As garotas do TCC – Por Renato Teixeira

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Uma das conclusões definitivas a qual cheguei na vida é a de que sem o TCC talvez eu não tivesse sido tão feliz quanto fui em Taubaté.

Nunca olhei para o tradicional clube da rua das Palmeiras como um exclusivo local da elite taubateana porque uma das melhores coisas que a cidade fez comigo foi me manter a uma distância razoável de qualquer tipo de preconceito social.

No TCC vivi momentos inesquecíveis; curti como ninguém o nosso glorioso time de futebol de salão comandado pelo saudoso e inesquecível Gino Consorte e que, sob a maestria de Celinho e Mario Celso, o Marta Rocha, foi e será para sempre o maior time de futsal da história porque foi o primeiro a atingir o padrão de jogo que hoje vemos.

No clube, eu praticava esportes e era para lá que eu ia todos os dias para ler a Tribuna, na mesinha do corredor de entrada, e aprender com Cesídio Ambrogi, na sua gloriosa coluna “Samburá de Cipó Chumbo”, as artes de versejar.

E o que dizer do primeiro espetáculo musical que eu participei chamado de “Samba em Três Tempos”, montado por mim, o Hernani Shicker, Murilinho Mendes, regional do Carioca, Skema Um, o Romeuzinho Simi, meu irmão Roberto e com a apresentação de meu inesquecível primo Cícero Simonetti, um dos mais puros “Teixeira” que já existiram. Cícero era Filho de Bebé, irmã de Jacy, minha mãe.

O “Skema Um” era formado pelo Murilo Mendes ao piano, o grande Agostinho Arid na bateria e Mário Mendes, irmão de Murilo, no contrabaixo. Eu era apenas o cantor porque nunca fui músico suficiente para encarar meus três companheiros, todos eles artistas de alto nível e que me acostumaram a querer trabalhar sempre com os melhores.

Tínhamos também a retaguarda afetiva do mestre Walter Arid, o bandleaderdo maravilhoso conjunto de bailes OK, aquele que nos fazia dançar, e que, por ser irmão do Agustinho, olhava pra gente com muito carinho. O “Skema Um” tocava com grande competência no grill room nas chamadas brincadeiras dançantes. Ter participado de um trabalho de tão alto nível quando ainda morava em Taubaté, me enche de orgulho.

Foi também no TCC que num baile no mês de Junho eu fui com um summer emprestado do Toninho Abud, grande amigo de meu pai, e mal havia entrado no ginásio me confundiram com o garçom. Saquei que o traje não era adequado e dei meia volta. Hoje, pensando bem, concluo que entre nós, músicos e garçons, quase não existe diferença. Nossa missão é servir a todos aqueles que estão precisando de um pouco de lazer e bem estar.

No TCC assisti Lima Duarte com o espetáculo Opinião, vi e ouvi Nara que me deu seu endereço para que eu lhe escrevesse, (e eu escrevi) (e ela respondeu) (e eu tenho a carta até hoje) vi e ouvi Geraldo Vandré acompanhado pelo Quarteto Novo e ainda pude ver e ouvir aquele famoso  happening do Gil no salão nobre, numa linda manhã de domingo. Lá eu cruzava com Tony Campelo, mas não tinha peito de chegar nele, que já era um mito.

O mais interessante desse “tempo TCC” da minha vida, entretanto, não se resumia só nesses acontecimentos marcantes. O clube significa um momento da minha vida onde meus pais tomavam conta de mim, cuidando para que nada me faltasse.

Já era praticamente um adulto, mas não possuía talão de cheques e nem tinha que me preocupar com o custo de vida. Era tudo um mundo de delicadeza e bem estar. Eu era uma espécie de Sidarta caipira, um pequeno Buda protegido pela sociedade amável onde eu vivia. Eu podia delirar à vontade e foi isso que nutriu minhas vocações de compositor.

Quando compus a canção “As Garotas do TCC”, acredito ter conseguido representar poeticamente a leveza e o descompromisso existencial daquele momento onde tudo flutuava com graça e lógica.

As garotas do TCC

Não quero contar histórias
Se você diz que eu menti
E nem quero cantar moda
Se você não quer ouvir

Eu quero mesmo
É que a paz nos leve pelas mãos
E que o inverno
Não leve o verão
Na noite clara
A lua e as estrelas
Vejo um disco voador

A gente vive
Um universo imenso
De desilusões
E naufragamos nas opiniões
Mas uma coisa é bom esclarecer
Hoje beijamos bem melhor

Em Ubatuba
A gente era a sombra e a luz
Em Taubaté, a vida me seduz
Entre as garotas
Lá do TCC
A escolhida foi você

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Publicado originalmente na edição 361 do Jornal CONTATO

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