A História de Taubaté por Emílio Costa

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Em 1901, o Dr. Emílio Costa lançou, no Jornal de Taubaté, uma série de textos sobre a história de Taubaté. Usou como referências documentos que chegaram às suas mãos e os dados estatísticos divulgados por Francisco de Paula Toledo, autor do primeiro livro de história de Taubaté. Em 1969, José Cláudio Alves da Silva, autor das efemérides taubateanas, compilou e divulgou esses textos, que agora são republicados aqui neste Almanaque. 

Jornal de Taubaté de 13 de setembro 1901

DIVISAS DO MUNICÍPIO

Confina este município ao Norte com São Bento do Sapucaí e Buquira pelo alto da serra da Mantiqueira; a Nordeste com o de Pindamonhaganba (nome indígena que quer dizer fábrica de anzóis) pelos rios Piracuama e Una; a Leste com o de Lagoinha; a Sudeste com o de São Luís do Paraitinga; ao Sul com os de Redenção e Jambeiro; a Oeste com o de Caçapava. As divisas com o município de São Bento do Sapucaí constam da lei provincial n. 2 de 23 de março de 1861; com o município de Pindamonhagaba, da portaria do governo de 22 de fevereiro de 1838 e leis provinciais n.os 7 de 9 de fevereiro de 1842, n.º 4 de 22 de março de 1851, n.º 24 de 3 de maio de 1854, n.º 12 de 18 de abril de 1863 e n.º 89 de 18 de abril de 1870; com o município de Buquira, das leis provinciais n.º 20 de 26 de março de 1866, n.º 29 de 23 de março de 1870 e n.º 149 de 26 de abril de 1880; com o de São Luís do Paraitinga, das leis provinciais n.º 25 de 18 de abril de 1853; n.º 49 de 12 de abril de 1865, n.º 22 de 19 de junho de 1867 e n.º 4 de 21 de fevereiro de 1870; com o município de Redenção, das leis provinciais n.º 3 de 24 de março de 1860; n.º 7 de 7 de julho de 1860 e n.58 de 28 de fevereiro de 1881, com o município de Caçapava, das leis provinciais n.º 30 de 28 de março de 1865 (? está dilacerado o ano), n.º 38 de 6 de abril (? dilacerado) de 1872, n.º 83 de 25 de abril de 1873 e n.º 4 de 13 de março de 1874; com o Jambeiro, das leis provinciais de n.º 52 de 10 de abril de 1872 e n.º 49 de 15 de abril de 1879.

COMARCA DE TAUBATÉ

                A Comarca de Taubaté tem os mesmos limites do município, exceto pelo lado de Redenção, para onde se estende compreendendo os limites deste município, parte integrante da Comarca, compreendendo com Paraibuna e Natividade, vide leis provinciais de 24 de março de 1860, 7 de abril de 1864 e de fevereiro de 1881. A Comarca é de 29 de outubro de 1700 apesar de se dizer ser 1805 ou 1806.

Concepção artística da Vila de Taubaté nos seus primeiros tempos. Arte de Paulo Camilher Florençano. Acervo DMPAH

VILA DE TAUBATÉ

                Em 1645 por alvará de 26 de dezembro foi aclamada em vila denominada de São Francisco das Chagas de Taubaté, por provisão de Francisco da Rocha e outros, (sic) o denominou de Antônio Barbosa de Aguiar, que era capitão-mor, governador, alcaide-mor e ouvidor da capitania de Itanhaém pela condessa de Vimeiro – D. Marianna de Souza Guerra (da nobre família dos Oliveira Gagos), donatária da capitania de Itanhaém. Posteriormente foi de novo declarada Vila a 5 de dezembro de 1650.

CIDADE DE TAUBATÉ

                Foi elevada a cidade a 5 de fevereiro de 1842.

                Medidas aproximadas do centro da cidade: da Igreja Matriz (centro da cidade) ao Convento de Santa Clara tem a distância de 3.450 palmos, ou 1.150 passos ou 759 metros; da Matriz ao Colégio Bom Conselho tem 1.900 passos, ou 5.700 palmos ou 1.256m isto é 1km e 256m; de modo que o que constitui o centro da cidade de Norte a Sul tem dois quilômetros e treze metros. Da Matriz à estação da Estrada de Ferro Central do Brasil tem 1.020 passos, ou 3.060 palmos ou 673m; da Matriz à bica do Bugre tem 500 passos ou 1.500 palmos ou 330m; de modo que o que constitui o centro da cidade de nordeste a sudeste tem 1 km e três metros. Reduzida a extensão a metros quadrados, tem o centro da cidade: dois milhões dezenove mil e trinta e nove metros quadrados: 2.019.039 m2. Esta medida foi tirada aproximadamente por não ter o autor na ocasião um podômetro por isso se limitou a contar os passos e reduzi-los.

