Não era só por 20 centavos

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Colaborou Amanda Oliveira Monteiro.

TAUBATÉ OCUPADA

quando os taubateanos foram às ruas

 

Estudantes convocam o povo de Taubaté;  10% da população nas ruas no maior protesto da história; aumento abusivo provocou manifestação;  Empresa fecha as portas na cidade; 25 dias de manifestações;

Não estamos falando das recentes manifestações que se alastraram pelo país. Tratamos, na verdade, de um evento ocorrido há mais de 60 anos, quando estudantes pararam Taubaté pela 1ª vez na História.

palas
Interior do Cine Palas

Declarando guerra

Em maio de 1952, a Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba anunciava reajuste no preço do ingresso de cinemas e o fim da meia entrada aos estudantes de Taubaté.

A Tribuna, 16 de maio de 1952
A Tribuna, 16 de maio de 1952

Na terça-feira, 13, alunos do Colégio Estadual Monteiro Lobato saíram às ruas protestando contra aquela decisão . “Queremos os 50%!”,  “Abaixo os Tubarões” eram alguns dos slogans entoados na passeata. O barulho foi tão grande, que as autoridades municipais ainda tentaram apaziguar os ânimos.  Irredutíveis, os estudantes declararam uma greve branca, deixando de freqüentar e tentando impedir a venda de ingressos nos cinemas da cidade. A greve durou 25 dias e teve momentos marcantes.

 

cinemasGreve cinematográfica

Entre os dias 13 e 16 foram realizadas passeatas pelas ruas da cidade. Dia a dia, a  causa ia conquistando mais apoio e participação popular.  Em duas ocasiões, dia 14 e 16, houve confronto com a polícia, tiros disparados e manifestantes detidos.

No sábado,17, um comício reuniu 6 mil pessoas na praça D. Epaminondas – mais de 10% da população de uma cidade com 52  mil habitantes. Agentes e viaturas do Dops cercavam o local.

Reagindo a pressão, a Cia de Cinemas encerra as atividades em Taubaté. Em protesto, os estudantes começam a exibir filmes ao ar livre. Três dias depois os cinemas são reabertos.

 

Adesão valeparaibana

O jornal O Estado de São Paulo publica editorial apoiando estudantes de Taubaté. Foi como combustível na fogueira.A greve branca ganhou adesão dos estudantes de  São José dos Campos. Lá, no domingo anterior às manifestações, o Cine Paratodos, administrado também pela Cia de Cinemas, havia vendido 3596 ingressos. No domingo pós-greve, apenas  77 pessoas foram ao cinema.

21maio52
A Tribuna, 21 de maio de 1952

Câmara quente

A Câmara Municipal parecia um caldeirão com vereadores perplexos ante a proporção que o movimento ganhará. No sábado, 31 de maio, 18º dia da greve branca, um novo comício estremece a D. Epaminondas. Convidada a falar, a deputada “caudilha de São Bernardo” Teresa Delta, acusa de “incompetentes e traidores dos anseios do povo”, indistintamente, delegado, prefeito, vereadores e o secretário de educação. A fala da deputada ecoa nos dias seguintes.

Na sessão de Câmara de 3 de julho, a deputada é chamada de cadela.  Editorial de A Voz do Vale incita repúdio contra a parlamentar: “Pode estar certa a deputada arruaceira, que se voltar em nossa cidade, Taubaté a receberá a  altura de seu merecimento, isto é, com vaias e pedradas” .

 

odeon
Cine Odeon

Nos dias seguintes, o movimento foi se esvaziando e, em 6 de junho, 25 dias após o início, a greve branca chegava ao fim. Atendendo ordens do governador, o secretário de educação do estado Antonio Costa mediou acordo entre estudantes e a Cia de Cinemas. “Considerando que as pessoas que nos tem apoiado vinham sendo alvo de infâmias; considerando que não desejamos constituir uma preocupação,(…) resolvemos suspender o movimento”, anunciava  comunicado dos estudantes enviado ao A Tribuna.

