muito o objeto de seu olhar: a cidade de Manaus. Uma cidade que após a Zona Franca se transforma muito rápido e nem sempre pra melhor. Aldísio, que começou a publicar seus livros exatamente no mesmo ano de implantação do distrito industrial, busca representar essa transformação em seus livros Malária e Outras Canções Malignas (1976), A República Muda (1989), Manaus, as Muitas Cidades (1993) e Nova Subúrbios (2004).

Manaus é quase onipresente não só na sua poesia, mas na sua prosa. Á todo momento ela surge em sua conversa. É um pensador que não se furta á refletir sobre sua cidade. O que é incrível hoje quando todos parecem se focar apenas no básico, no superficial. Nosso poeta vai mais fundo na questão. Enxerga no capitalismo, no governo, nos intelectuais e até em nós mesmos a culpa de todo esse caos. No entanto, todos estes fatores não são o problema imediato, mas a ausência de iniciativa em resolvê-lo.

Se sua geração ficou conhecido por querer mudar o mundo e quebrar a cara com isso, a atual está se tornando famosa por reclamar de tudo, mas não levantar nem uma palha para melhorar a situação. Claro, uma geração é muito diversa e existem exemplos contrários á esse comportamento. Há quem diga que essa apatia está chegando ao fim com a força dos movimentos sociais, mas Aldísio se mostra desconfiado. “O que chamam de sociedade civil organizada é um monte de assentamentos: o movimento gay, o movimento negro, o movimento ecológico, o movimento contra a corrupção, etc… É uma loja de departamentos!”

A fragmentação das lutas sociais e o conformismo: dois obstáculos poderosos para se sair do buraco em que Manaus (e o mundo) se atolaram, segundo ele. E adverte: não adianta achar que descobrir a causa do problema resolve tudo. É preciso ação e é nessas horas que cada um tem seu grão de culpa. Pode-se condenar um prefeito que desvia verbas e coloca afilhados no poder, mas ele não chegou lá sozinho. Alguém o elegeu. Em um momento tão oportuno quanto este de eleições é sempre bom lembrar que nesse jogo ninguém é inocente e nada se conserta sozinho.

Enfim, isso é apenas um pedaço de nossa conversa. A cabeça de Aldísio é como a primeira página de um jornal: ali estão breves resumos de todas as seções ( esporte, música, cotidiano, economia, etc.). Incrível como ele consegue conectar temas tão díspares de forma tão crível e bem humorada. Mais incrível ainda é como ele nos aguenta, sempre o importunando em seu intervalo no trabalho para esses longos papos sobre o ontem e o hoje. E gostaria de finalizar mandando um abraço e um muito obrigado ao nosso “poetinha”. Evoé, Aldísio!

__________________________

Vinicius Alves do Amaral é licenciado em História pela Uninorte.

1 Comment
    Nelci Moreira says: Reply
    dezembro 18th 2012, 10:27 am

    Celio valeu recordar a velha Taubaté. Bons tempos! Congratulações a revista
    Nelci

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Notícias do dia

Abril Boletim Efemérides Uncategorized
by almanaqueurupes

15 de abril de…

abril 15, 2021
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1873   Lei municipal obriga os proprietários de prédios  e terrenos e na sua falta os inquilinos a caiar a frente do prédio ou muro e a calçar de pedras ou tijolos a frente de suas casas ou terrenos. (Gazeta de Taubaté de 10 de junho de 1883 pág. 4).

 

1879   Lei provincial n.º 49 confirma as divisas entre os municípios de Jambeiro e Caçapava.

 

1883   A Junta Revisora da Comarca de Taubaté publica  1.ª  relação  de nomes de cidadãos da paróquia de Taubaté obrigados ao serviço de paz e guerra, da cidade, do quarteirão do bairro do Barranco, do bairro do Areão, do bairro do Tremembé e do bairro do Una e Tetequera, ao todo 66 indivíduos. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   O Sr. José Leandro inaugura linha de troles entre Taubaté e Tremembé cobrando 500 réis de ida e volta por pessoa. Sai de Tremembé às 6 h. da manhã e de Taubaté às 9 h. A hora de volta à tarde será combinada com os passageiros. O Sr. Teixeirinha está preparando animais e troles para uma outra linha. (Gazeta de Taubaté).

 

1883   A alfaiataria dos srs. Leonardo & Pinto da Rua Dr.  Falcão Filho contíguo ao Largo da Matriz se chama “Alfaiataria da União”. (Gazeta de Taubaté).

 

1886   Lei provincial n.º 46 transfere para o distrito de Campos Novos de Cunha a fazenda de Daniel Gomes dos Santos Pinho.

 

1888   Telegrama procedente da Corte noticia o falecimento ali da  progenitora do Dr. Mathias Guimarães, engenheiro radicado em Taubaté, onde se encarrega do levantamento cadastral da cidade e iria ocupar o cargo de delegado de polícia. (O Liberal Taubateense).

 

1895   Realizam-se em Taubaté eleições para preenchimento de duas vagas de senadores. As eleições começam às 10 h. e as vagas de senadores decorrem da eleição do Dr. Prudente José de Moraes Barros para a Presidência da República e a da nomeação do Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves para ministro da Fazenda. As eleições se realizam em 10 seções instaladas inclusive nos bairros e no distrito de Tremembé. Há 2.260 eleitores inscritos. Os Drs. Moraes Barros e Dr. Paulo Souza obtém 387 votos cada. (O Popular).