                Altitude de Taubaté: Taubaté tem a altitude de: 586.270 m.

                Situação da Cidade de Taubaté: A cidade de Taubaté está situada a Nordeste da Capital, pouco mais de meia légua de distância da margem direita do rio Paraíba, e à margem esquerda do ribeirão denominado Correa a que também chamamos rio do Convento Velho, nas proximidades do lugar da cidade conhecido por este nome e virando para leste o riacho a que antigamente denominavam “Ipiranga” e que passa na praça Mons. Silva Barros. Está a 23’ e 4” de latitude sul e a 2’ 25” de longitude ocidental pelo meridiano do Rio de Janeiro. O Dr. Francisco de Paula Toledo dá em sua História do Município de Taubaté 48’ e 4” de longitude ocidental e a 22’ e 54” de latitude (medida do meridiano da Ilha do Ferro) e esta medida não tem muita exatidão, porque se meridiano pode variar, o equador é sempre o mesmo. O meridiano adotado para as cartas geográficas é o de Paris, de modo que tanto o da Ilha do Ferro, como o do Rio de Janeiro são impróprios para esse fim.

Trecho do Jornal de Taubaté de 13 de outubro de 1901. Acervo DMPAH

                Rios – O Paraíba que corta o município de Oeste para Leste e recebe o rio Una e os ribeirões: Gerybatuba, Pichoá, Moinho e outros.

                Distâncias quilométricas: Pela estrada de rodagem: Da capital 154 km; de São Bento do Sapucaí 49 km; de Pindamonhagaba 17 km; da Redenção da Serra 30 km; de São Luís do Paraitinga 48 km; de Caçapava 21 km e do Buquira 39 km. Pela Estrada de Ferro Central do Brasil – 342 – 320. Dista do Quiririm 9km; de Caçapava 22 km; de São José dos Campos 46 km; de Jacareí 63 km; de Mogi das Cruzes 105 km; de Penha 148 km; da Estação Norte 342 km; de Aparecida 45 km; de Guaratinguetá 50 km; de Lorena 62 km; de Cachoeira 78 km; de Cruzeiro 91 km; de Queluz 115 km; de Resende 152; de Barra Mansa 189 km; do Túnel Grande 253; da Barra do Piraí 235 km; de Belém 281 e da Estação Central 343.

                Dista de Pindamonhangaba 21 km, de Entre – Rios 324 km; de Barbacena 505; de Lafayete 589; de Sabará 709 e de Sete Lagoas 811.

                Média barométrica anual: média do calor: 21,9º

                Jornal de Taubaté de 22 de setembro, 1901

Taubaté representada pro Jean Baptiste Debret

HISTÓRIA DE TAUBATÉ

                A história de Taubaté e seu município, parte integrante do Estado de São Paulo, é bastante importante para aqueles que se interessam pelos acontecimentos históricos do Brasil e ao escrevermos algumas linhas a seu respeito, fazendo-o deficientemente, cremos prestar um serviço que o estado atual de adiantamento da população saberá valorizar e servirá de incentivo para penas mais adestradas o fazerem melhor. Pio IX ou o Cardeal João Maria Mostai Ferretti nasceu a 13 de maio de 1792, foi elevado a cardeal a 23 de dezembro de 1839 e ao Papado a 16 de junho de 1846. Foi sucessor de Gregório XVI eleito papa em 1831. Esta referência Pio IX é uma justa homenagem a esse Papa sob cujo governo universal nasceu quem escreve estas linhas, e por ter-se feito digno dela reconhecendo os méritos do ituano D. Antônio Joaquim de Mello – Bispo de São Paulo – e por isso elevando-o em 1857 à graça de Conde Romano, Prelado Doméstico de S. Santidade e Assistente ao Sólio Pontifício; e às honras prelatícias como Bispo do Maranhão ao coadjutor de Taubaté em 1865, o distinto filho da cidade de São Paulo P.e Antônio Cândido de Alvarenga, hoje bispo de São Paulo; coadjutor que foi do vigário de Taubaté e distinto taubateano D. José Pereira da Silva Barros, Conde de Santo Agostinho, pelos seus méritos de abolicionista na propaganda contra a escravidão, depois bispo de Olinda e bispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, nomeado para a primeira destas dioceses pelo papa Leão XIII que com ilustração e alto tino administrativo hoje dirige a Igreja Católica. Este Papa nasceu em 1810. Por instigações e mal informado este pontífice fez com que D. José, o justo, o apóstolo da caridade e da instrução, perdesse a diocese do Rio de Janeiro, sendo então nomeado D. João Esberard para Arcebispo do Rio de Janeiro e ficando D. José avulso até morrer, como melhor veremos quando tratarmos, em parte especial, deste grande brasileiro depois nomeado Arcebispo-Titular de Darnis.

