Símbolo de Taubaté ameaçado

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O tradicional pavão, símbolo do artesanato taubateano, vai perder o azul que o fez famoso internacionalmente. Nos próximos seis meses, poderão ser pintadas as últimas peças que seguem rigorosamente a palheta de cores adotada pela criadora da peça, a figureira Maria Cândida. Desde a criação, a peça era pintada com Pó Xadrez azul ultramar, que era misturado à cola ou goma-laca com um pouquinho de álcool. Em alguns casos,
algumas gotas de gasolina eram acrescentadas à fórmula. O resultado é uma cor única, que virou marca registrada por sua luminosidade e contraste. Foi com essas características que o pavão azul foi elevado a símbolo do artesanato paulista em 1979, ao vencer concurso promovido pela Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (SUTACO). A vitória da figureira da Imaculada projetou nacionalmente
o artesanato taubateano. Perigo a vista Desde então, o pavão azul passou a figurar em catálogos, ganhou reconhecimento internacional e tornou-se um produto de exportação. A peça tornou-se uma das marcas mais difundidas da cultura valeparaibana. Mas desde o início do século XXI, o azul do pavão está ameaçado. Em 2003, a revista Problemas Brasileiros, editada pelo SESC, informou que a fábrica Atlantis Brasil, que fornecia os pigmentos com a marca Pó Xadrez, foi adquirida pela Bayer, que tirou o azul ultramar da linha de produção. O pigmento deixou de ser fabricado em decorrência de problemas ambientais e por apresentar alto grau de toxidez, e foi substituído por uma nova fórmula, à base de ftalocianina. “O único tom de azul é esse”, afirma Eduardo Leite Santos, sobrinho e herdeiro da obra e das técnicas de Maria Cândida. Segundo o artesão, “o pigmento disponível no mercado descaracteriza a cor consagrada do Pavão. Imagine só eu figureiro vendendo pavão sem ter o azul[original]”, completa. Eduardo conta que conseguiu o último estoque de pó xadrez existente em Taubaté em um antigo depósito no norte de Minas Gerais. Comprou e dividiu com os companheiros da Casa dos Figureiros.

 

De figureiros a importadores 

A busca pelo pigmento criou uma situação inédita. Acostumados a exportar seus trabalhos, os figureiros apelaram para a importação de matéria prima. “Uma vez consegui da Colômbia. É engraçado. Imagina um
cara falando portunhol, me oferecendo pó. Se a Polícia Federal ouvisse, eu tava perdido”, brinca Eduardo. Em outra ocasião, um cliente que residia em Portugal enviou dois quilos do cobiçado pigmento. A Argentina também virou fornecedora de Taubaté. Segundo Eduardo, o atual nível do estoque de pó xadrez 
garante a produção de pavões azuis por no máximo seis meses. Por essa razão, o artista tem se dedicado a descobrir novas matizes cromáticas para recobrir as peças famosas. Pavões roxos, brancos e de outras tonalidades de azul estão sendo acrescentadas ao catálogo das figureiras. “Quem tem [pigmento azul celeste] comprou da Argentina, que é semelhante, mas aos meus olhos não é a mesma coisa, ou da Colômbia ou de outros lugares que eu não sei”, lamenta Eduardo. Para o multi-artista Décio de Carvalho Jr., membro da Casa do Figureiro, “seria importante preservar o tom exato do pigmento original que consagrou o pavão para manter uma certa legitimidade a arte produzida em Taubaté. Estamos escassos de valores e símbolos”. Para Armindo Boll, professor de História Regional do Departamento de Ciência Sociais e Letras da Unitau, “a tradição tem peso e é uma marca importantíssima na cultura dos figureiros. Não se pode deixar sair da tradição, é preciso buscar uma solução para esse problema”.  Enquanto não surge uma solução, continua a contagem regressiva para o fim de mais uma autêntica tradição taubateana.

(Leia também o texto também no Jornal Contato – http://jornalcontato.com.br/home/)

 

[box style=’note’] Link Revista Sesc Problemas Sociais – http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas_sesc/pb/artigo.cfm?Edicao_Id=150&Artigo_ID=2153&IDCategoria=2207&reftype=1&BreadCrumb=1  [/box]

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