 

1895   Após a entrada da procissão de São Benedito quando grande número de pessoas permaneciam em frente da Igreja Matriz o cocheiro da empresa de carris urbanos puxados a burro tenta atravessar a multidão com um bonde sendo impedido e preso por um popular. Não é a primeira vez que tal fato ocorre. (O Popular).

 

1898   Morre, em Taubaté, seu insigne filho D. José Pereira da Silva Barros, Arcebispo de Darnis, fundador do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho e do Externato São José. Era filho do Cap. Jacinto Pereira da Silva Barros e de D. Anna Joaquina de Alvarenga, tendo nascido em Taubaté a 24 de novembro de 1835. Fez os seus primeiros estudos no Liceu que então funcionava no Convento de Santa Clara e depois fez seus estudos eclesiásticos em São Paulo. Foi vigário de Taubaté por 19 anos. Reformou a nossa Matriz. Foi de grande abnegação durante a epidemia de varíola de 1873 a 1874 que assolou Taubaté, quando lhe ocorreu a idéia de fundar o Hospital Santa Isabel. Foi bispo de Olinda e do Rio de Janeiro e Deputado Provincial. (A Folha de 17/04/1932).

 

1900   O Grupo Particular Filhos de Talma realiza no Teatro São João um espetáculo em benefício das obras do prédio da sede da Associação Artística e Literária. (Jornal de Taubaté).

 

1901   Às 8 h. na Igreja Matriz celebram-se missas pelo 3.º ano de falecimento de Dom José Pereira de Barros e pelo 1.º ano do capitão Francisco Lopes Malta. (Jornal de Taubaté).

 

1903   Morre, em Taubaté, o Sr. Francisco Soares Barbosa, casado com  D.  Maria  Soares  de  Oliveira. (Jornal de Taubaté 14 – missa 2.º aniversário).

 

1906   Realizam-se, em Taubaté, solene Te-Deum e manifestação de júbilo em homenagem ao vigário da paróquia Côn. Antônio do Nascimento Castro por ter sido agraciado por S.S. Papa Pio X, a 19 de fevereiro último com o título de Monsenhor Prelado Doméstico. No Te-Deum toca a banda Philarmônica Taubateense, na passeata cívica a banda João do Carmo, ambas de Taubaté e na residência do homenageado a banda Dr. Antônio Maria, de Tremembé, cedida pelo c.el Antônio Monteiro Patto. (O Norte).

 

1909   Lei municipal n.º 126, em virtude de ter sido a água que abastece a cidade declarada impotável e conter grande quantidade de amônia conforme exame feito a pedido do Prefeito Dr. Gastão Aldano Vaz Lobo da Câmara Leal pelo Laboratório de Análises Químicas do Estado, é declarado de utilidade pública e decretada a desapropriação do serviço de abastecimento de água de Taubaté que vinha sendo feito pela Companhia Norte Paulista desde… (O Norte).

 

1910   Por motivo da passagem do 12.º aniversário da morte do ilustre taubateano D. José Pereira da Silva Barros, arcebispo de Darnis, 1.º depois da criação da diocese de Taubaté, realizam-se na Catedral solenes exéquias pelo sufrágio de sua alma oficiadas pelo nosso 1.º bispo D. Epaminondas Nunes D’Ávila e Silva. (O Norte).

 

1914   Noticia-se, em Taubaté, que o Dr. Oswaldo Cruz que durante muito tempo foi diretor da Saúde Pública no Rio de Janeiro acaba de ser agraciado com a Cruz da Legião de Honra. (O Norte).

 

1914   Circula o boato de que surgirá brevemente em Taubaté outro jornal de nome “O Paulista” à frente do qual estará o Prof. Bernardino Querido, colaborando Floriano de Lemos, Dr. Carlos Varella, Coelho Neto, Álvaro Guerra, Antônio Miranda e outros. (O Norte).

 

1914   Nas cerimônias da semana santa serviu a corporação musical João do Carmo, sob a regência do maestro Prof. Francisco Monteiro de Camargo. (O Norte).

 

1914   A firma Ramos & C.ia da Rua Duque de Caxias, 34, em Taubaté, compromete-se a entregar diariariamente garrafões de água de Quiririm mediante assinatura mensal a 3$000 o garrafão ou dois por 5$. Na mesma rua n.º 78 o empório Saraiva vende água de Cambuquira a $600 a garrafa para evitar os males do estômago. (O Norte)

 

1927   O Dr. Pedro Luiz de Oliveira Costa e a Ex.ma Sr.a D. Maria Eudóxia de Castilho Costa comemoram as suas bodas de prata matrimoniais mandando celebrar, a 19, missa em ação de graças. (Norte).

 

1932    Instala-se, em Taubaté, solenemente, o Ginásio Estadual, sob a Direção Prof. Major Acácio G. de Paula Ferreira. Constituem o seu 1.º corpo docente os professores: Cesídio Ambrogi, Joaquim Manoel Moreira, Dr. Jayme Pereira Vianna, Dr. Urbano Pereira, Dr. Pedro Barbosa Pereira, Emílio Simonetti, Clóvis Gomes Winther, Zita Conceição Rabello e maestro Fêgo Camargo. A secretaria estava a cargo do Sr. Cícero Azevedo sendo escriturária D. Carmosina Monteiro. Presente o Prefeito Municipal major João Cândido Zanani de Assis, proferiu a aula inaugural o Dr. Pedro Barbosa Pereira. (A Folha).

 

1949   Com a Catedral em reformas, a Semana Santa  é  realizada  no  Santuário de Santa Teresinha. Hoje é sexta-feira santa. (Taubaté Jornal).

____

Extraído das Efemérides Taubateanas, de José Cláudio Alves da Silva. Acervo Maria Morgado de Abreu

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