                A comarca de Taubaté deve ter sido criada em 1805 ou 1806, pelos documentos judiciários encontrados em cartório pois que os anteriores já não existiam. A administração da justiça estava entregue aos Juízes Ordinários até mesmo depois que D. João VI em 1808 mudou a sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro. Nesta ocasião e nesta cidade foi felicitado por uma comissão de taubateanos e não só por isso, como por informações posteriores do desenvolvimento da Vila de Taubaté cujos nomes primitivos haviam sido: Itaboaté, Taboaté, Tabaté, Tahubaté e finalmente Taubaté, nome atual. D. João VI por alvará de 9 de outubro de 1817 resolveu substituir o Juiz Ordinário, na circunscrição jurisdicional das vilas de Pindamonhagaba, São Luís e Taubaté por um Juiz de Fora, tendo sua sede nesta cidade. D. João VI faleceu a 10 de março de 1826. Posteriormente à Independência ou melhor ao Império a 7 de setembro de 1822 ainda continuou assim a administração da justiça até a criação das Comarcas pela qual a de Taubaté estendeu-se até Bananal e Ubatuba. A 6 de maio de 1859 a Assembléia Provincial criou as três comarcas de Taubaté, de São João do Rio Claro e de Bragança.

Jornal de Taubaté de 27 de outubro de 1901

Análise dos documentos do Arquivo de Taubaté. Na foto José Cláudio Alves da Silva (autor das efemérides taubateanas), Lia Carolina Prado Alves, Ana Di Lorenzo e Maria Morgado de Abreu

ESTUDOS HISTÓRICOS

 (…) Na aclamação do Conselheiro José Bonifácio de Andrada para fazer parte e ser presidente do Governo provisório de 23 de junho de 1821 que precedeu o 7 de setembro de 1822 em que começaram a governar os presidentes das províncias, deu-se este incidente: José Bonifácio sobe à sala da Câmara acompanhado de imenso povo e ali lhes diz: senhores eu sou muito sensível à honra que me fazeis, elegendo-me para presidente da eleição do Governo Provisório que pretendeis instalar. Pela felicidade da minha pátria eu faria os mais custosos sacrifícios, até derramar a última gota de meu sangue. A resposta foi um grito geral – Viva o Sr. Conselheiro! Ele continuou: Esta eleição, senhores, só pode ser feita por aclamação unânime, descei à praça e eu da janela vos proporei aquelas pessoas que por seus talentos e opinião pública já por vós há pouco manifestado me parecem dignas de ser eleitas. Alguns cidadãos lhe disseram: “Senhor Conselheiro veja V. Sa. que nós não queremos no governo aqueles que até agora tem sido nossos opressores; e queriam personalizar quando ele os atalhou dizendo: “Senhores! Este deve ser o dia da reconciliação geral entre todos. Desapareçam ódios, inimizades e paixões. A pátria seja nossa única mira, etc”.

                Não significam estas palavras e estes incidentes que foi então que se consolidou a mudança do governo de Ribeirão do Carmo ou Taubaté para São Paulo? Não quererá dizer isso aquele “até agora”? Não provará isto que fizessem posteriormente substituição de papéis, correções de datas e de fatos nos arquivos do governo, então interessados, como os jesuítas, em tudo confundir? Deve esclarecer este ponto a representação da junta governativa de São Paulo de 24 de dezembro, pedindo ao Regente D. Pedro que suspenda a sua retirada para Portugal. Não verão aí os motivos desse pedido?

                O pedido do Regente D. Pedro para que o Governo Provisório de São Paulo mande auxílio contra a sublevação portuguesa do Rio, não seria uma astúcia com o fim de destruir os do Ribeirão do Carmo? Não se vê que Lázaro José Gonçalves recebeu ordem de organizar um batalhão que devia receber reforços dos regimentos das vilas do Norte em sua marcha para o Rio?