 

Não era só 20 centavos

Para A Tribuna, o preço do cinema foi pretexto para indignações represadas: “foi um movimento em que o povo, aproveitando o brado de greve dos estudantes, protestou contra a alta geral do custo de vida”. Para o jornal A Voz do Vale, “não venceu a Companhia de Cinemas, nem os estudantes, venceu o bom senso, venceu todo aquele que procurou conciliar situações e respeitar a ordem, a moral e os direitos do cidadão, e sobretudo as autoridades constituídas”.

61 anos depois, em plena revolução digital, os estudantes saíram novamente as ruas de Taubaté. Dessa vez 18 mil das 283 mil almas que habitam a cidade protestaram. Pouco mais de 6% da população.  Proporcionalmente, a manifestação de 1952 ainda não foi superada.

manifestacoes

Lista dos primeiros manifestantes:

Paulo José Ferreira Diniz; José Claro; Decio Pereira Mendes; Sergio Ferreira Diniz; Bento Vieira de Moura Neto; Gerdal de Almeida; Hélio Rossi; Othoniel Aranha; Dercy Andrade; Geraldo Matas; José Guido Canavezzi; Luis Carlos de Souza; Alair Veloso; Sergio Campelo; Artur Farros Blindão;  Benedito M. de Andrade Neto; Hélio Cembraneli; José Otaviano de Souza; Mário Roberto Kasniakaviek; Clodomir de Andrade Vidal; Luiz Gil M. Ambrogi; Eugênio de Camargo Leite; Paulo Augusto de Almeida; Nelson Barreto; Henrique Ruia Neto; José Cunha; José Varalo Maciel; Onofre Barreto; Rolando Ambrogi; Luiz Pinto Vieira; Roberto Corderelli; Quintino Brotero de Assis; Osmar Bustamante; Luiz Andraus; José Dirceu de Castro Carneiro; Moacyr de Alvarenga de Oliveira; Sebastião Simões; Jorge Santos; José Roberto de Castro; Benedito Rubens da Silva; Benedito da Silva Ayello; Wilson de Castro; Wilton Matias; Adonis Andrade Pereira; Carlos Gonçalves Dias; Marcelo Leal Barros; Jair Fernandes Labinas; Benedito Luis Moreira; Newton Barros; José Santos; João Chrisostomo; William Beni Bloch Teles; José Assis Berbare; Adalberto Giunta; Alcino Rezende de Souza; Francisco Santoro; Antonio Castro; Antonio Bento de Melo ; Guilherme Francisco Leite; José Jorge Machado; Jamil Alves; Daniel P. da Silva; Roberto Negrini Pastorelli; José Ribeiro dos Santos; José Geraldo Sevalvo; José Ribeiro Duarte; Angelo M. Salgado Medina; Liberato Sigaud; Elias Abifadel; Tácito Franco; Lúcio Toledo; Álvaro Mattar; Edward Ronconi; José Benedito Ribeiro Vilhena; Rinaldi Castelli; Antonio Francisco Gomes; Sérgio de Almeida; Francisco Sevalvo; José Roque Vilela; José Ely Miranda; José Leite Faria ; José Carlos Manara; Israel Guinsburg; Anibal Silva; Aderbal Moreira Hoff; Anibal Seiva; Antonio R.M. Abrad; Edson Moura; Alceu Prudente de Toledo; Wadih Assaf Sobrinho; Nagib Assaf Sobrio; Nestor Pastoreli; Helvécio Santos Pinto; Ivan Parreira; José Saturnino Santos; João Jacob Calil; Elieser Xavier; José Antônio Vilalta; Washington Jorge; Alvaro Barbosa Lima Neto; Lauro Vilela; José Antônio Monteiro Filho; Ottorino Panazzo Neto; Alvaro Mattar; Paulo Marins; César Augusto Eugenio Aranha; Wilson Galvão Maressi; José Leonídio Ronconi Arena; Luiz Carlos Lucel; Sidney Senes; Antonio Pereira da Costa; Wilson Gomes de Menezes; Adhemar Moyano; José Bonifácio Moreira Neto; Emerson José de Almeida; Adauto Siunta.

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Pesquisa realizada no acervo da Divisão de Museus, Patrimônio e Arquivo Histórico de Taubaté (DMPAH)

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