                A sedição do C.el Francisco Ignácio de Souza Queiroz, conhecida pela – Bernarda de Francisco Ignácio – não esclarecerá este ponto;? Não o esclarecerá a entrada em São Paulo do Marechal José Arouche de Toledo Rendon? Este terá vindo de Santos, como se diz, ou de Taubaté?

                Fatos todos estes de 1821. Quando a 1.º de maio de 1825 foi proclamado o regime absoluto em Taubaté pelo desembargador – Juiz de Fora – Manoel da Cunha de Azevedo Coutinho de Souza Chichorro, não teria sido porque Taubaté reclamasse então seu direito de ser a Capital de província?

                Não teriam emprestado a este desembargador intenções diversas das suas, com o fim de não atender às pretensões de Taubaté? Como é que se compreende um desembargador como juiz de fora de uma comarca, no regime da legislação desse tempo – 1825.

Jornal de Taubaté de 10/11/1901.

Planta de Taubaté em 1821, feita por Arnaud Julien Pallière.

                Não somos só nós a estranhar certos fatos históricos envolvidos em nebulosidades, já no relatório do Ministro do Império publicado no Jornal do Comércio de 8 de junho de 1870 se diz: “o exame da carta geográfica do Brasil e o conhecimento da topografia e dos recursos de cada província mostram quanto é irregular a primeira e grande divisão atual do Império.

   Estes nomes e estas datas, que se envolvem na história da Independência ou do Império do Brasil, interessa não só a este município, que se honra em ser o berço de Antônio Rodrigues Arzão, cunhado de Bartholomeu Bueno de Siqueira, a quem se deve o descobrimento de ouro no Brasil em 1693 nos Sertões de Caeté onde hoje existem as cidades: Marianna, Ouro Preto, Caeté, Pitangui, São João d´El-Rey, São José d´El-Rey e outras; que se honra com a denominação de terra dos bandeirantes e dos heróis: Dionísio da Costa, Capitão-mor sesmeiro, Thimótheo Correa de Toledo, pai dos padres Carlos Correa de Toledo, D. Frei Antônio de Santa Úrsula Rodovalho, Bispo de Angola e Bento Cortez de Toledo, o fundador de Caçapava, no Rio Grande do Sul, do herói Luiz Vaz de Toledo Piza, sargento-mor inconfidente da Revolução de Tiradentes, que se diz morto em Lisboa para onde se acredita remetido preso; do herói Padre Carlos Correa de Toledo Mello que se diz morto no desterro pelo mesmo motivo em Cambombe; do herói Bartholomeu Dias da Silva, também chamado Bartholomeu Bueno de Siqueira ou Bartholomeu Dias da Silveira, foi fundador da cidade de Mato Grosso, hoje Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso, em outubro de 1725 e da povoação de Goiás, capital do Estado de Goiás, em maio de 1726 esta foi elevada a Vila em 1736 com o nome de Vila Boa de Goiás; do herói Antônio Dias, fundador de Ouro Preto, ex-capital do Estado de Minas Gerais; do herói Thomé Portes, fundador da cidade de São João d´El Rei, do herói João Afonso Salgueiro, fundador da cidade de São José d´El Rey; do herói Dionísio da Costa, casado com uma neta de Amador Bueno, O Aclamado, fundador de Taubaté, capitão-mor sesmeiro que fez doação a Jacques Félix de uma légua de terras para a cidade; do herói Domingos Dias Félix, pai de Jacques Félix; este passa por ser o fundador desta cidade pelo fato de ter sido seu capitão-mor e pelo fato de ter sido procurador da condessa de Vimieiro – D. Mariana de Souza Guerra, donatária da capitania de Itanhaém e ainda por ter obtido do capitão-mor de Itanhaém Francisco da Rocha (será deste ou de Dionísio da Costa?) em 1636, provisão autorizando a penetrar no sertão de Taubaté, autorização confirmada em 1639 pelo capitão-mor governador Vasco da Malta (Motta) que determinou-lhe em nome da donatária que para rossio da vila tirasse uma légua de terra e que as sobras das terras concedesse aos moradores que viessem a se estabelecer na povoação; e como igualmente isto interessa ao Estado de São Paulo e à história nacional, não poderíamos nos furtar ao prazer de sua publicação.

Jornal de Taubaté de 24 de novembro de 1901


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